Por favor, diga que me ama! - Genmui

48 - Medo.

[Pov - Muichiro Tokito.]

Está chovendo, chove muito e ouço uma respiração ofegante ao meu lado, tento me mexer mas é como se eu não pertencesse à este corpo.

É como se eu não pertencesse à nada.

Não sinto minhas pernas ou meus braços, a única coisa que sinto é medo, meu coração acelera a cada segundo, enquanto procuro pelo campo de visão qualquer coisa que não seja a porta pouco mais à frente, e uma fornalha apagada.

Parece que estou em uma casa, mas não consigo me lembrar de quem é ou qualquer tipo de localização.

A respiração ao meu lado parece ser de uma mulher, eu quero me virar para poder observá-la, mas não consigo, a sensação de não poder mexer nada além das pupilas me deixa cada vez mais enjoado.

O barulho de um raio forte me faz fechar os olhos com força, sinto medo e mais medo. Arregalo os olhos ao ouvir uma voz extremamente familiar e parecida com a minha me chamando ao longe.

- Muichiro, Muichiro!

Não consigo identificar da onde vem, é como um eco que faz minha cabeça se dilatar em dor.

Tudo vai se escurecendo, a respiração ofegante da tal mulher para em um instante, e agora sim, acordo.

Chove lá fora e consigo ver isso da janela alta que tenho no quarto, okay, estou em casa. Consigo me mexer e confirmo isso ao colocar a mão contra a camisa de Genya que visto, apertando o tecido enquanto todo o ar parece fugir dolorosamente de meus pulmões.

Não consigo respirar.

Eu vou morrer.

- Mui? - Genya parece ter acordado, dormia antes ao meu lado e agora se senta, está tão assustado quanto eu, mas não consigo dizer nada. - Ei, Mui!

Suas mãos normalmente agressivas e brutas pousam lentamente sob meus ombros enquanto ele se coloca à minha frente de joelhos.

As lágrimas desesperadas descem por minhas bochechas quase como se fosse totalmente normal. A única coisa que consigo fazer é soluçar e fungar.

Tento me acalmar, tento manter o fôlego. Tenho a técnica da concentração total constante, aprendi isso há muito mais tempo do que posso me lembrar, isso já é totalmente normal para mim.

Mas por que agora está tão difícil?!

- Mui, respira fundo. - Genya me chama a atenção e joga o meu cabelo para trás dos ombros, tira minha franja da testa e também recolhe com delicadeza cada fio suado. - 'tá tudo bem, respira fundo. Eu estou aqui. Se acalma, meu amor.

Sei que ele diz palavras doces em um tom tão meigo quanto, sei que está tentando me acalmar, mas algo me atordoa, algo parece mudar toda a minha perspectiva sobre tudo o que conheço.

É impossível parar de pensar na mulher ofegante, no chamado daquele menino. Eu já vivi aquilo, eu tenho certeza de que não é a primeira vez que ouço coisas assim,

Eu tenho certeza de que não é a primeira vez que vivo isso.

- Muichiro, caralho, você precisa se acalmar, você não 'tá respirando. - continuo a ouvir a voz de Genya, mas não consigo reagir.

Aonde foi que eu ouvi isso? Aonde foi que eu vivi tudo aquilo?

Eu senti medo, muito medo, também queria vomitar e chorar descontroladamente, mas não conseguia mexer nem ao menos um músculo, a única coisa que parecia funcionar eram meus ouvidos, pupilas (que só alcançavam o que minha visão periférica podia captar), coração e pulmões.