Frieda precisou colocar todos os seus pontos em agilidade e destreza para garantir que o Haidu não passasse por ela e confrontasse Hansel. Ela se desdobrava em ataques consecutivos em pontos críticos e esquivava como uma ginasta habilidosa, os seus sentidos estavam totalmente atentos ao oponente, mas o fato dela estar conseguindo fazer frente a criatura sequer era o ponto mais surpreendente naquilo tudo. A cada golpe desferido, a cada desvio, a cada atrito, diante daquele oponente formidável, Frieda estava aprendendo, assimilando um conhecimento que só pode ser adquirido em combates reais, uma experiência que equivale a anos de treinamento, sem sombras de dúvidas a garota se tornaria muito mais forte em caso de sobrevivência a esse episódio. A garota apanhava, se erguia e revidava, entoava orações de atributo vento e suas chamas azuis iluminavam todo o ambiente vez por outra, tudo aquilo não durou dois minutos até que os demais se juntasse a ela, mas o tempo parecia ter desacelerado para que aquela luta pudesse ser contemplada.
Hansel ainda estava muito atordoado por conta dos últimos acontecimentos, mas resistia se apoiando em sua sede de vingança. O golpe que ele anteriormente desferiu em Bathild foi forte o suficiente para que a frágil garota não conseguisse se erguer, tudo que ela podia fazer era observar com apreensão a aproximação de seu carrasco.
O corpo de Hansel estava bem machucado, o rapaz sentia uma dor que atingia até mesmo os tendões e ossos, uma dor que transcendia a carne e chegava até sua alma, mas ainda assim aquela era a primeira vez em muito tempo que se sentia verdadeiramente vivo. A cada passo que dava, sua mente era preenchida por memórias que ele desejava muito poder apagar. Lembranças suas e de Bathild se divertindo como duas crianças inocentes, rindo alto, comendo e bebendo, cenas em que ele colocava Bathild em suas costas e iam até a cozinha roubar doces ou fugiam para o jardim quando ninguém estava olhando, memórias onde a menina lia algo para ele, sim... eles eram bons amigos. Hansel se questionava onde havia errado, se tudo aquilo não era culpa dele e se ele não poderia ter feito algo para evitar que a menina se corrompesse. Logo as recordações começaram a ser substituídas por memórias de quando seus pais estavam vivos, Hansel se viu indo buscar lenha com seu pai ou ajudando sua mãe na cozinha a noite, ela cantava e bela era sua voz, naquela época o menino se sentia tão grato. Não demorou muito para que as memórias fossem substituídas por gritos de desespero, mesmo frente a morte seus pais não tentaram revidar ou contra-atacar, eles apenas tentaram esquivar ou segurar o filho enlouquecido, sua mãe chorava e seu pai berrava angustiado, Hansel também chorava enquanto se movia como um boneco controlado por alguém perverso, ele tentava resistir enquanto seu pai o incentivava dizendo "seja forte, filho! Você consegue!", seu pai dizia a sua mãe para fugir, ele acreditava que precisava impedir que seu filho cometesse o pecado de ferir outras pessoas, sentia que era sua responsabilidade como pai, a mãe não conseguia obedecer ao pedido do marido, os amava demais para escapar sozinha,. O corpo do menino não se movia de forma natural, ele fazia movimentos que nunca tinha feito antes e isso desrespeitava os seus limites, seu nariz e ouvidos sangraram, ele sentia que seu corpo ia quebrar a cada investida que dava e no fundo ele desejava isso, já tinha esgotado toda sua força de vontade quando começou a implorar para que seus pais dessem fim a sua vida, mas que pais seriam capazes de matar o próprio filho? Quando seu pai finalmente foi superado e morto, o menino já começava a sentir o vazio e o peso do sangue em suas mãos, sua mãe já estava exausta, chorava pela morte do marido e pelo fizeram ao seu precioso filho. Após desferir um golpe fatal na mulher que o trouxe a este mundo, a força que o obrigava a cometer tal barbárie se foi, vendo que sua mãe ainda estava viva, ele tentou desesperadamente estancar o sangramento em seu abdômen, contudo, sua mãe, ciente da morte iminente, o abraço com o pouco de forças que restava e começou a cantar a música favorita do menino, na esperança de que a canção chegasse ao seu coração e o curasse, ela certamente lamentava por deixá-lo sozinho naquele mundo tão perverso, principalmente por ele ser uma criança santa. Hansel os viu perecer pelas suas mãos.
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Wanderfalke: A batalha contra os Haidu.
FantasíaQuanto vale a liberdade? A resposta é: depende. Para ganhá-la vale uma moeda de ouro, mas para perdê-la vale uma moeda de prata. Os mais éticos diriam que é absurdo, que liberdade não tem preço, ou ainda, que liberdade é direito de todos, entretant...