Não houveram grandes acontecimentos no percurso até terra firme, a solitude embalou o coração e a mente de Frieda levando-a e a trazendo de volta do passado em que os dias eram bons, assim como o vai e vem das ondas. Ao atracar no porto da província Anzen na Minato, a mulher desceu da embarcação sem rodeios, sua mente divagava sobre os acontecimentos daquela viagem e nesse momento, pela primeira vez, ela se perguntou como o bardo conseguiu permissão para deixar Weinrose. Frieda chegou a conclusão de que ele não conseguiu permissão alguma e que provavelmente teria apelado para algum de seus contatos a fim de fazer uma travessia clandestina, uma ação perigosa e ousada, ele certamente devia estimar muito sua cunhada para se arriscar assim. Enquanto se perdia em pensamento, Frieda sentiu um corpo se chocar contra o seu, entretanto, ela não saiu do lugar uma vez que não era qualquer coisa que seria capaz de derrubá-la, já a outra parte não teve tanta sorte.
Uma vez que voltou sua atenção para aquilo em que tinha esbarrado, a mulher se deparou com uma figura masculina sentada no chão, o rosto dele estava avermelhado e não dava para saber ao certo se era pela vergonha ou pela evidente embriaguez.
O homem, por sua vez, encarava a mulher que o olhava de cima com um rosto completamente inexpressivo, ele se encontrava em um misto de verecúndia e confusão. Pela sua expressão ele certamente estava se questionando como uma pessoa cuja diferença de estatura e força parecia tão clara poderia ser capaz de derrubá-lo com apenas um esbarrão nada intencional.
Eles ficaram se encarando por um tempo, Frieda analisava a possibilidade de ter se envolvido em alguma confusão tão cedo, porém, as roupas ou os modos da pessoa diante dela não delataram sua origem nem posição social.
O homem era belo, tão bonito quanto uma flor em seu auge, seu cabelo longo e sedoso brilhava, mesmo levemente bagunçado ainda não deixava de ser vistoso, ele possuía um tom de preto que Frieda nunca tinha visto antes, era tão escuro. O rapaz não parecia ter uma idade tão distante da de Frieda, ele era alto, se não tinha um e noventa chegava bem perto disso. A beldade possuía traços finos e pele bem cuidada, não tinha pêlos faciais, na verdade parecia não possuir qualquer pêlo se excluísse o seu longo cabelo. Ele trajava um haori que se alongava até abaixo da altura dos joelhos, também vestia haori himo e hakama em diferentes tons de cinza, calçava tabi na cor branca e trazia nos pés a sua zori. Só de olhar para ele, a mulher assumiu que tal pessoa nunca vivenciou dificuldades na vida e deduziu que ele ao menos não era pobre, mas ainda assim não conseguiu definir sua posição social apenas com tais informações.
As pessoas de passagem ou paradas nos estabelecimentos daquela área comercial já começavam a olhar para o homem como se o pegassem em um ato de desaire. Todas elas o julgam silenciosamente e o rapaz, ainda no chão, pareceu se encolher um pouco. Frieda decidiu deixar sua análise de lado e finalmente estendeu a mão para ajudá-lo a se erguer do chão.
– Eu lamento. – Disse ela. Sua fala soou arrastada e seu sotaque entregava o país do qual ela tinha vindo. Se sua aparência milagrosamente não delatasse que ela era estrangeira, a sua fala o fazia. – Estava distraída.
O homem agarrou a sua mão e Frieda não pode deixar de se surpreender ao sentir a presença dos calos, ainda que a aparência dele enganasse, suas mãos não mentiam, ele certamente era alguém que sabia empunhar uma espada e potencialmente dominava alguma arte marcial.
– Não. – Falou ele. Sua voz era grave, porém suave. – Eu quem devo me desculpar. Vergonhosamente bebi mais que o costumeiro, me valendo da minha alta tolerância ao álcool, e fiquei nesse estado deplorável. Nunca subestime os diferentes tipos de saquê do distrito vermelho. – Ele batia nas próprias roupas a fim de remover a poeira. – Meu nome é Shinkai Ryosuke, como você parece ter chegado aqui recentemente vou lhe dizer que Shinkai é o meu sobrenome ou o nome da minha família.
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Wanderfalke: A batalha contra os Haidu.
FantasíaQuanto vale a liberdade? A resposta é: depende. Para ganhá-la vale uma moeda de ouro, mas para perdê-la vale uma moeda de prata. Os mais éticos diriam que é absurdo, que liberdade não tem preço, ou ainda, que liberdade é direito de todos, entretant...