Capítulo LVI

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A vida é algo tão efêmero e a guerra é algo tão imprevisível, em apenas um momento até mesmo os mais fortes soldados podem simplesmente ser vencidos pela morte dentro de instantes. O pior de tudo é que não há lugar para o luto no campo de batalha, qualquer soldado ou guerreiro sabe disso, ainda assim, como ignorar e seguir em frente quando seu estimado irmão pereceu diante de seus olhos? Ralf urrou de dor diante da situação, como se parte de si tivesse sido arrancada, mas teve que cerrar os dentes e aguentar, teve que se conter em prol daqueles que ainda viviam, um a um ele viu os corpos de seus companheiros de guerra caído ao chão, sua estamina já estava no limite e seus sentidos lhe traíam, em sua última investida recebera um contra ataque violento, seu corpo cobrava o preço. Onde estaria Erna agora? Ele provavelmente se perguntava, a presença dela era aquilo que os permitia avançar sem medo, uma vez que os curava quantas vezes fossem necessárias. Com um dos seus braços arrancados e tendo perdido muito sangue ele se manteve consciente, graças a resistência natural de um desperto, de joelhos ele encarava as costas de Frieda, que tinha se colocado entre ele e o Haidu para defendê-lo.

- Recue! - Ordenou a capitã, mesmo sabendo que era um esforço inútil.

Ralf sorriu sem humor, a dor era tanta que seu cérebro tentava anestesiá-lo.

- Vou te dar uma abertura, você deve voltar pela floresta e avisar aos demais que precisamos de reforços. - Disse ela, seus olhos fixos na criatura que ainda brincava com alguns sobreviventes. Seu rosto trazia a feição de alguém entre o desespero e a fase de negação.

- Mande alguém em melhores condições. - Pediu ele.

- Eu estou mandando vo... - Ela já estava pronta para responder, mas ele a interrompe.

- Sabe que não vou resistir até chegar lá. - Entregou a ela um pouco de realismo. - Minha única chance seria o milagre de Erna aparecer aqui agora, mas dada as circunstâncias em que estamos eu espero que ela não se junte a nós nessa batalha.

- Ralf! - Ela não queria aceitar aquele fato doloroso. - Você tem que recuar, se ficar aqui morrerá...

As palavras amargam em sua boca.

- Não irei recuar. - Respondeu resoluto após olhar para o céu.

- Você vai! - Disse ela, suas palavras soavam autoritárias.

- Não faça isso comigo! - Ele levantou a voz. - O ferimento é fatal, não sou burro. - Disse o homem. - Não me deixe morrer como um inútil. - Era quase uma súplica, seu olhos lacrimejaram com as palavras e ele lamentou por saber que partiria sem poder dar a ela todo o amor que havia guardado para o dia em que voltassem para casa. Quanto arrependimento sentia. - Eu irei permanecer ao seu lado até o meu fim. - Expôs com firmeza. - Eu irei... - Estava se sentindo tonto. - Não me negue isso. - Pediu.

Frieda se manteve em silêncio. Sua oração que lhe garantia mobilidade fora do comum estava ativa e ainda assim não conseguia fazer muita coisa, várias de suas costelas estavam quebradas, orgãos internos avariados, ela estava encurralada. Ainda assim, avançou contra o Haidu brandindo sua Guan dao, golpeando com tudo de si, entoando oração atrás de oração, queimando cada gota de sua estamina, uma investida embebida em uma dor descomunal, uma dor que ia além da que sentia em seu corpo surrado. Ralf se colocou de pé e caminhou cambaleante para onde estava Hans.

- Use aquilo, vou protegê-lo com o tempo que me resta. - Assumiu a postura defensiva segurando sua lança com a mão que lhe restou.

- Mas Frieda... - Dizia Hansel, seu espirito vacilava diante do destino de seu irmão Ralf.

Wanderfalke: A batalha contra os Haidu.Onde histórias criam vida. Descubra agora