Capítulo LVII

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Aquela amável voz veio e desapareceu rapidamente,  por algum tempo Frieda sentiu toda a dor e tristeza que emanou dela, porém, todos os sentimentos contidos da mulher começaram a enfraquecer e se esvair, e antes que ela se desse conta do se passava consigo já estava se tornando uma com a sua dor e tudo que lhe restava era silêncio e agonia naquele vazio infinito. Frieda não despertou após a partida de Erna, algo nela gritava que estava sozinha agora e sem propósito para ir lá fora, então o pássaro de asas feridas se encolheu e se refugiou naquele lugar sombrio no qual ninguém o poderia entrar. Seu corpo estava curado, mas não há oração que cure os ferimentos presentes na alma, por isso Wanderfalke recolheu suas asas e fugiu da realidade dolorosa, fugiu do mundo que ardia lá fora. Contudo, o mundo não espera por você e enquanto o falcão peregrino se escondia dentro de si mesmo, o caos se instaura.

Devido ao desastre do plano falho, a humanidade se viu forçada a recuar, os Haidu ocuparam solo do reino de Weinrose na fronteira, mas em razão das Irmãs do Inferno terem recuado também, os Haidu não perseguiram seus inimigos e optaram por aguardar as ordens da parte superior da cadeia de comando. Em pensar que houveram aqueles que acreditavam que os Haidu não eram nada além de bestas movidas por seus instintos. Que piada.

A fim de saber o que tinha acontecido o Comandante Axel enviou alguns batedores para Wald von Grenze, dentre eles estava Ignaz, herói de Lichtblick tal qual Frieda e Hansel. O estômago do homem certamente se revirou diante do horror encontrado ali, sangue e vísceras já começavam a atrair moscas aos cadáveres espalhados, ele encontrou e reconheceu os corpos dos Irmãos de Frieda e não pode conter a tristeza por ter perdido pessoas de quem havia se tornado próximo, porém também foi atingido pela aflição ao pensar sobre o quão poderosas eram as criaturas que foram capazes de esmagar o pelotão de elite naquela proporção. Enquanto caminhava pelo que sobrou do campo de batalha, Ignaz encontrou alguém repousando ali alheia ao caos ao seu redor, sua respiração indicava que estava adormecida e não havia nenhum arranhão em seu corpo apesar das roupas em frangalhos e de estar suja de sangue. O Cavaleiro imediatamente chamou por ajuda e não pôde deixar de notar o brinco na mão da mulher, olhando o objeto ele se perguntou como a Cavaleira desacordada teria conseguido sobreviver, se ela havia sido poupada após adormecer ou se tinha caído depois de afastar os inimigos, também não deixou de considerar que Erna tivesse sua mão naquilo tudo, mas não a tinha encontrado nem viva nem morta para perguntar, mais tarde, estranhamente achou apenas suas roupas que haviam sido carregadas pelo vento para um ponto um pouco mais afastado .

Frieda foi movida para o quartel general e permaneceu alí por três dias, mas como não sabiam o que fazer com ela uma vez que não despertou por nada, a enviaram para a base na capital real, onde seria interrogada no momento em que acordasse. Por todo o caminho, na carroça de transporte, Frieda foi alimentada com líquidos na colherada, era limpa e trocada periodicamente por uma mulher não desperta que dedicou sua vida a servir na catedral de Kamelie e se ofereceu voluntariamente para auxiliar no quartel general, tal qual muitos outros não despertos que também se dedicaram ao serviço sagrado.

Durante os muitos dias que durou a viagem, Frieda permaneceu no reino da inconsciência, então ela não presenciou os olhares das pessoas lá fora, a desesperança e o medo que se espalhava. Dizem que boatos viajam mais rápidos que os cavalos mais velozes e certamente foi o que aconteceu, uma vez que uma multidão já aguardava em Kolibri quando o pequeno comboio no qual Frieda estava chegou.

As pessoas abriram espaço para que pudessem passar, mas não deixaram de clamar por informações, por confirmação da situação, seus questionamentos se uniram em uma confusão de vozes e nenhum deles foi respondido pelos Cavaleiros no comboio uma vez que essas eram as ordens a serem seguidas, obviamente se acendeu a ira do povo e os humanos fizeram o que sempre fazem em momentos difíceis: Procuraram a quem culpa. Eles já sabiam que a humanidade havia perdido uma vez mais, contudo, o fato de que o pelotão de elite tinha sido esmagado era o principal motivo de sua preocupação. Fofocas e inverdades foram rapidamente espalhadas acerca dos acontecimentos por trás da sobrevivência de uma única pessoa do pelotão.

Wanderfalke: A batalha contra os Haidu.Onde histórias criam vida. Descubra agora