No dia que antecedeu a partida de Frieda, seu amigo lhe convocou para que se reunisse com ele mais uma vez. A dupla caminhava pelas ruas da cidade despretensiosamente, conversando com naturalidade.
– Meu pai me disse que você tem o espírito de alguém que viu o pior. – Comentou Ryosuke após alguns segundos de silêncio, segundos esses em que ele a olhava atentamente de esguelha. As palavras saíram como um pensamento intrusivo.
Frieda não olhou para ele, nem tomou tempo antes de responder.
– O seu pai tem algum poder estranho? – Frieda estranhava como alguém aparentemente comum, tinha a habilidade de enxergar tanto.
– Não sei, essa habilidade que ele tem para ver as coisas é um mistério. Contudo, eu nunca vi ele errar.
– Deve ser bem útil considerando a posição dele.
– Ele diz que é terrível, falou que não é porque ele pode enxergar que poderá mudar algo. – Contou Ryosuke. – Bom... Eu quero te mostrar algo bonito, já anoiteceu, está quase na hora.
– Quase na hora do que?
– É surpresa.
O rapaz aperta o passo, o crepúsculo chegava com pressa, o céu alaranjado lhe denunciava, Ryosuke conduzia Frieda para a margem de um lago perto do centro da cidade. Naquele local, as pessoas personalizavam e ascendiam lanternas para os mortos, afinal, aquela era uma data na qual prestavam suas homenagens daquela forma. Todos os anos, em um dia especifico, ao anoitecer, as pessoas soltam as lanternas na água para que elas iluminem o céu refletido, ou soltam no ar e elas flutuam em direção ao céu.
– Apesar do seu bom trabalho, muitos morreram no último ataque. Não só para as vítimas do ataque, mas para todos aqueles que nos deixaram no decorrer do tempo. Nós acendemos para que eles encontrem o caminho de casa, ou que atravessem a ponte com segurança. – Explicou o rapaz. – Sei que essa é apenas a nossa crença, mas pensei que você poderia querer fazer algo assim para aqueles que você também perdeu. – Espere um momento.
Ryosuke deixa a mulher e vai até uma das barracas próximas, enquanto Frieda contempla o lago, o homem retorna segurando duas lanternas, uma em cada mão, e oferece uma delas.
– Aqui. – Diz ao entregar o objeto. – Essa é para as pessoas que você perdeu.
A jovem percebe que o rapaz manteve uma das lanternas para si.
– E essa? – Não conteve sua curiosidade.
– Essa é para as pessoas que eu também perdi, em especial a minha mãe. – Revelou, ele não conseguiu se conter por completo e deixou escapar uma rápida e sutil expressão de dor. – Bom... vamos acender. – Falou se agachando no chão. Contudo ele não se moveu mais, envergonhado percebeu que não tinha trazido nada para acender. – Vou procurar alguma chama. – Disse ele.
Ryosuke já começava a se levantar quando Frieda o interrompeu. Ela olhou em volta para garantir que as pessoas estavam com a atenção voltada para outras coisas, então se agachou perto do seu amigo e fez um gesto com a mão pedindo para que ele erguesse a lanterna, quando Ryosuke atendeu ao seu pedido, ela colocou sua própria lanterna junto a dele e posicionou sua mão espalmada debaixo dos dois objetos, então se concentrou pois não queria gerar chamas incontroláveis.
– Viratis! – Disse ela. Nesse momento um singelo e pequeno círculo sagrado surgiu entre a mão dela e as lanternas, então uma contida chama azul se acendeu no pavio delas. – Pronto.
Ryo olhou atentamente para as chamas.
– São lindas. É a primeira vez que vejo chamas dessa cor.
– Recomendo não tocar. – Avisou Frieda.
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Wanderfalke: A batalha contra os Haidu.
FantasyQuanto vale a liberdade? A resposta é: depende. Para ganhá-la vale uma moeda de ouro, mas para perdê-la vale uma moeda de prata. Os mais éticos diriam que é absurdo, que liberdade não tem preço, ou ainda, que liberdade é direito de todos, entretant...