Capítulo XL

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Frieda parecia não estar nem consciente nem inconsciente, ela vagava sobre uma linha fina e frágil em um ambiente escuro e completamente instável, daqueles que não se pode enxergar o que há abaixo e te mantém ansiosa todo o tempo com a dúvida do que aconteceria se você simplesmente se deixasse desequilibrar e cair. Ela não estava vendo o tempo passar, sequer percebeu quando a moveram para um canto da sala, as vozes das pessoas ao seu redor eram irreais e distantes, como se ela estivesse no interior de uma garrafa de vidro.

– O que vamos fazer agora? – Disse Wilbur. – Quem seria capaz de uma atrocidade dessas? – Ele estava com os olhos um pouco inchados e a pele perto deles estava machucada devido às incontáveis vezes nas quais tentou enxugar as lágrimas.

– Vocês realmente não fazem ideia do que aconteceu? – Erna parecia terrivelmente calma agora. – Não ouviram ou viram nada?

– Mas é claro que não, se tivéssemos ao menos desconfiado de algo ou esse lugar estaria cheio de moradores agora, vivos ou mortos. Não ficaríamos parados enquanto o prefeito é assassinado. – Falou o açougueiro. – Pelos deuses, eu sequer tive coragem de ir contar para Emilia. – Ele esfregou o rosto. – Não vejo uma grande comoção ou pessoas aqui, suponho que sou o primeiro que vocês chamaram.

– Nosso pai confiava em você, a tal ponto de lhe deixar saber quem ele era de verdade. – Disse Ralf. – Não sabemos quem fez isso, mas não pode ter sido humanos comuns. A arma de nosso estava longe, ele não teve tempo de chegar até ela e teve que lutar desarmado e sozinho, pelas marcas de combate deixadas indicam que havia mais de um, humanos e não humanos.

– Humanos se juntaram a Haidu para fazer isso? É isso que está dizendo? – Wilbur estava entre o surpreso e o horrorizado.

– Você certamente já ouviu boatos da existência de seitas, nela humanos se reúnem para cultuar as criaturas por diferentes motivos. – Disse Ralf.

– A alguns anos nós matamos não só um Haidu influente como também uma possível integrante da seita. – Expôs Erna. – Na época chegamos a temer uma retaliação, mas como isso nunca aconteceu acabamos deixando o assunto de lado e baixando nossas guardas.

– Vocês parecem estar certos de que foi a tal seita. Como tem tanta certeza?

– Por que eles deixaram um aviso. – Respondeu Erna. – Está marcado no lado externo da parede norte da casa, perto da cozinha externa, eles fizeram a marca da seita com o... – Ela era incapaz de dizer.

– Usaram o sangue dele para desenhar o símbolo. – Ralf disse e sua voz parecia querer fugir ao pronunciar as palavras.

Wilbur olhou para Erna e Ralf, ele estava surpreso com a força psicológica que aqueles dois estavam desempenhando, depois o homem olhou em volta e viu o estado de Frieda, "pobre menina, logo agora que finalmente parecia ter superado o passado e apreendido a ser feliz" – ele certamente pensou. Ao olhar mais um pouco ele viu Felix em um outro canto do cômodo, estava tão quieto que sua existência parecia prestes a desaparecer, o garota obviamente não estava sorrindo, ele estava sentado no chão, encostado na parede e agarrado aos joelhos, escondia seu rosto, mas ainda assim sua palidez era evidente. O rapaz experiencia mais uma vida com a qual ele se importa simplesmente escorre por entre seus dedos sem que ele pudesse fazer nada. Wilbur deixou seus olhos vagarem um pouco mais e perto da cozinha ele viu Leona sentada em um banco alto, ela tentava abafar o choro enquanto seu irmão Leon a abraçava fortemente, cerrando os dentes e engolindo o choro. Johann estava na porta da frente como um guarda, ele não sabia ao certo o que fazer, mas era como se instintivamente tentasse prevenir que o mal surgisse das sombras para levar mais alguém que ele amava, ele estava de costas e seu choro contido era quase imperceptível. Hans estava de pé no meio da sala, ele estava indo para algum lugar, mas a alguns minutos parou ali e simplesmente esqueceu que estava indo fazer alguma coisa, seguia no mesmo porto que parou olhando para o chão, segurando firmemente uma pequena escultura de madeira nas mão, era um macaco-coruja, símbolo de amor e cuidado parental, em especial o paterno, algo que representava muito bem a natureza de Heinrich, esse seria seu presente de aniversário.

Wanderfalke: A batalha contra os Haidu.Onde histórias criam vida. Descubra agora