Acordar com a luz do sol iluminando a face pode ser incômodo, teimosamente o feixe de luz passava pela fresta da janela e atingia o olho do homem, mas não foi aquilo que o fez despertar, até porque naquela terra que sempre chove a luz do sol é fraca. Começou com um som distante, quase como se estivesse sendo abafado pela fina barreira da subconsciência, ele ignorou o som como quem ignora um mosquito irritante, mas gradativamente foi ficando mais alto, era o som de pessoas gritando em desespero, pés batendo contra o chão em uma corrida desesperada, berros e urros, crianças chorando, homens e mulheres lamentando, objetos caindo, tudo estava tão frenético... o homem abriu os olhos e se sentou abruptamente. Fazia tempo que dormia tão confortavelmente.
O som não cessou, estava mais evidente, era como se o mundo lá fora estivesse desabando, era como sons de um campo de batalha e... era isso mesmo, pessoas estavam batalhando para sobreviver. O homem se colocou de pé, ele não precisava abrir a janela e conferir, sabia exatamente o que estava acontecendo. Apanhou seu sobretudo e vestiu, pegou sua bolsa e agarrou a menina apressadamente nos braços, ela ainda estava na exata posição em que ele a tinha deixado, eles precisavam fugir dali.
O homem já havia visto aquelas criaturas várias vezes em sua vida, estava habituado a enfrentá-las, mas planejava evitar confronto uma vez que reconhecia o quão difícil era combatê-las sozinho, principalmente porque dificilmente surgiam sozinhas. Ele desceu as escadas com pressa, correu para a porta sem pestanejar e deixou a taverna, ficar ali dentro não era seguro, os Haidu não respeitavam portas. No instante em que saiu teve que se esquivar de parte de uma carroça que veio voando do nada, em sua esquerda, no final da rua, avistou duas monstruosidades rasgando cada alma viva que surgia em sua frente, alguns pedaços eles comiam outros eles arremessavam para direções diversas. Algumas pessoas corriam, outras tentavam salvar seus filhos, país, irmãos e outros parentes das garras das criaturas, lutavam com pedaços de pau e davam socos, mas nada daquilo causava dano o suficiente para afastar as criaturas, tudo que conseguiram foi fazê-las sangrar um pouco e o sangue derramado apenas causaria mais caos.
As criaturas tinham dois metros de altura, eram quadrúpedes, as patas dianteiras eram curvas como ganchos e fatiavam como tal, seus olhos eram cavidades vazias em um rosto alongado como o de um lobo, chifres de touro adornava suas cabeças, eles era vermelho sangue e descarnado, as patas traseiras eram semelhantes a de cavalos, seus dentes estavam sempre amostra devido a ausência de lábios.
O homem começou a correr pela rua na direção oposta às bestas, para o sul, as pessoas corriam para o mesmo lado que ele, alguns caíam e eram pisoteados, sangue, carne e lama se misturavam, a chuva não cessava, crianças perdidas choravam à margem da multidão, procuravam por pais que potencialmente já estavam mortos. Ele chegou em uma bifurcação, já estava tomando o caminho da direita, para o leste, quando uma terceira criatura caiu em cima de um aglomerado de pessoas que corriam em sua frente, esmagando algumas delas sob seus pés e decepando membros de outras mais. Esta tinha dois metros e trinta, era bípede, sua cabeça é composta por oito lâminas pretas, quatro de cada lado formando algo parecido com uma planta, seu dorso é oval e braços longos e finos usados como chicote pendiam em suas laterais, um em cada lado, os braços bifurcavam na região na qual deveriam ficar os cotovelos, pernas finas e tortas sustentavam o corpo magro, a maior parte dele era da cor verde musgo.
O homem freou bruscamente e quase caiu ao ser empurrado pelos que vinham atrás, então ele saltou para a calçada da casa mais próxima, ela estava cerca de cinquenta centímetros acima do nível do chão, começou a correr pela calçada voltando pelo caminho que veio, desceu da calçada num pulo e retomou a corrida seguindo o caminho para oeste. A menina era leve, mas prejudicava sua mobilidade, é como carregar uma caixa grande feita de papel, é leve, mas não dá pra competir em uma corrida carregando uma.
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Wanderfalke: A batalha contra os Haidu.
FantasyQuanto vale a liberdade? A resposta é: depende. Para ganhá-la vale uma moeda de ouro, mas para perdê-la vale uma moeda de prata. Os mais éticos diriam que é absurdo, que liberdade não tem preço, ou ainda, que liberdade é direito de todos, entretant...