Frieda os liderou caminho de volta para casa, foi quando ela percebeu que Felix parecia perdido em pensamentos agora que tinha parado de chorar. Então ela se aproximou dele, vê-lo tão quieto era estranho, ainda que a situação contribuísse.
– No que está pensando? – Indagou.
O garoto despertou de seu devaneio e olhou para Frieda, sua expressão continha uma dor que não pode ser descrita.
– Eu estava lembrando da minha mãe. – Confessou ele. – Sobre as histórias que ela me contava.
– Pode me contar se quiser. – Frieda ofereceu seus ouvidos. Todos ali tinham passado por coisas terríveis, mas Felix era de longe o mais sensível deles, fazia parte de sua natureza ser assim.
A garota sentia que tinha perdido algo muito importante após se deparar com a cena bizarra quando chegou em casa, mas ela levaria tempo para descobrir o que tinha perdido. Por enquanto ela colocaria suas energias em garantir que nenhum dos seus irmãos perdessem isso também.
Felix olhou para o chão e depois para frente.
– Minha mãe costumava me contar histórias sobre uma heroína que foi prometida a um deus antes de nascer, ela teve uma infância trágica, perdeu os seus pais e seu irmão mais velho. – Contou o garoto. – A heroína, por muito tempo, acreditava que tudo era culpa dela e sentia rancor de si mesma, mas um dia, quando assassinaram a pessoa que a salvou e criou, ela direcionou esse rancor para outras pessoas, caçando e matando-os por vingança. A garota ganhou e perdeu muitas pessoas pelo caminho, quase se perdendo de quem era no fim.
– E então? – Incentivou Frieda.
– Diante da realidade dolorosa, ela se viu obrigada a entender que nem sempre tudo ocorre como nós queremos, que nem sempre pessoas boas serão recompensadas com o bem e que às vezes tudo o que podemos fazer é aceitar para então conseguir se reerguer e prosseguir. – Disse a ela. – Mas essa é apenas a versão que a minha mãe contava para mim.
– Você conseguiria simplesmente deixar de lado, aceitar e seguir em frente? – A garota perguntou para seu irmão. Ela queria compreender o que estava sentindo e entender se havia validade no seu desejo de se vingar. Queria entender se seu ódio era desproporcional ou se ela era algum tipo de monstro por se sentir assim.
Felix considerou um pouco.
– Eu não conseguiria. – Ele respondeu.
Frieda ficou um pouco surpresa.
– Por que, não? – Ela indagou.
– Acho que é porque eu sou humano. – Felix coçou a parte detrás da cabeça e deu um sorriso amarelo, mas o sorriso logo se desfez.
Aquela resposta foi intrigante da perspetiva de Frieda, como assim "é porque sou humano"? É assim que humanos são? De alguma forma o argumento fazia sentido para ela, seja pelo fato dela desejar que fizesse sentido ou por simplesmente ser assim que as coisas funcionam. A resposta de Felix apenas alimentou uma decisão que, em seu íntimo, Frieda já havia tomado.
O grupo finalmente chegou em casa, ela parecia fria e vazia apesar de eles estarem em oito, a ausência de Heinrich transformava o que era um lar em apenas mais uma casa.
– Eu vou fazer o café da manhã. – Se ofereceu, Johann.
Heinrich não permitia que os filhos pulassem as refeições, todos deveriam se sentar à mesa e aproveitar o momento em família. Era assim que as coisas deveriam ser.
– Eu vou te ajudar. – Leona foi atrás do irmão.
– Não! – Os outros disseram em uníssono.
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Wanderfalke: A batalha contra os Haidu.
FantasyQuanto vale a liberdade? A resposta é: depende. Para ganhá-la vale uma moeda de ouro, mas para perdê-la vale uma moeda de prata. Os mais éticos diriam que é absurdo, que liberdade não tem preço, ou ainda, que liberdade é direito de todos, entretant...