Voltar para casa é uma ação que traz sentimentos diversos, muitos buscam nesse ato a satisfação de finalmente poder descansar após uma longa e exaustiva viagem, é natural que o pensamento de "finalmente repousarei meus pés e cabeça" surja na mente de alguns. Contudo, também existem aqueles que veem no ato de voltar para casa um fardo ainda mais pesado que aquele de viajar sem descanso, principalmente quando partiu em grupo e se vê sozinho ao retornar, para pessoas como essas não há a sensação de "finalmente de volta ao lar" e sim a agonia de andar sobre cacos de vidro e pregos no caminho de volta.
O momento em que Frieda compreendeu para onde estava indo foi regado com sentimentos mistos e confusos, aquele era um caminho que a muito ela tinha planejado percorrer com satisfação e não com todo aquele amargor nos lábios e solidão. Talvez Heiko se sentisse mal por guiá-la até aquela situação, mas ele não conseguia deixar de pensar que era necessário para que ela pudesse colocar um ponto naquilo tudo, ainda que a pontuação fosse de reticências.
O cavalo trotava lento e conforme a dupla adentrava Gesteck, os moradores surgiam de suas casas e comércios para prestar suas condolências, aqueles que transitavam nas ruas abriam passagem, todos com o punho direito fechado pressionado contra o centro do tórax, quem usava chapéu teve a decência de retirá-lo da cabeça. Haviam aqueles que choravam e aqueles que tentavam segurar as lágrimas, ninguém ousava dizer uma única palavra, não havia festa, nem música, muito menos uma recepção calorosa, era como se estivessem em um cortejo fúnebre. Frieda seguiu montada, postura ereta e queixo elevado, trazia para a casa toda a honra e dignidade que depositaram sobre ela. Pelo canto do olho ela reconheceu Emilia e Wilbur, ambos choravam, mas o que lhe chamou a atenção foi a criança nos braços de Wilbur, aquela vista acalentou o coração de Frieda mesmo que de maneira ínfima.
O destino da mulher era um só, ela não retornaria para casa, uma vez que não concluiu aquilo que prometeu fazer ao deixar aquele lugar, então só lhe restava mostrar sua face aos seus familiares.
O cemitério estava como sempre, a estátua de Tod seguia zelando pelos falecidos naquele lugar. A mulher desceu do seu cavalo na entrada, o amarrou em um poste e caminhou sem pressa para o interior do local até chegar ao espaço onde tivera sepultado seu pai anos atrás. Frieda ficou estática diante dos túmulos limpos e organizados, sua Guan Dao em mãos. Benno teve o cuidado de sepultá-los da melhor forma possível, mas era evidente que os moradores se revezavam para mantê-los dignos, se é que existe alguma dignidade na morte. O túmulo de Heinrich também estava em boas condições.
A briza balançava as mechas soltas do seu rabo de cavalo, seus olhos sem brilho e vazios fitavam o túmulo à sua frente. O nome de Erna fazia seu peito queimar e o mesmo se repetia conforme ela ia passando de túmulo em túmulo até que parou diante daquele que pertencia ao seu irmão mais novo. Sua expressão apática, trazia a luz a face de alguém que morreu e desejava ter permanecido assim. Não havia lágrimas em seus olhos, mas elas escorriam como sangue sobre a sua alma. O clima estava frio, porém, Frieda podia sentir algo começar a fumegar dentro de si.
Em silêncio, a mulher fechou os olhos e tentou forçosamente voltar para aquele mundo nevado, ela queria revê-los, a saudade em seu coração era tanta que lhe afogava em um infinito de angústia, sem bordas nas quais pudesse se agarrar. Diante dos seus familiares mortos a garota sentiu o pleno vazio, mas aos poucos ele ia sendo preenchido com dor, tristeza e então ódio. Ela não podia se perdoar por arrastá-los para aquela situação com a sua imprudência e má sorte, sim, de fato ela estava convencida de que era realmente amaldiçoada.
– Eu tinha jurado para mim mesma que não perderia mais ninguém, que treinaria e me tornaria invencível para protegê-los. – Falou ao vento.
Ela sabia que meras desculpas não resolveria nada, que ajoelhar e implorar por perdão diante dos túmulos não ia adiantar. Cada palavra dançava com a dor em seu coração antes de deixar seus lábios.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Wanderfalke: A batalha contra os Haidu.
FantasiaQuanto vale a liberdade? A resposta é: depende. Para ganhá-la vale uma moeda de ouro, mas para perdê-la vale uma moeda de prata. Os mais éticos diriam que é absurdo, que liberdade não tem preço, ou ainda, que liberdade é direito de todos, entretant...