capítulo 80

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-E carro? Como vamos arranjar carro?

Ele pergunta quando nos sentamos a olhar já para a piscina cheia e tratada.

-A minha avó tem um carro na garagem, mas ninguém anda com ele, por issono não deve de funcionar.

-Eu posso mandá-lo arranjar.

-Ok...

Não estou muito interessada por isso nao me chateies.

  O jardim, a sala e cozinha agora até parecem decentes, mas ainda há mais algumas coisas para melhorar. Como por fotos e essas paneleirices...

-Estou com aquela sensação que não tomo banho á dois dias, e estou a adorar.

Afasto-me dele para dramatificar a situação e o nosso lado adolescente entra em ação.

-E se fossemos á piscina?

-O que? Tu na piscina?

Ele fala incrédulo e eu dou com os ombros, odeio piscinas e rios...e praia... isso é verdade, mas parece que consigo ouvir a água a chamar por mim.

-Vens ou não?

Atiro-lhe a minha t-shirt e começo a entrar na piscina de roupa interior.

-Vou..

Ele ainda nao acredita que isto está a acontecer.

Molho primeiro os pés e logo o contacto com a água fria faz o meu corpo estremecer.
Depois aos poucos molho-me até á cintura,  mas o Niall não espera muito e atira-se logo de cabeça.

Haja coragem para aqueles lados.

Quando ele volta a cima todo o seu cabelo está á frente da sua cara tornando-o ainda mais hilariante.

-Anda lá Jessy. Está tanto calor que a água parece quente.

-Não não parece.

Dou mais uns passos para me molhar aos poucos, mas o Niall já parece um golfinho a nadar de um lado para o outro.

-Tu gostas mesmo de água...

-Gosto mais de ti.

Ho boa!

-Ding ding ding ding... Esgotamos o nosso plafon de lamechice!

Ele avança sorridente até mim e põe os seus braços molhados e frios á minha volta.

-Vais nadar?

-Nop... Estar aqui já é muito.

-Mas Jessy! Isto é tão fixe!

Ele grita de alegria e deixa-se cair na água.

Parece um pato. O meu namorado parece um pato.

Dou mais um passo e agora a água está pelo peito.

A sensação da água no meu corpo ainda é estranha depois de tantos anos sem entrar numa piscina.
Para mim água era só na banheira, e mesmo assim, um duche rápido dá muito bem.

Os gritos da minha irmã no banco de trás do carro vêem como flashs á minha mente quanto tento afundar mais o meu corpo, eu paro e olho para a minha figura submersa.
Eu podia ter morrido naquela noite...se eu não tivesse aberto a porcaria da janela nós estaríamos mortas!
A falta dar e o desespero de não conseguir fazer nada é algo ainda muito presente...

Flashback on

-Fecha a merda da janela Maria!

A Joana está a fazer mais uma das suas birras só porque eu estou no banco da frente e ela no de trás.

-Está calor Joana! Eu não vou fechar a janela!

-Será que dá para se calarem um pouco? Vocês estão constantemente a discutir por coisinhas de nada!

A voz alterada da minha mãe acaba com os nossos ataques, mas a Joana não esteve calada por muito tempo.

-A Maria é sempre a menina bonita e a Joana a bruxa. Já sabemos...

Porque é que nós temos que ser irmãs?

-tu sabes que vocês são tudo para mim não sejas

-MÃE!!

Eu tento avisa-la, mas o outro carro já tinha embatido contra o nosso.

O carro é projetado a alta velocidade e os nossos gritos são calados por dores intensas.

Oiço os meus próprios osso a partirem, a atmosfera esférica do carro parece não acalmar fazendo com que a minha cabeça batesse contra o tabelier do carro umas cinco vezes seguidas.

A minha mãe tenta parar isso pondo a mão á minha frente e as mãos desesperadas da Joana agarram o meu cabelo.
Isto tem que ser um pesadelo...
Acorda Maria...acorda!

Não é um pesadelo e confirma-se quando a água começa a entrar por todos os lados tornando o carro num aquário.
Mas uma vez o pânico instala-se e os gritos voltam a aparecer.

-Mãe...

A Joana chora no banco de trás, mas a mãe não responde.
Atrevo a virar à cabeça, mesmo com as dores, e a a imagem da minha mãe ensanguentada e  inconsciente ativa todos os meus sentidos e sentimentos.

Raiva, confusão, perda, medo mas sobre tudo medo correm pela minha cabeça.

-Mãe! Vamos morrer!

A água não para de entrar, sinto o fim.

Eu não quero morrer!

-Maria! Sai pela janela!

A Joana abana o meu ombro para me tentar acordar, mas as dores são Demasiadas que nem me apetece salvar.

-MARIA!

O seu grito desesperado faz-me acordar e enquanto que tive tempo, tento puxar-la para o meu lugar.

-Sai porra!
-CALA-TE!

- JESSY! Jessy! Acorda Jessy!

A sensação de paz desaparece do meu corpo quando sou obrigada a voltar.
Os meus olhos abrem para encontrar a luz do dia e ao meu lado o Niall.

Já é de manhã?

-O...o que foi?

Tento lembrar-me de alguma coisa, mas a última cena que tenho na cabeça é estar na piscina a olhar para o Niall.

Como é que eu vim para a cama?
E já é de dia?

-O que raio aconteceu?

Tento sentar-me na cama, mas uma dor de cabeça impede-me.

-Tu desligaste Jessy. Voltou a acontecer.

Voltei a desligar?

Outra vez não por favor...

-quanto tempo foi?
-5horas.

Ele passa a mão na minha cara com leveza e afeto.

Desliguei por 5 horas... Da última vez foi quase 24 horas por isso, há melhorias.

-Eu revivi o momento do acidente. Uma e outra vez sem parar. Eu senti a água no carro, a minha irmã a gritar, a minha mãe inconsciente e ensanguentada..eu revivi aquilo e toda a dor voltou...

Tento esconder as lágrimas no seu peito e até tento voltar a dormir para tentar voltar ao mesmo estado de paz, mas não consigo.

-por favor tem calma.

Ele fala ao meu ouvido enquanto que me abraça protetoramente.

-Respira fundo...

Eu faço o que ele diz e aos poucos vou voltando a me deitar.

Agarro o tecido dos boxeres com força nas minhas mãos para ter a certeza que ele está aqui e que tudo vai correr bem.

Eu sinto vergonha de mim mesma nestes momentos e tenho a plena certeza que se este rapaz não fosse o Niall, já me teria chamado de maluca e deixado á muito tempo.








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