Capítulo 37

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Quando nós descemos para o primeiro andar eu faço um sinal e a corretora dos deixa sozinhos.
- Então, o que você acha?
Ele me olha, mas não fala nada.
- Eu gostei dessa, da segunda e da terceira, então você vai ter que decidir.
- Nanon...
Ele olha em volta e suspira.
- São casas muito grandes...
- E qual é o problema?
- Podemos achar casas menores.
Eu vou até ele e o abraço.
- Eu já falei que mudanças são estressantes, estamos comprando a casa que vamos viver para o resto das nossas vidas, então tem que ser uma casa grande.
- Mas não precisa de tudo isso só para nós.
- Não seremos só nós no futuro, Ohm, eu estou pensando a frente.
Ele me olha surpreso.
- Você... Nós... O que você quer dizer com não seremos só nós?
- Nós vamos ter filhos, não vamos?
Ele fica me olhando em choque.
- Você não quer ter filhos?
- Não. Quer dizer, não tenho certeza...
Isso me pegou de surpresa, eu sempre imaginei o Ohm sendo um bom pai, por causa do jeito que ele sempre cuidou de mim.
- Porque não?
- Você conheceu o meu pai, que tipo pai eu seria com o exemplo que eu tive?
- Você vai ser o pai que se preocupa, que cuida e está sempre por perto, vai ser o pai divertido, porque com certeza eu não vou ser, você vai ser o pai que vai abraçar quando os nossos filhos chorarem e vai ficar nervoso quando ver eles se machucarem, mas mesmo assim vai fazer curativos com o maior carinho do mundo. Vai ser o pai que cozinha e leva leite antes de dormir e principalmente, vai ser o pai que vai fazer de tudo para proteger os nossos filhos.
- Você acha?
- Eu tenho certeza, olha como você cuida de mim e da Lew, você acha que faria menos pelos nossos filhos?
Ele olha nos meus olhos e tenta assimilar tudo isso.
- Não.
- Então esse é o pai que você vai ser para os nossos filhos.
- Filhos?
- Eu nunca gostei de ser filho único, então vamos ter pelo menos dois.
Ele me olha ainda preocupado.
- Sabe que eu vou ser o pai problemático, não sabe?
Ele me olha confuso.
- Os ataques de raiva.
Ele dá risada e me beija.
- Você não tem ataques perto de mim, da Lew e da sua mãe, você acha que com os nossos filhos seria diferente?
- Não tem como saber, mas com você ao meu lado eu sei que vamos dar um jeito.
Ele me abraça e fica em silêncio.
- Vocês decidiram?
O Ohm se afasta, eu olho para a corretora e para ele, ele suspira e acena.
- Eu gostei mais dessa.
Eu sorrio para ele e olho para a corretora.
- Então vai ser essa.
Eu converso com a corretora sobre os detalhes do contrato e pagamento, como eu vou pagar a vista ela consegue um desconto e a cozinha montada sem custo, aviso que como o dinheiro está aplicado demora alguns dias para liberar e ela diz que é o tempo da documentação estar pronta. Depois disso nos despedimos e vamos embora.
Passamos no mercado antes de ir para a casa para fazer compras, com o tempo eu percebi que o Ohm gosta disso, de fazermos compras juntos, então eu sempre acompanho ele, aos poucos eu estou aprendendo a bloquear as pessoas, isso facilita bastante no controle.
Nós pagamos e saímos, o Ohm vai validar o ticket de estacionamento e eu vou para o carro guardar as compras, coloco o carrinho em um canto e entro no carro, não gosto de lugares abertos.
Olho o horário e já fazem 15 minutos que o Ohm foi validar o Ticket, mesmo com fila não deveria demorar tanto assim, então saio do carro e vou atrás dele.
O nosso carro ficou perto da saída, então eu tenho que dar uma volta no estacionamento, quando chego perto da porta eu ouço um grito, olho na direção e o Ohm está com a mão na barriga, curvado, três homens estão na frente dele, um homem segura o cabelo dele e puxa.
- Eu perguntei onde está o seu pai?
Ele dá um soco no Ohm e é o suficiente para eu sentir o meu corpo todo tremer, eu corro e empurro ele.
- Nanon, não!
Eu não consigo parar, eles me atacam e eu ataco eles, vejo um tirando uma arma e apontando para o Ohm e chuto ele, quando ele cai no chão eu começo a bater nele sem parar, o Ohm tenta me segurar, mas eu empurro ele, várias pessoas comecam a gritar e eu sou arrancado de cima do homem, ele está desmaiado e os outros dois estão caídos também.
- Me solta!
O Ohm anda comigo até a lateral de um carro onde as pessoas não podem nos ver.
- Se acalma, amor, respira comigo.
- Hei, vocês!
- Se afastem, eu preciso de um minuto. Nanon, se acalma!
Eu tento me concentrar para relaxar e escuto sons de sirene.
- Se concentra em mim, Nanon, só em mim.
Ele começa a inspirar e expirar no meu ouvido e eu me concentro na sua respiração.
- Foram eles que fizeram isso.
- Você está bem?
Eu não estou completamente controlado, mas já estou mais calmo, então eu aceno, o Ohm me solta e segura a minha mão.
Quando nos viramos tem um segurança apontando para nós e dois policiais nos olhando.
- Merda!
O Ohm me olha e aperta a minha mão.
- Fica aqui.
Ele vai até policiais e eu fico olhando, tentando me controlar, eu tenho que resolver isso, mas não posso ter outro ataque, fecho os olhos e tento bloquear tudo, quando estou melhor vou até eles.
- Vocês vão ter que nos acompanhar até a delegacia.
Eu olho para o lado e tem socorristas atendendo os três.
- E quanto a eles?
O policial me olha e eu aponto para baixo de um carro, eles estavam com armas nos ameaçando e nós vamos com voces?
- Nanon...
Eu olho para o Ohm e ele nega com a cabeça, mas eu não vou deixar isso do jeito que está, eu olho em volta e aponto.
- Eu quero as imagens das câmeras, antes de irmos e quero o meu advogado.
Os policiais se olham e chamam o segurança, pedem para verem as imagens e o segurança concorda.
- Esperem aqui.
Nós concordamos e o Ohm me olha preocupado, eu pego o telefone e ligo para o meu pai.
- Velho, sou eu.
- Aconteceu alguma coisa?
- Eu preciso de um advogado, você vai me mandar alguém de confiança ou eu pego o primeiro que encontrar na internet?
- Você pode só pedir com educação, garoto.
- Educação não funciona com você velho, eu preciso de um advogado e não vou te dar nada em troca, vai mandar alguém de confiança ou eu procuro na internet?
Ele suspira.
- Quão sério é o problema?
- Três pessoas feridas, uma mais que as outras, mas eu acho que são bandidos.
- Ok, vou mandar os advogados, onde você está?
Eu passo o endereço e ele fala que vai mandar alguém. Desligo e abraço o Ohm.
- Me desculpe por isso.
- Não é sua culpa.
Ele segura a minha mão, me leva até o carro, abre a porta de trás e eu me sento, ele se abaixa e fica segurando a minha mão.
Quinze minutos depois as ambulâncias foram embora, o cara que desmaiou foi levado e os outros dois estão com os seguranças, os policiais voltam e avisam que pegaram as gravações e pedem para acompanharmos eles. Quando estamos entrando no carro, dois carros param e quatro homens saem, eles vem até nós, o mais velho pega um cartão e mostra para o policial.
- Eu sou Rigs advogado deles, estou aqui para representá-los.
- Tudo bem, vocês podem nos acompanhar.
- Na verdade não, nós já conversamos com a gerência do mercado e eles explicaram o que aconteceu, os meus clientes são vítimas aqui, então se vocês quiserem podem pegar o depoimento deles aqui mesmo ou podem esperar eles se apresentarem na delegacia. Vocês já estão com as imagens das câmeras, precisam de mais alguma coisa para liberar eles?
O policial olha irritado.
- Compareçam a delegacia o quanto antes para prestar depoimento, o seu advogado vai orientar como será.
Nós concordamos e ele se vira, faz um sinal e o outro policial pega os dois caras e coloca no carro. O advogado se vira, sorri pra mim e me dá o seu cartão.
- Meu nome é Rigs, eu vou representar vocês.
Ele olha o carro da polícia e sorri pra mim, se aproxima e fala.
- Eu vi a gravação, você fez um estrago e tanto aqui, já pensou em aprender artes marciais? Vai ajudar a ter foco e melhorar as suas técnicas, mas vamos evitar pessoas com armas a partir de agora filho.
Ele aperta a mão do Ohm e a minha.
- Vão para a casa descansar, eu vou cuidar disso, sempre que precisar pode ligar direto pra mim.
- Obrigado.
- Não por isso, filho.
Ele faz um sinal e os outros entram no carro.
- Não esquece de me ligar se precisar e eu falei sério sobre artes marciais.
Eu concordo e ele vai embora, então eu me viro para o Ohm.
- Quem eram eles?
- Cobradores.
Eu olho sem entender.
- São capangas que cobram dívidas de jogos.
- E eles estão atrás do seu pai.
Ele concorda.
- Como eles te acharam?
- Não faço ideia, mas essas pessoas têm olhos em todos os lugares.
- Ok, quer procurar o seu pai?
- Não, isso é um problema dele, mas a polícia envolvida pode virar um problema para nós.
- Não vai, nós damos um jeito. Vamos embora?
Ele concorda e entra no carro, enquanto está dirigindo eu mando uma mensagem para o Jin, ele conhece esse tipo de gente, vai conseguir me ajudar a resolver isso sem envolver o Ohm.
Olho para ele ainda preocupado.
- Ohm?
Ele me olha e eu sorrio.
- Eu te amo!
Ele suspira e sorri.
- Fala de novo?
- Eu te amo!

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