Capítulo 50

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Ele segura a minha cintura e me puxa, eu seguro a sua mão e o seu ombro, a valsa começa e nos começamos a dancar.
- Você parece feliz.
- Eu estou...
Ele pensa um pouco e continua.
- Esposo.
Eu dou risada.
- Isso soou estranho.
- Marido?
- Estranho também, mas pode me chamar do que quiser.
- Tudo bem, Vizinho.
Ele me beija e me faz girar.
- Obrigado... Por ter convidado a minha mãe.
- Eu achei que você ia gostar de ter ela aqui.
- É bom saber que apesar de tudo ela se importa pelo menos um pouco.
Nós continuamos dançando pelo salão, a música termina e a minha mãe se aproxima e fica olhando, eu estendo a minha mão e ela sorri, vejo a Lew se aproximando e segurando a mão do Ohm.
- Guarda uma dança pra mim, Nanon.
Eu aceno e ela joga um beijo para mim. Seguro a cintura e a mão da minha mãe e começamos a dançar.
- Os votos de vocês foram lindos, Bebê.
- Não começa a chorar de novo, mãe.
- O meu bebê cresceu e está formando uma família, como eu não vou chorar?
- A sua maquiagem vai ficar manchada em todas as fotos.
- Aí meu budinha!
Ela toca o rosto com a mão, eu pego o lenço no bolso e limpo as suas lagrimas.
- Você está linda, só não chora de novo.
Ela concorda e voltamos a dançar.
- Você já falou com o seu pai?
- Ainda não, porque?
- Fale com ele filho, ele está velho, você não vai ter muito tempo mais com ele, um dia ele não estará mais aqui.
- Não se preocupe, mãe, o velho vai estar aqui em uma cadeira de rodas no casamento dos meus filhos.
Ela grita e coloca as mãos na boca.
- O que foi dessa vez, mãe?
- Você vai me dar netos?
- Esse é o plano. Mãe, eu falei para não chorar!
- Quando? Por favor, diga que vai ser logo.
- Não sei quando, mas não vai ser logo. Nós vamos começar a estudar e somos novos demais ainda. Em cinco anos no mínimo, provavelmente dez.
- Mas o seu pai...
- O velho vai estar bem até lá.
Ela suspira e não fala mais nada, deita a cabeça no meu ombro e fica só dançando no lugar, eu acho estranho porque ela não gosta de dançar assim, mas ela só está emotiva demais hoje.
A música acaba e antes da Lew se aproximar a mãe do Ohm se aproxima para a minha surpresa, quando ela chega perto a minha mão treme e eu dou um passo para trás, não tenho certeza se consigo me controlar com ela. Ela fica vermelha e olha em volta sem saber o que fazer, eu respiro fundo, me controlo e vou até ela, seguro a sua cintura e a sua mão, percebo que ela não sabe dançar, então fico apenas me movendo no mesmo lugar.
- Obrigado por ter vindo.
- Acho que eu devia isso para o meu filho.
- Você deve muito mais que isso, mas esse já é um começo.
Ela me olha assustada e depois irritada.
- Você não entenderia, não pode me julgar.
Sinto o meu braço tremer, solto a sua mão, mas continuo dançando, mais uma vez eu tento me controlar.
- É melhor não falar sobre isso.
Ela me olha e vejo o seu rosto mudando, a sua sobrancelha se levanta e ela me olha com nojo.
- Um riquinho nascido em berço de ouro, o que você saberia sobre a vida?
Eu respiro fundo, paro de dançar e dou um passo para trás.
- Eu sei o que eu vi. Eu vi uma criança que foi torturada inúmeras vezes, tantas vezes que mesmo tentando eu não consigo contar, eu vi um adulto com tantos traumas que eu não posso tocar nele quando ele está dormindo, ele sequer pode ir ao médico quando se machuca de tanto medo que tem.
Sinto o meu corpo tremendo, mas me controlo.
- Eu vi dor, abandono, sofrimento e negligência. Eu posso não saber muito sobre vida, mas eu sei tudo sobre a pessoa que eu mais amo nesse mundo.
- Vai embora, mãe!
Eu me viro e o Ohm e a Lew estão parados atrás de mim.
- Não, está tudo bem, eu vou dançar com a Lew agora.
Eu olho para o Ohm e ele continua olhando sério.
- Vai embora, mãe.
- Ohm...
- Lew, tira o Nanon daqui, ele precisa se acalmar.
A Lew segura a minha mão e entrelaça os dedos aos meus, ela me puxa e eu vou com ela, realmente eu preciso me acalmar antes que eu perca o controle.
- Você acha que consegue se acalmar aqui ou quer sair?
- Eu quero ficar de olho no Ohm.
- Ok, vamos dançar então.
Ela segura o meu ombro sem soltar a minha mão, eu seguro a sua cintura e começamos a dançar enquanto eu olho na direção do Ohm.
- Ela não devia ter vindo.
- É a mãe de vocês.
- Não Nanon, a visão de mãe que você tem é a da Ning, que sempre fez tudo por você a vida inteira, a nossa mãe é só uma mulher que as vezes estava perto, mas não fazia nada por nós e ainda nos culpava pela vida de merda que ela tem.
- Eu sinto muito.
Nós continuamos dançando e o Ohm sai com a mãe dele, eu penso em ir atrás, mas isso é algo que ele vai ter que fazer sozinho. Olho para a Lew e ela olha com raiva na mesma direção.
- Posso perguntar uma coisa muito pessoal?
- Claro.
- O Ohm tem várias cicatrizes, ele disse que você também tem.
Ela concorda.
- Você também tem medo de agulhas como ele?
- Não, com o Ohm foi mil vezes pior, o meu pai fazia em mim para me castigar, mas com o Ohm ele fazia porque gostava, ele sentia prazer em ver o Ohm sangrando. Ele nunca colocava mais de uma agulha em mim, no Ohm ele colocava várias ao mesmo tempo.
- Ele tem medo de hospitais por isso?
- Não, uma vez ele sofreu um acidente, se você pode chamar acidente ele ter sido empurrado pelo meu pai enquanto eles estavam descendo as escadas da escola quando o meu pai foi chamado para uma reunião por ele ter brigado. Ele quebrou uma perna e um braço, quando ele chegou no hospital o meu pai não contou sobre o medo de agulhas, então eles se aproximaram e ele lutou, várias pessoas seguraram ele e forçaram as injeções, ele ficou sedado quase o tempo todo que ficou internado, porque sempre tentava arrancar as agulhas dos braços. Depois disso a fobia dele ficou muito pior, foi um pouco antes do meu pai parar de fazer aquelas coisas.
Ela solta a minha mão e me abraça.
- Se acalma, Nanon.
Eu abraço ela e tento me acalmar. Vejo o Ohm se aproximando, ele passa a mão na cabeça dela, ela se afasta de mim e sorri.
- Eu vou procurar o Mark pra dançar.
O Ohm sorri quando ela sai e me puxa pra ele.
- E a sua mãe?
- Foi embora.
- Eu sinto muito.
- Tudo bem, todos que eu preciso estão aqui. Quer ir embora?
Eu penso um pouco e nego.
- É o nosso casamento e você nem falou com os seus amigos ainda.
Ele me olha por um momento e sorri.
- Eu te amo!
Eu beijo ele e digo.
- Fala de novo?
- Eu te amo!
Quando a música acaba a Jenny se aproxima e pergunta se pode dançar com o Ohm, eu respiro fundo, concordo e saio. Sento na nossa mesa e fico vendo a minha mãe conversando com o meu pai sobre a festa que ela quer fazer no Natal, quando a música acaba ela pisca pra mim, levanta e vai até o Ohm.
- Parabéns, filho!
- Obrigado, pai.
Ele fica me olhando como se quisesse dizer alguma coisa, mas não diz. Então olha para a outra mesa.
- Como que eles estão sem você?
- Eles vão se sair bem.
- Eu fiquei sabendo que você vai voltar a estudar com o garoto mal... Com o seu marido.
- Nós vamos sim.
Ele acena e fica em silêncio.
- Você comprou uma casa.
- Comprei.
- Não sabia que você tinha dinheiro.
- Eu investi.
- Muito bem. Vocês precisam de alguma coisa?
- Não.
Ele fica em silêncio novamente.
- Filho...
Eu olho para ele e mais uma vez parece que ele tem algo importante para dizer.
- Quando vocês vão trabalhar na empresa?
Eu olho para ele pensando em como responder.
- O Ohm acabou de ser promovido no trabalho dele, essa experiência vai ser importante para ele trabalhar na empresa, então talvez daqui um ano.
- Bom.
A minha mãe volta e senta ao meu lado e o Ohm começa a andar pelo salão.
O resto da noite foi tranquila, o Ohm não aceitou dançar com mais ninguém, provavelmente por minha causa, nós jantamos, eu fiquei com a equipe, dançamos mais uma vez e depois fomos embora direto para o aeroporto, quando entramos no avião o Ohm segura o meu rosto e me beija.
- Mal vejo a hora de começar a nossa lua de mel.

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