Capítulo 69

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Vou com o Ohm até a porta do escritório, ele me abraça e me beija.
- Tem certeza que não quer ir comigo?
- Tenho sim, a equipe de marketing já está acostumada com você e eu tenho uma consulta.
- Eu já volto, então.
- Eu vou ficar te esperando.
Ele sorri e me beija mais uma vez e sai, vejo o Perth e o Chimon pegando as coisas e acompanhando ele, aceno e fecho a porta.
Vou ao banheiro e quando volto olho o horário e já está na hora, ligo o computador e abro o link da sala que o Dr. Alm mandou no meu e-mail.
- Boa tarde, Nanon!
- Boa tarde, doutor.
- Aconteceu alguma coisa? Você nunca pede sessões extras.
- Aconteceu e não aconteceu. Não sei se o Ohm comentou durante as consultas dele, mas nós queremos ter filhos.
- Não posso comentar sobre as minhas conversas com ele, mas vou abrir uma exceção aqui. Sim, ele comentou e é tudo que vou dizer sobre ele.
- Tudo bem, essa não é a questão, na verdade eu estou preocupado.
Ele pega o tablet e uma caneta e olha para a tela.
- Com o que você está preocupado.
- Várias coisas.
- Vamos falar sobre cada uma delas.
- Ok, primeiro, nós decidimos não adotar, mas contratar um serviço de barriga de aluguel, vamos fazer por fertilização in vitro.
- Decisão comum hoje em dia.
- A primeira coisa que me preocupa é sobre a fertilização. Existe algum risco de sequelas no bebê por causa dos medicamentos que eu uso?
- Não, a terapia que você faz não afetaria o feto.
- Ok. E sobre o meu transtorno, é hereditário?
- Não existem informações precisas sobre a origem ou causa do TEI, não se sabe com certeza se é genético, mas veja no seu caso, nenhum dos seus pais tem o transtorno, mesmo assim você tem. Seria interessante fazer uma árvore genealógica para investigar, mesmo assim não é garantido.
- Entendi.
- Mais algum problema?
- Eu sei que o senhor não pode falar sobre o tratamento do Ohm, mas eu estou preocupado com a sua reação, e a minha também, se não der certo.
- Você quer dizer, em caso de aborto ou esterilidade?
- Eu não tinha pensado na segunda opção, mas posso acrescentar a lista.
- Isso é difícil de prever Nanon, o risco é real, não tão comum, mas real, acredito que a clínica que você escolher terá um acompanhamento psicológico, eu posso acompanhar todo o processo com vocês, passa os meus dados para eles e pede para entrarem em contato para eu entender como funciona.
- Tudo bem.
Eu fico em silêncio pensando no que mais dizer, parecia que era tanta coisa antes.
- Doutor, sobre o meu transtorno, o senhor acha que eu poderia colocar as crianças em perigo?
- Também é algo que não podemos prever, mas você tem um bom histórico com pessoas próximas e com o ajuste dos medicamentos, a terapia e a sua força de vontade, você melhorou muito.
- Não é melhor esperar então?
- Esperar pelo que?
- Eu melhorar mais.
Ele abaixa a caneta e junta as mãos.
- Nanon, você tem que estar ciente que o TEI sempre vai fazer parte da sua vida, você pode estar bem hoje e amanhã acontecer alguma coisa que te desestabilize e você perca todo o avanço que teve até agora, assim como os medicamentos podem parar de fazer efeito e vamos fazer todo o processo de adaptação de uma nova dosagem ou até mesmo outra medicação, isso pode ocasionar uma série de ataques. Esperar cinco ou dez anos não vai mudar isso. Então o importante aqui e saber se você acha que está pronto para isso, você está pronto para ser pai e ser responsável por outra vida?
Eu penso nisso e aceno.
- Então vamos fazer assim, antes de iniciar a fertilização vamos entrar em contato com a equipe de apoio da clínica e fazer algumas sessões com vocês dois juntos, conversa com o Pawat, nós vamos abordar o assunto na próxima sessão, eu também não posso falar sobre o que conversamos com ele, então eu recomendo que você conte para ele sobre as suas preocupações e descubra quais são as dele, a comunicação será essencial para vocês nessa fase e sinceramente pelo menos pelos próximos dezoito anos.
Eu concordo mais uma vez. Ele olha no relógio e para a tela.
- Infelizmente o nosso tempo acabou, tem mais alguma coisa urgente que queira conversar?
- Por enquanto é isso. Muito obrigado por me atender doutor.
- Sempre que precisar, Nanon. Tenha uma boa tarde!
- Boa tarde!
Eu encerro a chamada e volto a trabalhar. O Ohm volta, vem até mim, vira a minha cadeira e me beija, então vai pra mesa dele e chama o Perth e o Chimon para entrar, eles me atualizam sobre as campanhas que estão modificando para todas as nossas marcas, conforme sugerimos, eles têm um padrão de marketing, convencional e discreto, nos queremos tentar um abordagem mais jovem e moderna, vamos fazer com duas marcas por vez.
Depois do trabalho vamos para a casa para nos trocar e vamos para a faculdade, quando estamos chegando um carro para na nossa frente fazendo o Ohm frear a moto quase batendo neles. Ele se vira e olha preocupado.
- Você está bem?
- Estou.
Ele segura a minha mão, estou segurando na sua cintura e tremendo, ele leva até a boca, beija, quando paro de tremer descemos.
A porta do carro abre e aquele homem da gangue sai, deve ser o líder deles.
- Cachorro Louco.
- Vocês têm que parar com essa maldita mania de me chamar de cachorro louco.
- Como posso te chamar então?
- Não me chame de nada, eu não quero nada com vocês.
Ele acena e levanta a mão fazendo um sinal, a porta abre mais uma vez, um homem sai, vai até o porta malas e para a minha surpresa tira os dois alunos que me atacaram aquele dia.
- Eles me contaram o que aconteceu.
Ele coloca a mão no bolso e tira um daqueles alicates de poda de jardim e estende para mim.
- Uma dívida é uma dívida.
O Ohm me olha assustado, mas eu tento não reagir.
- Eu não preciso disso, só preciso que eles fiquem longe de mim.
- Mas o Jin.
- Eu vou deixar passar só dessa vez, na próxima eu vou querer uma mão inteira e não apenas um dedo.
Ele olha para os caras e para mim.
- Tem certeza?
Eu apenas aceno.
- Dessa vez a minha dívida com você aumenta garoto, porque aquele ali é o meu filho, obrigado por poupar ele. Dou a minha palavra que ninguém mais vai te incomodar.
- Eu já ouvi isso antes.
- Eu ofereço a minha própria mão se voltar a acontecer.
Eu aceno e ele sorri.
- É aqui que me despeço cach... garoto.
Eu aceno mais uma vez, ele entra no carro e vai embora, eu respiro aliviado e olho para o Ohm que parece assustado.
- Está tudo bem?
- Está, é só essa história de dedos e mãos... é assustador.
- Eu sei, sinto muito.
Eu o abraço e ficamos em silêncio, então me afasto e o beijo.
- Nós temos que ir ou vamos perder a aula, marido.
Ele sorri e me beija, arruma o meu capacete e o dele e vamos para a faculdade.

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