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Elain, na verdade, não contou algo muito importante para Lucien: ela nunca tinha ido até o centro da Corte Diurna.

Porém, lá estava ela.

Tinha feito uma torta para Vassa e Jurian, ajudado seu parceiro a se arrumar e após se vestir, se despediu com um beijo e seguiu seu caminho. Elain usava uma capa amarela suave, vestia um vestido branco com detalhes floridos e botas fortes, que combinavam com a cesta de compras.

Não demorou mais do que 20 minutos, e lá estava ela, na entrada da Corte Diurna, guardas circulando tranquilamente, apenas acenando com a cabeça para Elain, que passou por eles sem problema.
Apesar de realmente estar não muito longe do centro, as casas eram afastadas umas das outras, feitas de tijolos vermelhos ou marrons. Os muros eram baixos, de forma que alguém alto como Azriel teria pulado com facilidade, as portas e os portões de madeira, eram azuis, vermelhas, amarelas, verdes e de várias outras cores. Em alguns jardins, haviam árvores frutíferas, em outros, ovelhas andando tranquilamente e uma em especial, haviam 3 senhoras tricotando e conversado animadas.

Assim que virou uma esquina, chegou ao chão de pedra da cidade, as casas, se tornando mais altas e coloridas, com janelas grandes e abertas, os jardins diminuindo e as construções de andares variados surgindo. Ao lado das escadarias por trás desses prédios, por onde Aelin estava indo, possuía uma rampa ao lado, de forma que qualquer um com um carrinho ou uma cadeira de rodas poderia circular facilmente por ali.

Ao ir até o lado de dois prédios e emergir no centro sob um arco de flores, o fôlego de Elain sumiu.

A maioria das lojas possuía placas de madeira, outras, letrais nas vitrines com vidros limpos, as paredes bem cuidadas e haviam flores em todos os jarros a vista.
O chão era bem regulado, as pedras firmes dando confiança ao andar, as lamparinas altas agora apagadas. Pessoas circulavam, perto das passagens para carroças e carruagens, ao lado de uma grande fonte a direita, haviam barracas de comerciantes: vendedores de frutas, verduras, temperos, medicamentos, sedas e jóias.

Elain sorriu para si mesma ao lembrar que tinha direito o suficiente em sua cesta para comprar o necessário e as compras para o mês. Sorrindo, se aproximou e começou suas compras.

Sorrindo, falava, perguntava e após sair, deixava todos suspirando, encantado com sua presença. Logo depois de terminar tudo, se dirigiu até a banca de jardinagem, onde comprou novos jarros para duas vendas, que deveriam recomeçar o mais cedo possível.

Quando alguém esbarrou nela, ela se virou para pedir desculpas e sua boca se abriu.

- Você é linda. - Murmurou a fêmea para Elain.

Elain por sua vez, mal podia falar.
A fêmea a sua frente era tão bonita que era como se Nuala e Cerridwen tivessem se unido em uma. Era alta, negra, possuía longos cabelos escuros em tranças com detalhes dourados e vestia uma calça branca, justa na cintura e nos quadris, mas largas dos joelhos para baixo, o tronco estava exposto e a peça que cobria seu busto era amarelo, os sapatos em um tom creme.

- Como você se chama? - Perguntou a moça.

- Eu... Elain. Eu me chamo Elain...

Um sorriso grande e forte surgiu no rosto da mulher, que estendeu a mão para ela.

- Sou Alanthy, e preciso te dizer que sou uma pintora muito boa, e por isso, quero convidar você para ser minha musa por um dia.

Elain apenas a encarou, os lábios entre abertos. As feições da moça eram elegantes e ela falava com um sorriso, tinha a pele mais impecável que Elain havia visto na vida.

- Sei que pode parecer estranho, mas tem minha palavra de que sou confiável. Façamos o seguinte; vá comigo para minha casa, eu vou pintar dois quadros, um para mim e outro para você. Será algo completamente descente, certo e sem maldade, tem minha palavra. O que me diz?

Elain apenas observava aqueles olhos dourados como o sol, perdida no fato de que aquela linda fêmea lhe lembrava alguém.

- Você parece um pedaço de sol.

Foi tudo o que ela conseguiu dizer, e se sentiu patética por isso, mas, Alanthy apenas sorriu e riu, sua alegria emanando luz em volta dela.

- Você é gloriosa!

Alanthy deu o braço a Elain, que ainda hipnotizada a pegou a então, ambas seguiram para a casa da jovem.

Lucien atravessou de frente a casa de Vassa, observando todo o lugar.
A grande casa branca com varanda impecável jardins verdes, paredes altas e grama bem aparada. Lucien era grato por tudo que os amigos lhe tinham feito; o tinham acolhido quando não tinha ninguém, amaram ele quando nem mesmo ele se amou e tinham lutado por ele quando nem mesmo ele lutou.

Lucien olhou a cesta em sua mão e foi grato a Elain pela ideia de fazer uma torta para Vassa e Jurian, já que, segundo ela, o doce aliviaria o amargo da notícia.

Bom, para a surpresa de Lucien, ao entrar pelos portões e se virar, Vassa saiu de casa, chamando por Jurian e em seguida, correu até ele, o abraçando com tanta força que quase quebrou os ombros de Lucien.

O mesmo gemeu de dor, mas quando Jurian saiu da casa, correu até eles e os abraçou, com tanta força que os três caíram no chão, de joelhos.

Lucien gemeu, mas Vassa continuou chorando, o abraçando e Jurian olhou para o amigo, analisando seu rosto preocupado.

- Onde raios você esteve? Sumiu por dias e ninguém sabia de você!

Lucien sentiu a culpa o engoliu, seus lábios ficando secos e sua garganta gelada.

- Me desculpem, eu...

Vassa cobriu os lábios de Lucien.

- Não há o que ser perdoado, por você vai entrar e nos contar tudo.

Lucien sorriu, assentindo.

- Tudo bem.

Ambos levantaram com ajuda um do outro, todos com os joelhos machucados: ralados e sangrando. Assim que entraram, foram para o escritório de Vassa, onde se sentaram no sofá de couro, perto da porta, a vista da janela pegando as duas paredes por ficar em uma quina, os três conversando e ouvindo, gelo nos joelhos dos três.

Lucien, graças ao seu atraso, teve que contar detalhes para satisfazer a curiosidade de Vassa, que ria e o provocava com comentários sobre sua virilidade.

E quando finalmente contou o que mais ansiava, sentiu seu coração se despedaçar ao ver lágrimas caírem do rosto da Rainha.

- Vassa, por favor, não chore. - Pediu Lucien, sua voz com um agudo de desespero. - Eu ainda vou vir trabalhar, eu prometo. Sinto muito se deixei você sobrecarregada esses últimos dias...

A rainha o cortou com um aceno de mão.

- Não seja ridículo; você é tão organizado com a papelada, que tem mais dois dias livres. Estou chorando de alegria.

Ela enxugou as lágrimas inutilmente, porque continuaram a descer e ao olhar para ele, seus olhos brilhavam no tom azul cristalino.

- Estou feliz porque finalmente tem algo que é seu, e de mais ninguém. Evidente que vai continuar a trabalhar para mim, eu não viveria sem você.

Lucien sorriu, brilhando. A surpresa e a alegria dele só aumentou ao ver que Jurian também chorava.

- Jurian... Está chorando?

O homem enxugou o rosto e fungou o nariz.

- Não seja ridículo; eu sou um guerreiro forte, não choro. Eu só... Estou feliz por você, irmão.

Lucien sorriu mais e abraçou Jurian, a cesta indo para perto de Vassa que a abriu descaradamente.

- O que é isso?

- Torta que Elain mandou para vocês.

Vassa sorriu, pegando a torta, já cortada em pedaços.

- Agradeça a ela por mim!

O restante do dia foi maravilhoso; eram mais do que 16h quando Lucien atravessou em casa, a cesta agora com diversas coisas suas, uma mala sob o ombro.
Porém, para a surpresa de Lucien, sua parceira ainda não tinha chegado

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