Lucien havia sonhado pela primeira vez em anos, e havia sido estranho.
Nele, ele, sua mãe e uma mulher de rosto velho e olhos azulados estavam em uma roda de fogo, onde algo era preso dentro de Lucien, e após sentir duas marcas queimarem em suas mãos, ele acordou, sobressaltado.
Eram marcas pequenas, como se fossem marcas de agulhas, mas ainda estavam lá, junto ao sentimento de vazio dentro de Lucien. E por um momento, Lucien voltou a se odiar completamente, e pensar que ontem havia ido dormir sorrindo.
Havia sido um sonho?
"Claro que havia sido um sonho. "- Sua parte mais fria o rebateu com força.
Mas ele negou com a cabeça, passando as mãos pelo rosto e pelo cabelo.
Sua parte mais feliz, se recusava a negar.
Se recusava a pensar que sentir as bochechas de sua parceira havia sido apenas um sonho, e que toda a conversa na noite anterior havia sido um sonho.Por isso, assim que se recompôs da noite de sono e se manteve devidamente arrumando, foi até o quarto de sua parceira. Parando na porta, respirou fundo até bater na porta e ela se abrir.
Ao ver que ela já não estava lá, sem pensar, Lucien deu um paço para dentro e respirou fundo. O cheiro de terra molhada, lilases e sol tomando conta dos sentidos de Lucien.
- O que você está fazendo?
Lucien deu um pequeno pulo com o susto ao notar que Elain havia aparecido do nada, como um vulto de sombras.
Normalmente Lucien teria mentindo e respondido que nada, mas graças ao chá el não podia mentir e a resposta pulou de sua língua.
- Sentindo seu cheiro...
Elain por alguns instantes, observando as bochechas de Lucien corarem como verdadeiros rubis.
- Eu não sei dizer se isso é adorável ou esquisito.
Para a surpresa de Lucien, Elain apenas seguiu para trás de seu trocador e lá mesmo, começou a se trocar. As bochechas dele se tornaram mais quentes e seus pensamentos vagaram. Por vezes havia a imaginado sem roupas e por vezes, havia desejado que fossem mais próximos, mas agora que estavam se aproximando, Lucien não sabia o que fazer agora que tudo corria tão rápido.
- Não fique com vergonha. Eu só fiz isso porque você disse que nunca me atacaria, ainda não confio em você.
Lucien sentiu o coração doer e Elain respirou fundo.
- Foi cruel, perdão. Eu tenho tentado ser menos má, mas, é difícil quando eu sou tão má comigo mesma. Não é nada contra você, eu só parei de confiar nas pessoas em geral.
Lucien não sabia ao certo o que responder já que, o mesmo se encontrava sendo enganado e abandonado por quem ele amava desde que se conhecia por gente.
- E o que vamos fazer hoje? -Perguntou ele, tentando soar indiferente.
- "O que vamos?"? -Perguntou Elain.
- Sim. Imaginei que devíamos passar o dia juntos já que quero te conhecer melhor e você pediu para que eu ficasse...
Elain saiu do provador, usando um vestido branco enfeitado com pinturas de cerejas e usando botas que pareciam confortáveis.
Seu cabelo estava levado para trás em uma bandana. Todo o ar de Lucien foi embora ao ver o rosto dela, que o olhava diretamente.- Tudo bem? -Ela o olhou, quase animada.
Ele assentiu com um meio sorriso.
- Tudo sim e com você?
- Tudo, eu só não sei muito bem o que fazer quando você me olha assim.
- Assim como? -Perguntou Lucien.
- Como se eu fosse importante.
A boca de Lucien se abriu e se fechou, sem saber exatamente o que responder a respeito. Elain estava se tornando excelente em roubar palavras e pensamentos de seu parceiro, o que o deixava desarmando.
Elain o olhou dos pés a cabeça.
- Você precisa de outro par de botas.
Lucien olhou para suas botas, eram as mais novas que tinha, mas ainda eram um pouco desgastadas, e por isso, Lucien sentiu as bochechas ficarem vermelhas.
- Essas são muito bonitas para algo simples.
Após a explicação, Elain foi até o guarda-roupa da mesma, e tirou de lá uma caixa, de onde tirou um par de botas e as entregou para Lucien. Eram de seu tamanho exato e aquilo fez com que Lucien sorrisse, e Elain pode ver um feixe de luz atravessar o rosto de Lucien.
- São para mim?
Elain pensou por algum minuto antes de falar a verdade, e então respirou fundo ao notar que não tinha escolhas sobre falar a verdade ou mentir.
- Eu as comprei para você, mas não tive chances de dar.
Lucien a olhou como se ela estivesse esquecido de algo evidente.
- Solstício de Inverno?
Elain revirou os olhos.
- Eu não vou começar a falar sobre o quanto eu detesto que você só apareça uma vez por ano com um presente como se fosse me comprar.
- Essa nunca foi minha intenção e...
- Então qual era? Me dar algo caro e sentar comigo o resto da noite em silêncio?
- Bem, sim, na verdade.
Elain abriu e fechou a boca, agora também sem fala. Teve vontade de dar um tapa no parceiro e falar: "Mas que plano estapafúrdio! Não é assim que se constrói uma relação." porém, Elain não sabia como se construía uma relação de verdade, e por isso, tudo o que ela fez foi respirar fundo.
- Só, por favor, calce as botas.
Lucien se sentou e começou a calçar as novas botas, enquanto Elain saia colocando coisas em sua cesta. Uma sacolinha com moedas, uma tesoura, fita, um pedaço de pão que por algum motivo estava ali junto a uma garrafa com água e um caderninho.
- Deve me prometer que em caso de sinceridade extrema, irá me perdoar. Está bem? Não faço isso com tanta frequência como gostaria.
- E como tem sido até agora?
- Libertador. -Ela admitiu.
Quando Lucien as calçou e se colocou de pé, ficou feliz por sentir o excelente conforto das botas, seguiu o caminho junto a sua parceira, que após pegar outra cesta coberta no jardim, seguiu com ele até o centro de Velaris.
O centro estava movimentado, mas por ser dia, não eram tantas pessoas quanto no tradicional horário noturno, mas eram pelo menos 50 pessoas.
Apesar disso, a grande maioria sorriu e acenou para Elain, que sorriu e acenou de volta para cada um deles. Ela e Lucien estavam próximos, mas ainda sim, todos só acenaram para ela.
Elain havia respondido de forma gentil; porque como Lucien havia notado que Elain gostava de ser gentil, mas era claro que ela não queria estar ali.
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Corte de Luxúria e Segredos
FanfictionCom um erro tudo pode mudar para Elain Archeron e Lucien Vanserra. As vezes, tudo só precisa de um empurrãozinho, ou no caso deles, um pouco de esclarecimento. Após verdades serem ditas, amizades são celadas e parcerias aceitas, mas, a paz não dura...