47

72 7 0
                                    

Khalida estava totalmente diferente de como Lucien se lembrava dela, mas, era inegável que era ela. Mesmo apagada, ela ainda possuía aquele brilho nos olhos, os olhos castanhos avermelhados que tinha passado para todos os filhos, menos Lucien, que até então, não tinha notado a semelhança com o macho ajoelhado diante de sua mãe, que agora olhava para ele.

Lucien apenas sentiu os joelhos cederem ao peso de sua tristeza e tombou para frente atingindo o chão. Seus joelhos, ainda não recuperados doeram e só então ele se deu conta do quão exausto ainda estava, mas nada disso importou quando Khalida correu até seu filho e o abraçou, também chorando.

Tinham anos que Lucien não sentia aquele abraço e só ali, naquele momento, ele notou o quanto o queria.

Certa vez, conversando com Elain, ela disse: "Ninguém põe culpa como uma mãe", Lucien tinha passado tão pouco tempo com a dele, mas no caso dele, sua mãe não colocava a culpa nele, ela culpava ela mesma, e ele a consolava.

- Me desculpe. - Pedia baixinho. - Por favor, me perdoe.

Lucien também chorava quando segurou o rosto dela, confuso.

- Está tudo bem.

Ela negou, ainda chorando.

- Não, não está. Eu estraguei tudo! Eu menti para você e tirei de você uma chance de algo melhor! Eu fiz um feitiço para que seus poderes não escapassem mais claro que eu fui burra! Como eu não pensei que você também herdaria esse dom do seu pai?

Lucien negou, segurando as mãos de Khalida.

- Mamãe, do que está falando?

Khalida respirou fundo e então, começou a contar uma história para Lucien, história que contava para Eris e que agora contaria para o filho que mais tinha amado.

Quando Khalida era jovem, sonhava com uma vida melhor e não queria nada do que lhe aconteceu. Era apaixonada por Helion, e sempre o observava de longe, mas seu pai logo a vendeu para Beron então sua vida desabou. Ela era obrigada a se deitar com ele e a aturar todas as explosões da raiva que vinham dele e quando conseguia escapar para ver Helion, que até então não sabia de nada, voltava e era torturada, mas aguentava tudo em silêncio, isso se seguiu até o dia que Khalida chegou em casa e viu Beron agredindo Eris, e então, depois daquilo, ela foi trancada em uma torre e só era visitada quando seu marido queria.
Beron, com os anos descobriu da infidelidade de Khalida, e passou a tratar Lucien mal por isso, mas claro, a situação ficou bem pior para Khalida, que só veio conseguir o que mais queria, sua liberdade, agora, com a morte de seu primeiro, e junto a morte dele, pôde finalmente falar a verdade para seu amado e agora, para seu filho.

- Por favor, me desculpe! - Murmurou Khalida entre soluços. - Eu devia ter lutado mais, porém eu não consegui e falhei como mãe.

Lucien negou, a abraçando também chorando. Claro que não estava tudo bem,

- Não é sua culpa que tudo tenha dado errado. Eu só... Tive o último pedaço da minha alma tirado de mim ontem, porque Beron e o Grão senhor da Primaveril, tentaram matar o general da Corte Noturna, mas ao invés disso, mataram minha parceira e novamente, Beron me tirou algo.

Helion se aproximou com algo que lhe era raro, timidez e se pós ao lado de Lucien.
Lucien novamente agiu por algum sentimento descabido quando se jogou nos braços de Helion em um abraço, mas quando seu pai o abraçou de volta, ele soube exatamente o porquê. Os dois tinham mil coisas em comum, coisas não faladas e coisas óbvias: Os dois estavam quebrados, ambos tinham passado anos amando sem poder espalhar aquilo, tinham passado anos sofrendo por causas iguais, mas agora, Helion tinha sua parceira e Lucien tinha perdido a dele, e apesar disso, Helion tinha agora a coisa que mais queria no mundo, um filho de sua parceira, algo que Beron roubou, mas que voltou para ele.

Lucien não estava mais sozinho, e no que dependesse de sua família, nunca mais ficaria sozinho. Helion o abraçava de modo caloroso, como se todas as forças que Lucien precisava para seguir em frente, estivessem dentro daqueles braços.

Ficaram naquele abraço que mais parecia um lugar quente e acolhedor por alguns minutos, até que Lucien foi acordado de seu bom sonho por passos pesados e fortes.
Uma voz imperiosa de fêmea falava alto, chamando por um nome.

- BALTIZ!

Helion respirou fundo, um pequeno sorriso em seus lábios e encarou Lucien, enxugando as lágrimas do filho que não notou ter deixado cair, enquanto o pai ainda tinha o rosto molhado pelas lágrimas, assim como a mãe, que apenas olhava a cena, feliz.

- Tem alguém que quero te mostrar.

A fêmea olhou para baixo e Lucien a fitou.
Era uma fêmea bonita, com tranças nos cabelos escuros, olhos fortes e rosto firme, usava um roupão amarelo com ouro e tinha a postura de uma verdadeira rainha. Ela tinha a feição severa, mas sorriu ao ver Helion.

- Tio, não sabia que estava! Perdoe meu estresse, Baltiz foi fazer algo e já deveria ter chegado, estou nervosa.

- Alanthy, esse é Lucien, meu filho.

Lucien sentiu seus olhos se encherem de lágrimas novamente, mas apenas acenou com a cabeça. Ela desceu as escadas, olhando Lucien.

- Vejo que pegou a beleza da família, o que é excelente!

Dito isso, ela foi até Khalida e a ajudou a levantar, enxugando as lágrimas dela.

- Não faz bem a senhora ficar no chão. Quer comer algo?

Khalida negou, sem saber lidar com a gentileza que se tornou desconhecida com o passar dos anos.

- Onde está Luxy?

- Tentando distrair nossa recém chegada; ela está acordada, mas não quer comer enquanto o parceiro não chegar, mas isso depende de Baltiz, é claro!

Lucien a olhou, piscando confuso.

- Perdão, mas acredito que eu posso ser esse convidado. Eu cheguei a menos de uma hora e na verdade, não sei quem mandou me buscar.

Alanthy encarou o primo, os olhos brilhantes.

- Você é Lucien?!

Alanthy tomou o cuidado de não pronunciar o sobrenome, agora que entendeu as peças se encaixando.

- Sou. Como sabe?

Alanthy gentilmente soltou Khalida e puxou Lucien, o segurando com gentileza.

- Acho que sua parceira está lá encima.

Corte de Luxúria e Segredos Onde histórias criam vida. Descubra agora