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— Me conte querida, como anda a escola? — minha avó perguntou enquanto nós estávamos sentadas no sofá.

A escola vai bem, quem não vai sou eu.

— Ah, vai tudo bem por lá. — falei e minha avó me olhou com um sorriso.

— E você Isabel? Você vai bem? — ela perguntou e eu neguei devagar com a cabeça devagar.

Não adiantava esconder as coisas da minha vó, ela sempre sabia de tudo, me conhecia melhor do que ninguém para saber se eu dizia a verdade ou não.

Ela abriu os braços me convidando para me aconchegar nela, e eu claro, fui sem nem hesitar.

— Senti sua falta vó. — falei e ela fez carinho em meus cabelos loiros.

— Somente a minha? — perguntou e eu prendi os lábios.

— Não, eu também sinto falta dele, todo dia. — respondi me referindo a Kim e a mais velha fez um carinho em meu braço.

— Ah, querida, sei que é difícil, também sinto falta de seu irmão, da doçura dele, mas temos que seguir a vida Isabel, tenho certeza de que Kim tem orgulho de você, do ótimo trabalho que faz, do seu esforço, e da maneira como cuida de Esther, é formidável. — ela disse e eu sorri tentando afastar as lágrimas.

— Acha que estou fazendo um bom papel como irmã mais velha? — perguntei levantando um pouco a cabeça para olhar os olhos escuros de minha avó, que sorriu mais uma vez, ainda fazendo carinho em meus cabelos.

— Sei que está, boneca. — falou.

Ficamos conversando mais um pouco, sobre várias coisas, minha avó me deu conselhos ótimos, frases que eu precisa ouvir.

— E me diga, aquele garoto...ainda está namorando com ele? — ela perguntou e me segurei para não fazer uma careta.

Ethan? Ah, não, terminamos no final do ano passado. — falei e minha avó prendeu os lábios parecendo tentar evitar um sorriso. — Não precisa esconder o quanto ficou feliz com a novidade vovó, eu também gostei de ter terminado com Ethan, ele não era bom para mim no final das contas. — disse.

Minha vó comemorou levantando os braços com felicidade.

— Finalmente percebeu isso, Isabel, aquele garoto era um babaca. — ela disse e eu concordei

— Desculpe por não ouvir os conselhos da senhora antes, deveria saber que sempre está certa. — falei e minha avó apertou minhas bochechas de leve em um gesto carinhoso.

— Sem problemas, querida, você ainda é nova, vai viver muitas experiências, conhecer outras pessoas, e tenho certeza que vai conhecer um garoto que te mereça! Que não minta, nem use máscaras para fingir ser o que não é. A única coisa que a velha aqui não pode prometer é que você não irá sofrer, porque infelizmente vai querida, isso faz parte do processo, mudanças requerem disposição e nem sempre temos isso, mas tenho certeza que no final tudo vai se encaixar.

Ah vó, gostaria de ter a mesma certeza.

[...]

Eu não vou mandar. — falei largando o celular novamente em cima da cama e Esther me fuzilou com os olhos.

— Deixa de ser besta e manda logo, Isabel. — ela disse e eu arregalei os olhos. Essa garota tem mesmo 5 anos?

— Quando aprendeu a ser tão mandona assim?

— Só quando a minha irmã não quer mandar mensagem para um garoto bonito que não é o amigo dela. Vamos logo Bel, é somente um trabalho. — Esther falou me deixando surpresa mais uma vez.

Essa garota está parecendo muito uma adulta madura falando, e não sei se isso me agrada ou assusta.

Resmunguei, mas mesmo assim peguei meu celular novamente em cima da cama digitando uma mensagem para Lucas.

*mensagens on*

Isabel: oi, e então garoto rebelde? Vamos conversar sobre o trabalho.

Lucas: Ah, então a bonitinha resolveu mandar mensagens. Poxa loirinha, já estava chateado pensando que havia se esquecido de mim.

Isabel: não seja idiota, é claro que não me esqueci.

Lucas: Certo, direito ao assunto
então, quando vai vir a minha casa?

Isabel: Uau, isso que eu chamo de interesse para me ter na sua casa, já está com saudades?

Lucas: Garota, te vejo todo santo dia naquela escola, não tenho saudade nem dos que vejo uma vez por mês.

Isabel: Credo! Ah, vamos direto ao assunto então, amanhã eu deixo Esther em casa e depois vou até a sua, fazemos logo esse trabalho e assim eu posso ir embora o mais rápido possível, claro.

Lucas:  Como quiser, loirinha.

*mensagens off*

— Morreu? — Esther perguntou com deboche depois de me ver largar o celular com um sorrisinho.

Revirei os olhos pegando um urso de pelúcia e jogando em cima dela, que riu agarrando o mesmo.

— Engraçadinha, ainda bem que estou bem viva! — falei rindo.

[...]

Algumas horas depois eu estava mexendo no meu celular mais uma vez quando minha mãe chegou no quarto.

— Quer ir ao ateliê comigo hoje? — perguntou e eu ponderei a ideia me levantando da cama.

— Ah mãe, não sei...— falei e ela se aproximou mais de mim.

— Filha, por quê não? — perguntou

— Tem tempo que não vou até lá mãe. — falei e ela assentiu devagar.

— Bom, lembra que alguns anos atrás você amava, não era? Amava desenhar alguns dos meus vestidos para vender, ou melhorar alguns que estavam na vitrine, e você fazia um ótimo trabalho com isso. — minha mãe disse me olhando com um sorriso.

— Eu realmente gostava bastante. — falei

— Tem razão, bom eu vou me trocar e sair para a loja em 20 minutos, caso queira ir se arrume e nós vamos, tudo bem? — perguntou e eu assenti.

Minha mãe tem uma loja, um ateliê onde ela e sua equipe produzem vestidos de festas, noivas ou roupas mais específicas feitas à medida.

Ela trabalhava 3x por semana e eu amava ir junto, olhava admirada para tudo, era algo que eu realmente gostava de observar.

Mas na época em que Kim morreu minha mãe ficou tão mal que não foi mais ao trabalho, apenas deixava a equipe cuidando de tudo, raramente ia lá pessoalmente, só quando acontecia algo realmente necessário.

Então com isso eu também nunca mais fui lá, acabei deixando a moda de lado, e a vontade de ser estilista também, afinal eu não tinha vontade nenhuma de fazer coisa que eu gostava, muito menos de sentar em minha cadeira para desenhar os meus vestidos dos sonhos.

Depois de alguns meses minha mãe se recuperou e aos poucos foi voltando ao trabalho, ela me chamava algumas vezes, mas eu recusava todas, até que ela passou a não chamar mais.

Sempre gostei de moda, de me vestir, montar peças que combinam, escolher combinações e investir nisso sabe? Mas agora...não sei se depois de tanto tempo essa paixão continua sendo minha.

O último anoOnde histórias criam vida. Descubra agora