CAPÍTULO 1

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Dois anos após a morte.
Roma


Valeria Donati Villard


Desço as escadas, sentindo a minha dor de cabeça matinal. Estou usando uma camisola de seda fina na cor turquesa. A casa está em um perfeito silêncio, o que indica que o meu esposo não esteja aqui, talvez saiu muito antes, de eu ter acordado.

Passo a sala principal, vou andando em direção ao jardim. Vejo a mesa do café da manhã está posta e intocável. Isso só pode significar algo! O meu esposo não dormiu em casa mais uma vez.

O que realmente não interessa para mim. Desde que não faça nenhuma loucura, que possa arruinar os meus planos, ele pode explodir e se fuder sozinho.

- Bom dia, senhora. - Olho para trás, fazendo uma careta. - Espero não ter causado um susto na senhora. - Deu um passo adiante.

- Se eu não fosse tão bem treinada. - Suspiro, essa dor só piorava. - Provavelmente já havia uma arma apontada em sua cabeça. - Ele puxou a cadeira para que eu pudesse sentar.

- Aqui está o seu remédio. - Estendeu para mim. - A Leonor, está lá no quarto, o arrumado. - Olhou para mim atentamente.

Pego o copo de suco, após deixar aquele bendito comprimido em minha boca. Sinto o gosto amargo, odiando tanto essa maldita dor.

- Paolo, quero tudo perfeitamente arrumado. - Pego a tigela de salada de frutas. - Diz a Leonor, para abrir as cortinas.- Saboreio, sentindo o sabor doce. - Não quero aquele quarto abafado.

Há anos que, Paolo e Leonor, trabalham para mim. Muito antes de ter me casado, e voltar para esse inferno novamente. Eles são leais a mim, nem o meu esposo sabe tanto de mim como eles.

Eles presenciaram muita coisa da minha vida, e guardam segredos que nunca poderei dizer a ninguém, nem ao meu esposo.

- Tudo bem senhora. - Assentiu. - Posso me retirar? - Falou receoso.

- Sim, está dispensado. - Faço um sinal com as mãos, sem olhar para ele.

Um pensamento inusitado passa pela minha cabeça. Recrimino minha mente por isso. Tenho a certeza que vou me arrepender.

- Espere Paolo. - Falo antes que ele passe pela porta.

- Sim senhora.- Parou a uma larga distância. - Precisa de mais alguma coisa? - Moveu o seu corpo com as mãos para trás.

- Você sabe dizer-me se... - Fecho os meus olhos, arrependida pelo vou dizer. - Meu esposo voltou para ontem casa? - Sinto o peso de minhas palavras.

Não devia estar preocupada com aquele imbecil. Eu mesma quis assim, que ele ficasse afastado de mim. Não somos um casal convencional, ele é livre de fazer o que ele bem entender.

- Preocupada comigo querida esposa? - Ele surge, dando um tapa no ombro de Paolo, o assustando. - Está dispensado homem. - Sorriu irônico.

Mantive-me em silêncio, quando ele chegou mais perto puxando uma cadeira no meu lado esquerdo para sentar. Seus cabelos estão umidos, o que indica que saiu a pouco do banho. Está usando um dos seus fatos caríssimos, na cor azul escuro. Aspiro o cheiro do seu perfume amadeirado.

- Ainda com as dores de cabeça? - Observou o frasco na mesa. - Você precisa de um médico! - Balançou a cabeça, e serviu café para ele.

- Eu odeio médicos. - Falo rude, ele sabe perfeitamente que detesto quando toca nesse assunto. - Aonde você estava?

- Resolvendo algumas questões dentro do clã. - respondeu indiferente, bebendo o seu café. - Desde que eu assumi o lugar do Lúpus, tudo está piorando. - vejo seu corpo endurecido.

Devo reconhecer que ele tem se esforçado muito. Depois de tudo que aconteceu, ele sabia que assumir o lugar de Lúpus dentro do clã, seria perigoso demais para ambos.

- Quem a gente precisa matar desse vez? - Sorriu incrédulo. - Não quero ninguém, interferindo os meus planos.

- Não sei porque, ainda me surpreende. - Sua mão toca minha coxa, subindo lentamente. - Você é uma copia perfeita dele.

Os nossos olhares estão vidrados um ao outro. Suas pupilas dilatadas denuncia a sua noite em claro. Sua boca está entre aberta e lábios umedecidos devido ao café. Ele estava quase alcançado a minha calcinha debaixo do vestido, que apenas cobria até minhas coxas.

- Aramis Villard, se não retirar suas mãos de mim. - com o meu corpo inclinado, aproximo o meu rosto para si. - Eu juro que corto ela, e mando de presente ao meu querido sogro.

- Não sei o porque, de ter casado com você. - voltou ajustar o seu corpo no assento, retirando sua mão. - Deveria tratar melhor o seu marido. - Alerta.- Para que outras não o façam, por você.

- Acha mesmo, que eu me importo se você come outras mulheres? - Sorri degostosa. - Estou pouco me fudendo para os seus casinhos. - Faço menção de levantar, mas, ele segura o meu pulso.

Seu olhar de puro ódio. Algo que não causa em mim medo nenhuma. Eu vive muitos anos da minha vida, recebendo olhares e toques piores. Nada do que Aramis Villard, faça será pior do que tudo, que eu tive que passar para chegar até aqui.

- Tudo que estou fazendo é por ele. - Cuspiu suas palavras. - Você realmente não merece ser amada.

Suas palavras ácidas, causam lembranças inevitáveis em minha mente. Suspiro tentando controlar as lágrimas silenciosas que molham o meu rosto. Ele percebe o que fez e tenta tocar em mim, mas afastou-me.

- Valeria eu, não... - Limpo o meu rosto com a palma de minha mão. - Desculpa eu não queria dizer que...

- Nunca mas lhe darei o gosto de ver alguma lágrima minha Aramis Villard. - Aponto para si. - Espero que tudo isso termina logo, para que eu não tenha mais o desprazer de olhar para sua cara.

Ouvimos alguns gritos dentro da casa, e saiu rapidamente correndo para dentro sendo seguida por Aramis. Vejo Leonor descendo as escadas aflita com o rosto pálido.

- S-senhora Valeria. - Ando até ela confusa. - El-ele, senhora eu vi...

Não foi preciso ela dizer mais nada, sem olhar para trás. Subi as escadas desesperadamente ouvindo Aramis, chamando por mim. Corre entre o extenso corredor até ver a porta entreaberta.

Meu corpo estremeceu, quando dei um passo para dentro do quarto e olhei na direção da cama e vi o que meu coração anseia durante esses dois anos.

Minha perna fraquejou fazendo-me cair de joelhos ao chão. Minha esperança foi fortalecida, meu rosto é inundado por lágrimas.

- Mais que porra...- Ouço Aramis dizendo.

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