ARA COUTS BLANCHE
" O doutor disse para aumentar as doses. — Ouvi sussurros bem próximos ao meu corpo. Ela está recuperando a consciência aos poucos. — Era voz de uma mulher "
Eu não conseguia abrir os olhos. Meu corpo está imóvel sobre uma cama. Não sei a quanto tempo estou presa nesse lugar. Luto com todas forças para tentar mover-me e impedir que eles façam aquilo de novo.
Tento emitir ruídos em meus lábios, para chamar atenção. Mas, foi inútil pois eu sinto a picada no meu braço direito. Meu corpo vai relaxando aos poucos e uma lagrima solitária escorre pelo meu olho esquerdo.
Sinto o toque suave de uma mão que acaricia o meu cabelo, antes do meu corpo entrar em uma escuridão profunda.
Acordo sobressaltada apoiando a minha mão no peito. Puxo ar com força sentindo o meu peito sufocado demais. Faço um pequeno exercício de inspiração e expiração, recuperando aos poucos o folego. Meus batimentos cardíacos começam a ficar regularizados. Solto um suspiro de alívio, umedecendo os meus lábios. Passo a mão em meu pescoço, soltando alguns fios de cabelo calados por conta do suor.
Não posso morrer... Os meus filhos precisam de mim. Eu preciso encontrá-los...
Foi so um pesadelo... eu preciso me acalmar. — Acendo o abajur.
Os pesadelos tornaram-se recorrentes. Sempre que fecho os meus olhos, uma escuridão toma conta de mim. Inevitavelmente revivo todos aqueles pesadelos, múltiplas vezes.
As noites são os piores momentos porque eu sinto uma dor enorme. Uma dor profunda que consome o meu ser. Algo inexplicável, por sentir que a minha vida perdeu o sentido no dia que afastaram os meus filhos dos meus braços. Aurora...David.
Afasto o cobertor branco do meu corpo. Observo as horas e vejo que são três da manhã. Levanto da cama ...calçando. Prendi o meu cabelo que está longo demais e muito volumoso. O meu cabelo cresceu muito nesses últimos anos. Algumas vezes fico pensando se Aurora está com a mesma aparência que a minha.
Meus pequenos completaram seis anos há dois meses.
Eu lembro de ter feito um bolo. Não foi nada muito elaborado, mas trouxe a sensação de ter eles presentes aqui comigo. Soprei as velas, suplicando aos céus que eles estivessem bem e seguros aonde quer que estivessem. Desejando que esse fosse o ultimo aniversário que eles passariam longe de mim.
Vejo arma prateada por cima da cabeceira intacta. Fico olhando para ela alguns segundos, pensando que provavelmente nunca chegaria de a usar. Vesti a camisola de seda, sobre o vestido de cetim. Odiando o clima frio que estava em Paris. Mesmo a casa tendo um aquecedor. Não está sendo suficiente, nesta estação do ano.
Ando ate a porta do quarto, verificando se a mesma está devidamente trancada. Certifico que a mesma está trancada. Assim como havia deixado antes de ir dormir. Este quarto é espaçoso e sofisticado. As paredes são em tons pasteis bege. O que proporciona uma sensação de amplitude. Uma cama king size, um closet que nem cabe metade de minhas roupas. O banheiro é de alto requinte, assim como todo o apartamento.
Acho que nunca vou me acostumar a tanto luxo.
O apartamento está cercado por seguranças pertencentes a máfia. Bom, não só o apartamento, o edifício todo tem um sistema de segurança que me assusta. Para mim é difícil não me sentir enclausurada e vigiada o tempo todo. Mesmo que eles, dizem o contrário.
Aramis Villard e Salvatore Passeti.
Não confio neles. Mas, não tenho escolha. Acho que eu nunca tive desde o momento que aquele homem entrou na minha vida. Espero que ele esteja a sete palmos da terra, queimando no inferno o lugar que ele nunca deveria ter saído nunca.
Quando eu escolhi confiar em Aramis Villard. Foi uma decisão de risco. Um risco que eu me permiti correr para ter de volta a coisa mais importante da minha vida. Os meus filhos. Após ele salvar-me daquele lugar horrível aonde passei quase quatros anos da minha vida. Sendo drogada e aprisionada como uma doente mental. Minhas esperanças esvaziaram-se, sabendo que estava a merecer de quem fosse o responsável por eu estar naquele lugar miserável.
Minha memória sofreu grandes lapsos, desde aquele trágico o dia. A pancada que sofri na cabeça foi tão forte, que deixou uma pequena cicatriz em minha nuca. Recordo-me de ter despertado sobre uma cama, num quarto estranho. Minhas mãos estavam aprisionadas assim como minhas pernas. A minha maior preocupação não era o meu estado atual. Eu queria saber aonde estavam os meus filhos.
Não sabia se eram os inimigos do Lúpus procurando vingança ou simplesmente o Antonio Alleanza pela morte de seu sobrinho. Eles mataram Amelie friamente. Após ser capturada por aqueles homens não restava duvidas que a minha vida e a dos meus filhos estava por um fio.
— Se eles a mantiveram viva ate agora. — Fixou o seu olhar em mim. — Isso significa que os seus filhos também estejam vivos. — Meu coração aqueceu. — Eu vou encontra-los assim como eu a encontrei, eu prometo Ara Blanche.
As palavras de Aramis Villard, acenderam as chamas de esperança no meu coração. Tudo que eu mais precisava. Eu sabia que ele era um membro da máfia. Quando eu fiquei escondida na casa de Alessandro. Amelie dissera que o Salvatori, estava trabalhando com um homem para achar-me. Eu já sabia quem era o Aramis Villard, antes de o conhecer.
Aramis Villard, ainda é um mistério para mim. Ele ensinou-me a tirar e deu-me uma arma. Segundo o mesmo, situações imprevisíveis poderiam acontecer e precisava estar preparada e depender de mim mesma.
Ele contratou alguém para cuidar da casa, para que eu pode-se sentir-me confortável. Raros foram os momentos que ele esteve neste apartamento. Mas, eu sabia que ele estava vigiando cada passo meu.
Não tinha intenção de fugir, enquanto não encontrar os meus filhos. Não tinha um plano elaborado para quando o momento chegasse. Simplesmente confiava em meus instintos e seguiria os mesmos até ao final.
Ando ate a cama e sento na beira da mesma. Faz alguns dias que Aramis Villard, não deu sinal de vida. A ultima vez que falamos ele informou que estava seguindo uma vista certa, que levaria ele no ponto final de tudo.
— Espero que tenha encontrado os meus filhos, Aramis Villard... — Sussuro.
Meu corpo fica em alerta quando ouço passos fora do quarto. Alguém gira a maçaneta da porta do quarto forçando para abria. Levanto rapidamente e pega a arma na cabeceira, e afasto o máximo que consigo.
O que merda está acontecendo?
Tendo suas tentativas falhas. Dou um salto pelo estrondo, quando atiram contra porta. Um pontapé forte derruba a porta. Meus olhos levantam aos poucos para olhar na direção da mesma.
— Não pode ser... — Aperto arma em minhas mãos. — Não... não... — Minha voz falha, ao ver a figura diante de meus olhos.
Meu corpo paralisou e minha mente entrou em transe. Um arrepiou atravessou a minha espinha, causando calafrios em mim.
— Ara Blanche! — Disse esboçando um sorriso diabólico em seus lábios.
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CONTRAVENTOR "O Ajuste de Contas"
RomanceSegundo livro da estória "CONTRAVENTOR " Para entender o segundo livro, é necessário ler o primeiro livro. Que está disponível aqui no meu perfil.