ARA COUTS BLANCHE
Sinto a dor latejante na minha nuca. Abri os olhos despertando do que parecia ser um sono profundo. Minha visão se acostuma com a claridade aos poucos. Meu corpo está debaixo de um cobertor leve.
Estou deitada em uma cama, muito confortável. Minha cabeça está repousada sobre travesseiros. Não estou morta! Ele não me matou...
- Finalmente despertou, Ara.
Uma voz aguda diz, fazendo-me dar um sobressalto. Sentando na cama afim de ver aonde estava.
Deparo-me com uma mulher sentando em pequeno sofá que está alguns metros da enorme cama. A uma pequena mesinha ao lado. Um buleiro de chá está perfeitamente arrumado, com apenas uma xícara servida. Ela olhava para mim, inquisitiva e expectante, como se fosse não acreditasse no que estava diante de seus olhos.
Suas pernas estão cruzadas, seus braços estão inquietos tentando ocultar seu nervosismo. Ela é morena com traços delicados. Seu cabelo está preso e muito bem arrumado. Está usando um vestido justo na cor azul turquesa, de alças finas. Em seus pés, está calçando um salto médio de tiras finas. Está repleta de acessórios finos e delicados.
Tudo em seu corpo exala a riqueza e poder. Quem é essa mulher?
- Tomei a liberdade de trocar suas roupas. - Esboçou um pequeno sorriso.
Olho imediatamente para o meu corpo. Constando que não estava com essa roupa antes. Espera ai! Este não é o quarto que estava em França. Observo tudo, ficando assustada com que vejo.
O quarto é espaçoso demais, as paredes em tom branco. Diversos moveis espalhados pelo cômodo. Tem três portas no lado esquerdo. Duas grandes janelas, e uma que está aberta possuindo uma sacada.
- Aonde estou... - Comprime meus lábios ressecados.
Foi a única palavra que saiu de meus lábios, estando ainda em estado de extasiada.
- Você está na Itália, Ara. - Ela falou como se aquilo fosse obvio para mim. - Acredito que não deve lembrar de muita coisa, já que a trouxerem aqui praticamente dopada.
- C-como assim... Itália. - Digo frustrada. - Aquele monstro, me sequestrou mais uma vez! Ajusto o meu corpo na cama.
- Puta merda! Não acredito que você atirou no Lúpus. - Fala de rompante. - Você quase o matou, mulher. - Balançou a cabeça parecendo incrédula.
Eu já presumia que provavelmente ele não morreria. Deveria ter atirado um pouco mais acima. Bem acima mesmo, mesmo... Mas, não o fiz por um simples motivo, eu preciso de uma resposta. Acredito que não terei uma outra oportunidade como aquela, posso ter desperdiçado a única chance que eu tinha para livrar-me daquele homem para sempre.
- Ele deveria estar morto. - Afirmo sem remorso.
Essa mulher deve trabalhar para ele, como o resto de toda sua corja. Aposto que a enviou aqui para controlar-me.
- Mas foi bem feito para ele. - A mulher diz amargamente. - Depois dele ter baleado o meu marido, e o Salvatore depois por sua causa. - Aponta para mim. - Era o mínimo que você poderia fazer.
- Seu marido...Foi baleado por causa de mim - Assentiu. - O Salvatore foi...
O que essa mulher diz não faz sentido nenhum. Por que o Lúpus, atiraria em Salvatore? Se ele provavelmente estava em toda essa farsa para me enganar. Ele é o homem de confiança de Lúpus, nunca faria nada contra ele por minha causa.
- Infelizmente o seu homem é um louco. - Fala deliberadamente
Deu um passo em direção a cama e eu fiquei em alerta nos seus movimentos.
- Eu não tenho nenhuma relação, com aquele homem. - Não gostei nada de suas palavras. - Não sei quem é o seu marido, e não tenho culpa se ele trabalha para mafiosos. - Declaro.
- Não estou lhe acusando de nada, Ara. - Tentou se aproximar. - Você é a pessoa mais inocente no meio de tudo isso. - Suspirou. - Eu lhe devo um pedido de desculpas. Neste caso seriam dois e não um só.
- Não estou entendendo, aonde você quer chegar. - Concentro os meus olhos nos seus.
Ela juntou as mãos parecendo que poderia desfalecer a qualquer momento. Seus olhos brilharam, mas era um brilho que eu conhecia perfeitamente. Dor... Medo... Tristeza.
- Passou alguns anos, é muito normal você não lembrar de mim. - Aperto as minhas mãos no cobertor. - A gente cruzou uma única vez. - Ela falava, mas não conseguia lembrar-me. - Se calhar se eu tivesse colocado o meu orgulho de lado, e a tivesse ajudado naquela época tudo poderia ser diferente agora.
- Do que está falando, eu não a conheço. - Engulo em seco. - Não me lembro de você. - Falo agitada.
Arrasto o cobertor para o lado e saio da cama. Uma leve tontura me atinge pelo movimento rápido e imprudente. Sustento minhas pernas firmemente.
- Se acalme! - Sorriu negando. - Eu não vou lhe fazer mal nenhum. - Diz colérica.
Quem é você...? - Minha mente processa rápido demais. - Trabalhas para aquele homem não é! Voces são todos iguais e perversos. - Pronuncio exasperada.
- Não Ara, eu sou a...
Aporta é aberta e ela não termina de falar o que pretendia. O homem que passa pela porta é alguém que eu conhecia perfeitamente e arrependo-me profundamente por ter acreditado em suas promessas.
- Valeria, você não deveria estar aqui. - Ele diz reprendendo a mulher.
- Não estou com ânimo para atura-lo, Aramis Villarda.
A mulher que até então não sabia o seu nome. Chamasse Valeria. Ela olha para um ponto especifico o corpo de Aramis Villard. O seu braço enfaixado. Não pode ser, ela disse que o seu marido foi baleado pelo Lúpus, por minha causa.
- O Aramis Villard é o seu marido.
Aquilo que era apenas um pensamento, foi exteriorizado fazendo os dois olharem para mim no mesmo instante.
- Infelizmente... - Ela sussurrou de forma quase inaudível.
- Ara, você está bem? - Aramis Villard, dirigisse pela primeira vez para mim. - Eu sei, que nesse momento você deve estar confusa.
Ele falava se aproximando cada vez mais de mim. Ele não estava vestido com seus fatos habituais. Usava um conjunto de moletom preto, sem a parte superior, que foi substituída por uma camisa polo, deixando os braços a mostra devido ao seu braço machucado.
- Bom, tudo que está acontecendo n-n...
Encurto a nossa distância e dou um tapa certeiro em seu rosto. Fazendo seu rosto virar para o lado e minha mão arder pelo gesto.
- A merda já está feita! - Valeria diz perplexa, levando suas mãos aos lábios.
- Você mentiu para mim, Aramis Villard! - digo olhando, para ele que ainda não esboçou reação nenhuma pelo que fiz. - Não ouse nunca mais, mentir para mim.
Meu corpo tremeu, mas minha alma vibrou. Estou preparada para assumir as consequências de meus atos mesmo que eu morra nas mãos de quem me aprisiona. Mas lutarei ate ao fim para ter os meus filhos de volta.
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CONTRAVENTOR "O Ajuste de Contas"
RomansaSegundo livro da estória "CONTRAVENTOR " Para entender o segundo livro, é necessário ler o primeiro livro. Que está disponível aqui no meu perfil.