CAPITULO 39

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Ara Couts Blanche


Ela estava concentrada demais ao tentar decorar aquele bolo. O empenho que ela tem para fazer aquilo sair do jeitinho que ela quer é impressionante.

Estou preocupada com Aurora. Muito mesmo, por essa insistência e medo que ela transmite ao falar dele. São três horas da manhã, e a gente está na cozinha fazendo bolo de chocolate. Ela diz que aprendeu com a tia Helena. Aquela mulher ao que parece, tratava bem os meus filhos.

O que me preocupa é que Aurora, cismou faz quatros dias. Em fazer um bolo para o pai. Ela disse que ele ficaria feliz ao ver que ela fez alguma coisa para ele.

Nesses últimos quatro dias, ela acorda de madrugada e insiste em descer para cozinha para fazer o bolo.

Tenho medo que ela se decepcione com essa imagem que está criando do Lúpus, na cabeça dela. Acho que o desejo de ter um pai, está afetando muito a mente dela.

— Mamãe a senhora, está escutando?

— O...que filha? — Pisquei algumas vezes.

— A senhora nem estava prestando atenção no que eu falava. — reclamou, lambendo a espátula com o recheio.

— Da isso aqui para mim. — Recebi o objeto.

— Eu já terminei a um tempão e a senhora nem percebeu. — Deu de ombros.

— Tá bom... olha só como isso está maravilhoso. — Elogiei.

— Sério a senhora, gostou mesmo? — Ela pareceu duvidar.

— Como não gostaria? —  Fingi indignação. — Se eu fui a sua ajudante, para essa obra prima. — Apontei para o bolo.

— Será que ele vai gostar, mamãe?

Seus olhos brilham em expectativa. Ela realmente quer agradar ele. Mas, isso infelizmente pode magoar ela.

Ainda lembro perfeitamente da conversa que eu tive com Valeria. Quando ela fez o primeiro flagra de nós as duas na cozinha a três dias atrás.

— Ela está muito empolgada, em fazer o bolo?

Valeria perguntou depois de ter apanhado a gente na cozinha. Ela usava o seu conjunto de seda de roupa de dormir.

— Não sei de onde saiu essa ideia. — Sussurro para ela.

— O David, está dormindo?

— Sim... ele nem se quer pergunta sobre o pai. — Falo

— Esse menino vai ser muito difícil do Lúpus conquistar. — Ela sorriu animada.

— O meu filho, tem uma personalidade forte.

— Isso vai dar merda, Ara. — Balançou a cabeça negando, observando Aurora. Misturava os ingredientes.

— Você acha? — Digo incertamente.

— Se eu acho? — Olhou para mim, arqueando as sobrancelhas. — Eu tenho certeza. — Suspirou. — O Lúpus não come doces, Ara!

Aquilo ativou as minhas memórias do passado. Para quando fui sequestrada. Quando eu estava na sua residência em Nápoles.

Na época era Amelie, que servia as suas refeições. Mas, nunca se quer, ela fazia alguma sobremesa doce. Eu nunca cheguei de questionar o porque. Pois isso não me interessa.

A Aurora ficará muito decepcionada. Por isso eu no dia seguinte faço sempre questão de sumir com os bolos. Oferecendo para os seguranças.

Não tenho dúvidas nenhuma, que aquele homem seria cruel o suficiente, para jogar o bolo no lixo. Neste momento penso, que provavelmente o Alessandro seria um ótimo pai para os meus filhos.

Faz quatro dias que eu vi, e rolou o beijo entre a gente. Mas, eu ainda sinto os seus lábios nos meus. Eu queria tanto que a gente finalmente pudesse...

— O que está acontecendo aqui!

Dou um pequeno salto pelo susto. Quando viro-me para olhar, eu o vejo. Ele estava parado na porta da cozinha com uma expressão indescritível.

— Lúpus...

A Aurora desce da cadeira que estava na ilha. Correndo até ele, abraçando suas pernas. Pois por ser tão alto ela só alcançou até os seus joelhos.

Ele no primeiro momento, ficou sem reação nenhuma. Mas, em poucos segundos como se estivesse recuperando a consciência. Ele suspendeu ela em seus braços.

— Eu tive tantas saudades suas. — Ela agarrou em seu pescoço, e falou envergonhada.

— E mesmo...? — Falou meio desacreditado.

— Sim...— Confirmou.

— Isso é bom, eu acho. — Ele diz simplesmente. Babaca mesmo.

— Aonde o senhor estava? — Confesso que eu também estava curiosa para saber.

— Estava de viagem, fora do país. Para resolver alguns problemas.

Quando ele responde, ele olhou diretamente para mim. Como se estivesse se explicando para mim.

Seus cabelos estavam úmidos e sua barba estava mais cheia do que eu me lembrava. Usava uma camisa de algodão e uma calça de moletom na cor preta.

— Eu e a mamãe fizemos um bolo para o senhor. — Explanou eufórica.

— Um bolo...?

Ele olhou para mim. Mas, depois seu olhar foi direcionado para a ilha da cozinha aonde estava o bolo.

Merda é agora que ele vai partir o coração da filha em pedaços.

— O senhor não gosta de bolo? — Ela pergunta já murchando o rosto.

— Filha, o seu pai regressou agora. — Falo pela primeira vez. — Ele deve estar cansado, então vamos deixar ele descansar um pouco e depois a gente...

— Mas, eu queria tanto que o senhor provasse o bolo.

Ela nem deixou eu terminar de falar e já volto novamente a sua total atenção ao Lúpus.

— Não sou amante de doces, Aurora. — Andou com ela no seu colo até a ilha. — Portanto vou provar só um pedacinho.

O sorriso dela cresceu de orelha a orelha e assentiu. Espera aí! Ele realmente vai comer doce?

— Mamãe...veem cortar um pedaço do bolo para o Lúpus.

Ela só tem coragem de o chamar de pai, quando ele não está. Na frente dele fica toda envergonhada e o chama pelo próprio nome.

Abri o armário, para tirar o prato. Fui até a ilha e cortei um pedaço pequeno do bolo sobre o olhar de ambos. Entreguei o prato para o homem, que após segundos olhando, levou o pedaço até sua boca.

Pela sua expressão era muito difícil, saber se ele realmente gostou ou não. Aurora estava ansiosa para saber a resposta dele.

— Não parece nada mal. — Ele cortou mais um pedaço. — Acho que os únicos doces que eu vou comer serão feitos por vocês.

— Eu sabia que o senhor, gostaria. — Falou orgulhosa de si mesma. — Você viu mamãe... ele gostou.

Nossos olhares cruzaram e senti um frio na minha espinha. Porque que esse desgraçado, está olhando para mim desse jeito.

CONTRAVENTOR  "O Ajuste de Contas"Onde histórias criam vida. Descubra agora