Lúpus Mazzarella Eiger
Olhei para os dois sentados no sofá de frente à minha secretaria. David estava com a cabeça baixa. Provavelmente presumindo que eu poderia repreendê-lo. Garoto esperto.
Por outro lado Aurora está me encarando com um sorrisinho no rosto. Ela deve estar achando engraçado a situação do irmão.
Acho muito estranho o fato dela não ter medo de mim. Ela é a única que não tem medo de mim. David tem demostrando a sua total submissão a mim. Até sua mãe tem medo de mim.
Só que Aurora é diferente. Parece que ela é a única que não consegue ver esse monstro que todos dizem que sou.
Seu olhar para mim é genuíno, como se ela estivesse algum tipo de admiração por mim.
— Pai não briga com ele. — Aurora defende o irmão.
Até agora não me acostumei com ela chamando-me de "pai" Sinto uma sensação reconfortante toda vez que ela diz. Pois é a única. David chama direito o meu nome.
Nunca o corrigi, ele não tem obrigação nenhuma. Eu fazia o mesmo com o desgraçado do Matteo Mazzarella.
— Não vou brigar com o seu irmão. — Retiro o meu blaser. — David, a sua professora disse-me que o outro garoto estava implicando com a filha do Hermes.
— Ele fez ela chorar. — respondeu baixinho.
— Você apanhou muito dele?
— Eu apenas o empurrei. Ele mordeu à minha orelha e chutou as minhas pernas. — falou envergonhado.
— Verdade pai... eu vi. — Aurora intrometeu-se. — O Lucas machucou o meu irmão.
Agacho-me de frente para ele.
— Olha para mim, David. — Ordeno.
Ele levantou o olhar, ainda parecendo amedrontado.
— Ninguém bate em um Mazzarella. Você é que tem que bater nele.— Fixo o meu olhar no seu. — Você entendeu? — Ele não respondeu. — Eu quero que me responda. — Digo firme.
— S-sim senhor.
— Eu vou providenciar aulas de auto defesa para você. O seu tio Aramis será o seu instrutor, por enquanto.
O pequeno sorriso brotou dos seus lábios. Seus olhos brilham. O David é muito mais parecido comigo do que parece. Eu na idade dele, não conhecia a maldade.
Fui obrigado a tornar-se o que sou hoje. Mas, ele é diferente. Ele quer isso, eu sinto que ele anseia o desconhecido. Mesmo sem saber o que o destino preparou para ele.
— Porque o senhor não me ensina? — Diz curioso. — Eu vi o senhor batendo no Carlos esses dias... — revelou.
Então ele tem espionado os meus treinos na academia, com o Carlos.
— Eu não estava batendo nele. A gente estava treinando. — Levanto e percebi que Aurora acompanhava tudo atenta. — Além do mais, é contra regras eu ser o seu instrutor. Sendo o seu pai, pegaria leve com você. Preciso de alguém que possa bater em você, sem remorso nenhum.
— O tio Aramis, vai bater em mim? — Seus olhos estão esbugalhados.
— Sim ele vai. Faz parte do processo.
Ele ficou em silêncio analisando tudo. Ao poucos vou revelar quem ele realmente precisa ser.
— A mamãe vai permitir isso? — Aurora fala incerta.
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CONTRAVENTOR "O Ajuste de Contas"
RomanceSegundo livro da estória "CONTRAVENTOR " Para entender o segundo livro, é necessário ler o primeiro livro. Que está disponível aqui no meu perfil.