Seres pequenos

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– qual é o seu nome, senhorita? –perguntou vindo até mim

– Catherine. Você é amigo do Urick?

– sim, eu o conheci quando Aki o resgatou das mãos de Erebus

– eu não sei quem é Erebus mas aparentemente você é mais gentil que seu amigo. Até agora ele só me tratou mal, ele até me acorrentou

– peço perdão pelos atos dele, tenho certeza que ele só estava preocupado com sua própria segurança

– um pouco egoísta da parte dele

– eu trouxe alguns suprimentos comigo, mas não sei se vai durar para dois dias de viagem até a vila mais próxima seguindo de Wenus já que estamos em quatro

– logo seremos mais, então vamos tentar achar o de hoje e amanhã daremos um jeito

Comecei a andar pela cozinha revirando aquela bagunça, acabei achando um pote de biscoitos intacto e também um saco rasgado de pães que, só tinham três no máximo. As bebidas se foram, Urick começou a arrumar suas coisas, cantil de água, algumas peças de roupa e etc, enquanto Aki e Aksel arrumavam o ambiente

– pessoal, não há mais comida alguma a não ser esses biscoitos e pães que achei no meio desses destroços

– acho que isso pode nos manter por esta noite. Amanhã quando partirmos, vamos caçar algum animal pelo caminho para a ceia quando cair a noite –disse Aksel

– acabei de lembrar –olho ao redor– cadê minha bolsa vermelha? –perguntei esperançosa

– obviamente foi levado –disse Urick

– aquela era nossa última esperança –digo desanimada

Claro que teríamos problemas na hora de dividir a comida essa noite. O sol já estava se pondo entre as montanhas quando Aki sentou conosco e dividiu a comida que Aksel trouxe, Urick quis roubar tentando confundir a cabeça do velho mestre escondendo o pedaço de bolo debaixo de sua coxa e pedindo mais um pedaço

Aksel o dedurou e uma pequena confusão começou até que o bolo se esfarelou todo debaixo da sua perna enquanto ele balançava de um lado para o outro batendo em Aksel e fugia de seus cascudos
Mais tarde nós todos dormimos no chão da sala, Aki, Aksel e Urick estavam em profundo sono a ponto de Aksel falar enquanto dormia. Tudo me levou a entender que ele estava sonhando com uma garota chamada Melina, ele dizia "ah Melina... você cheira a lírios do campo" e sorria toda vez que falava seu nome seguido de um elogio

Mas eu não preguei meus olhos e, quando consegui, tinha pesadelos com o lobisomem
O sono me atingiu quando os pássaros cantaram e os raios solares invadiram o local atingindo meus olhos forçando-me a por as mãos nos mesmos antes de levantar

– levantem, crianças! –apareceu Aki na porta animado debruçando sobre seu cajado– o sol acordou e precisamos partir para nosso destino

Aksel e Urick juntaram suas coisas e eu não tinha nada para levar exceto o pouco de coragem que me restava.
Ao invés de seguirmos pelas profundezas de hitam, fomos contornando a floresta por fora seguindo em linha reta e fiquei muito aliviada, pois cada árvore que eu passava vinha o rosto daquele lobisomem na minha mente, não consigo imaginar oque teria acontecido comigo se os caçadores não tivessem me ajudado

Era por volta de meio dia quando meus pés começaram a doer e Aksel estava resmungando perguntando a Aki se não poderíamos descansar um pouco

– se pararmos agora não chegaremos até meus amigos próximos

– que amigos são esses? -perguntou Urick

– um povoado de anãos 

– ah não. Não, não, não, não! Você sabe que eu não tenho uma relação boa com anãos –reclamou Urick

– filho, dê uma chance

– a última vez que os vi, eles quebraram toda a minha casa, acabaram com a comida da dispensa e viviam pregando peças em mim o tempo todo! Eles até me jogaram dentro de um rio, se lembra disso?

– você prefere revê-los de novo ou morrer de fome? Se quer morrer de fome esta noite e no dia seguinte, tudo bem, mas não se esqueça que temos dois viajantes conosco e que não estão reclamando, exceto você

Urick não disse mais nada, apenas cruzou os braços e fechou a cara enquanto Aksel segurava o riso

Um tempo depois por volta das três da tarde a trilha fez uma curva e andamos por muito mais tempo até que nos enfiamos no meio da floresta mas dessa vez não era negra. Havia cogumelos grandes e gordos no chão e entre as grandes rochas, a grama é muito verde e a brisa aqui é suave além de ter um cheiro maravilhoso de hortelã misturado com capim

Aqui as flores são amarelas e brancas as abelhas pegam seu pólen e saem voando por aí zunindo para longe, o ambiente aqui é de alegria e não há peso algum nesse lugar. Mas não vi nenhum sinal de anão

De repente Aki para, bate seu cajado duas vezes no chão e diz "apareçam meus velhos companheiros, não precisam ter medo, somos viajantes de paz"

Em poucos segundos ouvimos sons de pequenos passos mas por serem muitos parecia ser de uma multidão de homens. Eles saíram detrás das árvores e de cima delas e só aí que eu notei que alguns moravam em casas na árvore, outros saíram do chão, de suas tocas para ser mais exata, outros saíram de dentro de troncos de árvores maiores e mais largos o suficiente para um anão viver sozinho

E outros que simplesmente apareceram lá de alguma forma que não consegui ver, eram muitos homens pequenos para acompanhar. Urick se mostrou muito infeliz e deu dois passos para trás de Aki

– o mestre! É o mestre! –animou-se um anão de chapéu vermelho

– e trouxe seus amigos! E uma bela moça

Sinto minha capa ser puxada por um pequeno homem de barba ruiva usando um capuz esverdeado, ele pede para mim abaixar a sua altura e assim eu faço

– a senhorita está solteira? –perguntou ele

– sim, homenzinho

De repente surgiram mais dois me fazendo perguntas, e mais três, e mais cinco, até que fiquei rodeada por uma numeração favorável o suficiente para não deixar eu me mover e no meio de todas aquelas vozes juntas surgiram perguntas como: "a qual reino você pertence?" "Você é da região do lago?" "A senhorita quer jantar comigo esta noite? Por favor aceite meu convite"

– cavalheiros, deixem a moça em paz. Vocês vão sufoca-la desse jeito –disse um anão com uma barba branca comprida usando um macacão azul com um cinto verde afivelado e um chapéu amarelo, sua voz apartou toda aquela multidão– lamento pela inconveniência do meu povo com sua companheira, Aki. Sinto muito também moça

– está tudo bem

Ainda que minha cabeça ainda demore para se encontrar novamente eu estou bem

– Tikon, precisamos da sua ajuda

– claro meu amigo! O que deseja?

– podemos ficar para comer está noite? Precisamos de suprimentos também e de cantis de água

– vocês precisam de uma baita ajuda. Por sorte eu tenho tudo oque precisam e muito mais, até mesmo um marido para a bela moça ali

– eu estou bem, obrigada –respondi sem graça– Não preciso de um marido 

– bom, sigam-me. Logo vamos ceiar e vocês não querem ficar se fora dessa festa? –andava enquanto dizia

– festa? –perguntou Aksel o acompanhando

– hoje é o dia que meu sobrinho nasceu, o chamei de Tôk. Quando um anão nasce é motivo de festa por toda a vila

– quando eles não nascem também. Vocês sempre fazer barulho, gritaria e bagunça –murmurou Urick

– o jovem Urick! Você não mudou muito desde a última vez que nos vimos, continua rabugento mesmo sendo tão jovem

Aki sorriu e continuou andando conosco até onde o anão nos guiasse. Seguimos até uma trilha de cogumelos gigantes e estreitas até que chegamos até seu palácio. A porta era média, para ele, mas pequena para nós, mas Aki disse que havia uma outra entrada pela parte de trás do palácio que a porta era grande justamente para homens

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