Revelação

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O Poeta põe a última comida na mesa.
Um bolo de aparência macia, cheira bem, está decorado com pequenas flores lilás e brancas.
Aki havia se retirado para acordar  Catheirne, ele agora volta com os dois, sonolentos e lentos, devagar ocupam suas cadeiras mas mal conseguem abrir os olhos.

– ainda estão casados –disse Aksel entre risos– nem conseguem abrir os olhos direito

Enquanto todos estamos sentados à mesa desfrutando do café que o próprio Poeta fez para nós, ele fica alguns segundos dos encarando Aki

– está tudo bem? –perguntou Aki ao Poeta

você está bem? –frizou o Poeta

– sim, sim. Me sinto bem

– Aki, você não é um péssimo líder porque não viu as silvernist. Seus aprendizes não o culpam por isso

– mas eu já deveria saber. Deveria estar esperando o pior

– você não tem o controle de tudo e está tudo bem por isso. Você não é péssimo, você é humano

Vejo uma lágrima cair de seus olhos mas ele rapidamente a limpou. Esta é a primeira vez que o vejo chorar. Com um sorriso ele agradece o Poeta, ele parece estar aliviado.

– eu não culpo você, Aki. Você fez o quê pôde, foi pego desprevinido assim como a gente –disse Akira

– também não o culpo –disse Aksel– nunca o culpei. O senhor é um excelente líder

– sim, sim –disse Catherine sonolenta– sou muito grata por tudo que o senhor fez

– principalmente eu –digo ao mesmo– sinto que devo minha vida a você. Muito obrigado

Aki não aguenta e permite que as poucas lágrimas caíam de seu rosto. Ele as limpa e sorri alegre para casa um de nós, até para a sonolenta da Catheirne.
Acho que este é o momento exato para contar a eles.

– pessoal, eu queria falar uma coisa

A atenção de todos se volta para mim, me sinto extremamente constrangido e nervoso, mas do outro lado da mesa o Poeta está me encorajando com sua expressão serena que transmite credibilidade em mim.
Respiro fundo e conto a eles toda a minha história, desde quando me tiraram dos meus pais... ou melhor, da minha mãe, até chegar em Kaizer, o soldado que me fez ter fascínio por guerreiros que lutam por uma causa verdadeira, pela verdade, pela liberdade das pessoas.

Todos estão perplexos sem esboçar nenhum outro tipo de reação além de espanto.

– eu vou entender se não quiserem ficar comigo –digo com a voz embargada– mas mesmo assim eu peço... por favor, não desistam de mim

Algo se choca contra meu corpo, ao perceber, é Catherine me envolvendo em um abraço quente.

– eu sinto muito –disse ela– eu não fazia ideia. Você não merecia passar por isso

Então, Aksel se levanta e também e ao chegar em mim, ele se abaixa a minha altura e recosta sua cabeça em meu braço mostrando seu apoio. Akira tentou achar um espaço para me abraçar mas nao encontrou, então ele pôs sua mãos mãos meu ombro esquerdo enquanto Aki pôs a sua em meu ombro direito.

– eu nunca vou desistir de você, meu filho. Desde o dia em que eu te vi eu já sabia quem você era e sabia quem se tornaria quando abandonasse por completo a magia. Você não está sozinho. Nunca esteve –disse Aki

Não consigo reter as lágrimas, choro feito criança com as mãos em meu rosto enquanto todos ao me redor demonstram apoio e me confortam.

Consigo me acalmar, Catherine se separa do meu corpo junto com os outros.
O Poeta está alegre, com um sorrio de orelha a orelha aprecisando o momento

– muito obrigado –me refiro a ele

– por nada.

...

Estou no jardim sentado na grama junto com Catherine. Eu a vi sozinha, decidi fazer companhia a ela.
Estamos apenas jogando conversa fora, pedi a ela para me contar sobre como era sua vida no seu vilarejo, era alegre e o sol brilhava todos os dias, mesmo ela sabendo que nem sempre ele brilhava para ela, mas ela nunca deixou de acreditar que tudo poderia mudar.

Consigo dar um sorriso seguido de uma risada sincera enquanto ela me conta algumas de suas travessuras, percebo que ela me olha com os olhos brilhantes, como se estivesse fascinada com algo

– o que foi? –pergunto a ela

– você fica bem quando sorri. Deveria sorrir mais vezes. Tem um sorriso bonito

Meu rosto esquentou e não sei como reagir a isso. Apenas a agradeço enquanto ela ri do meu rosto que esta parecendo um tomate

Akira narrando

O Poeta me levou até sua plantação amoras, entre as grandes árvores ele começou a conversar comigo a respeito de tudo que passei, até mesmo de cada sentimento que tive durante os infernos na minha vida.
Ando de um lado para o outro inquieto, minhas orelhas estão quentes, talvez seja raiva ou por segurar o choro, enquanto enquanto o Poeta fala, gesticulo com as mãos de um jeito agressivo o interrompendo a cada palavra que o Poeta me profere mostrando não querer ouvir oque ele tem a dizer

– Akira, pode me ouvir por um minuto?

– estou escutando –digo andando de um lado para o outro

– aí está o problema, você me escuta e não ouve –o Poeta então entra na minha frente segurando meus ombros, respiro fundo enquanto o encaro segurando o choro– isso não vai resolver nada –continuou o Poeta

– mas ele precisa pagar pelo que fez comigo! Você não estava lá, você não viu o inferno que era. Todo dia eu corria pela casa para fugir daquele monstro. Eu gritava por ajuda, mas ninguém me escutava. Cinto, chicote, comida ruim, ele precisa morrer! – grito com ele

– e você ia lutar contra ele sozinho? Um garoto contra um homem?

– eu preciso fazer alguma coisa. Eu só vou ter paz quando eu ver o sangue escorrer de seu corpo sem vida. Até que esse dia chegue, não vou conseguir ficar em paz comigo mesmo

– você não precisa se igualar ao monstro. Eu vi você e ouvi quando disse para qualquer coisa que estivesse te escutando te livrar daquela casa

– então por que não me ajudou?

– quem você acha que abriu a porta trancada cuja chave você não tinga em mãos? Quem você acha que fez seu tio se distrair para que você tivesse tempo de fugir? Quem você acha que pôs você na hora certa no caminho de Aki? Eu estava acompanhando você. Você não foi um covarde, você é um sobrevivente. Deixe que a justiça virá virá tempo certo

– isso vai demorar

– você não tem a noção de tempo. Apenas deixe o tempo fazer oque ele tem que fazer

Caio ajoelhado no chão chorando como uma criança, o Poeta se abaixa a mina altura me envolvendo em hm abraço calmo e quente, não com o intuito de eu me acalmasse para que parasse de chorar, mas dizendo a mim que através deste ato eu poderia chorar o quanto quisesse pois tem um ombro amigo.
O choro finalmente cessou depois de muito tempo tudo o que me restava agora eram soluços e olhos inchados. O Poeta soprou em meu rosto mandando embora todo resquício de tristeza que ainda estava dentro de mim por mais mínimo que fosse e com isso também foi embora os soluços.

– vamos descobrir juntos o seu propósito neste mundo. Tudo bem por você?

– sim –respiro profundamente sentindo o alívio em minha alma– muito obrigado. E desculpa ter gritado com você

– oh, eu já passei por coisas piores –diz entre risos– está tudo bem

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