O sofrimento

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Ao ajudar a moça a levantar, olho ao redor percebendo que os meninos estão conseguindo dar conta do povo.
Fraca e apoiada em meus ombros elame guia até sua casa, com passos lentos conseguimos chegar, ao entrar, ponho a mesma deitada em sua cama enquanto procuro algo em seu banheiro para ajuda-la a se limpar.
Não encontro ao menos uma banheira, há apenas um penico. Volto para o quarto na intenção de saber onde ela costuma tomar banho.

– onde você costuma tomar banho?

– no rio aqui perto. Você poderia me levar até lá?

– claro. Apenas me mostre onde é

Lentamente ela se levanta da cama soltando alguns gemidos finos de dor. Ela então se apoia em mim e saímos da casa para ir ao rio próximo. Não muito distante daqui, passando algumas árvores, há um rio que corta o meio da mata.
Ela tirou a capa e a entregou em minhas mãos, tirando sua roupa, ela vagarosamente entra no rio afundando sua cabeça no mesmo e subindo à superfície.

Ela então começa a chorar enquanto esfrega seu corpo, os movimentos ficam mais violentos enquanto em gritos de dor e desespero ela chora como se quisesse tirar oque aconteceu ou até mesmo o cheiro ou as marcas que seu agressor deixou.
Decido deixa-la só neste momento apenas a observando da margem do rio com o coração em pedaços de vê-la nessa situação.
Ela então para de chorar e tudo que ela solta são soluços, ela olha ao redor e afunda novamente no rio.

Espero ela voltar a superfície, mas ela não volta. Fixo preocupada e chamo por ela, mas ela não responde. Sem hesitar, salto dentro da água, nadando por ela vejo que a menina está sentada nas pedras do rio abraçando suas pernas enquanto algumas bokjas de ar saem de sua boca e sobem para superfície.

De imediato vou até o fundo buscar a mesma, ela está relutante, mas decido ser mais forte que ela e a trago para a superfície.
À margem do rio ela tosse loucamente cuspindo toda a água que engoliu, ao se recuperar, ela me dá pequenos socos me perguntando o por quê de eu tê-la salvado

– eu não podia deixar você fazer isso –digo a mesma aceitando seus socos que acredite se quised, não estava doendo. Ela está tão fraca que mal consegue ter força para machucar alguém de fato.

– você não sabe oque eu sofri! Não tem o direito de interferir nisso!

– eu entendo perfeitamente oque você passou, senhorita

– não! Você vai dizer que entende e que vai ficar tudo bem, mas você não entende! Você não sabe nada!

A abraço no meio de seus socos, ela se rende e o choro mais profundo de sua alma transborda. Acaricio seu cabelo molhado entre sua dor, não demorou muito para ela se acalmar.

– eu entendo oque está passando agora, mas por favor, não tire sua vida por causa de alguém como ele

– você não entende nada –ela diz com um sorriso irônico

– entendo. Quando eu tinha quinze anos sofri esse tipo de agressão do meu ex pretendente. Eu disse a ele que não queria, mas ele me mandou ficar quieta e... você sabe. Custou para mim perceber que aquilo foi uma agressão, mesmo eu tendo feito oque ele mandou, eu não sabia ao certo se eu realmente queria ou não. Aquela dor me fez chorar, queria que ele parasse de tentar ou que conseguisse de uma vez para ver se teria fim. Mas não teve. Levou três anos pata eu compreender oque ajavia acontecido comigo e esse baque me fez ficar... indiferente. Eu não sabia ao certo oque sentie. Me senti mal, não conseguia mais levantar da cama e não queria mais viver, não contei nada aos meus pais por vergonha e medo. Foi difícil aceitar que a pessoa que eu mais amava no mundo foi capaz de me machucar

– e o que aconteceu depois?

– eu me recordo de aos poucos conseguir me levantar, estava recebendo um tipo de força que não vinha de mim. Eu não o conhecia, mas ele me conhecia, e hoje eu reconheço que os pedidos que minha mãe fazia ao vento por mim, fizeram efeito

– o que? O vento? E quem é "ele"?

– o Soldado. O homem mais doce é amoroso que já conheci –digo com jm sorriso fraco de admiração– posso falar mais sobre ele quando quiser, mas agora, vamos voltar para sua casa, logo vai esfriar e estamos enxarcadas

Com um sorriso fraco ela se levanta do chão comigo, começamos a fazer o caminho de volta para sua casa. Percebo que o peso em excesso que estava em sua expressão se desfez, talvez esta conversa tensa sido bom para ela.

Urick narrando

Depois de ajudar o povo, noto a ausência de Catherine, digo a Aki que vou procura-la mas depois de percorrer toda a aldeia não a encontro.
Então entre as árvores escuto gritos, me guio pelo som um pouco aflito achando ser Catherine, mas ao encontra-la a margem do rio, a vejo abraçada com a garota que vimos suja de sangue.
Escondido entre as árvores as observo de longe, ouço toda a conversa delas e a história de Catherine foi uma facada em meu coração.

Saber que uma menina otimista, ousada, doce e extremamente irritante quando quer passou por isso me faz sentir um misto de coisas indescritíveis.
Ajudei aquele rapaz que estava sob domínio das criaturas das trevas porque já passei por isso, sei como é não ter o controle de seu corpo e fazer coisas da qual você não quer e ter a culpa recaída sobre você, porque ninguém vê a criatura que lhe domina.
Catherine passou por esta experiência trágica e horrível, assim como esta menina... no ponto onde fomos feridos curados outras pessoas.

Somos sobreviventes de caos e dor, e passamos força, coragem e superação para aqueles que sofreram o mesmo que a gente. Este é um dos objetivos da missão.
Quando elas saem, volto para a aldeia, Aki me espera com notícias, tento disfarçar meu semblante de choque, tristeza e ira pelo homem que fez isso com ela.

– então, você a encontrou? –perguntou Aki

– sim, ela está cuidando de uma jovem moça

– eu a vi conversando com ela, imaginei que estivesse fazendo isso. Vi que você e o rapaz que o homem ruivo libertou tem muito em comum, por que não cuida dele?

– onde ele está?

– está ali –ele aponta na direção de uma estrutura de madeira onde o rapaz está sentado com a cabeça baixa

– e onde está o homem ruivo? –pergunto olhando para os lados dando falta do mesmo só agora

– sabe que ele aparece e desaparece quando bem entende, ele já cumpriu sua missão, acredito que tenha retornado

– não posso ajuda-lo... Sabe... Sabe dos problemas que ainda enfrento com minha mente. Poderia fazer fazer por mim?

– eu até posso, mas não farei isso para sempre. Procure ajuda, filho, de quem você quiser, mas não fique sofrendo dessa forma

– eu nunca disse que estava sofrendo –respondo na defensiva

– eu sei que sofre. Vejo em seus olhos o quanto você quer ser livre de si mesmo e de toda a culpa que carrega. Mas somente uma decisão sua pode dar fim a essa situação, filho, seu pedido de ajuda, reconhecer que sozinho você não consegue

O Homem que fala através do vento Onde histórias criam vida. Descubra agora