Serpentes

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Pode ter sido algo da minha cabeça. Volto para fora da casa, olho para o imenso céu estrelado tendo em meu coração um sentimento de paz.

– Soldado. Pode me ouvir? Eu vi a Cat bater em sua cabeça hoje para calar as vozes que gritam nela. Por que você não a ajuda? Sei que não é indiferente com o sofrimento dos outros, mas ela pensa que sim. Ela não disse com essas palavras mas desvendando seus questionamentos esta resposta está por trás. Por favor, salve ela. Ajude ela

Um vento suave atingiu meu rosto fazendo meus poros se arrepiarem. É ele, o Soldado, ele me ouviu.

Volto feliz para meu quarto, deito-me na cama com um sorriso nos lábios pois sei que em breve ele vai ajudar ela.

Manhã seguinte

Aki narrando

A brisa ainda está gelada e o sol ainda está tímido atrás das montanhas. O céu está rosado indicando que fará frio hoje. Me ponho de pé, pego meu cajado na cabeceira da cama e descalço ando para fora do quarto, sempre fui o primeiro a acordar, até mesmo sendo hóspede.

Abro a porta do quarto de Akira o vendo dormir torto, como sempre. De fato está acontecendo algo de errado com esta criança, mas tenho uma ligeira impressão de que não é apenas com ele.

Fecho a porta de seu quarto, mais um passo para trás e abro a porta do quarto de Urick o vendo dormir como um neném que não tem nenhuma preocupação. Ele acha que não sei sobre seu interesse em Catherine, se faz de pedra, mas tem um coração mole.
Não o entenda mal, ele sempre foi assim, mas confesso que ele nunca esteve tão melhor. Novamente fecho a porta de seu quarto e me dirijo ao de Catherine que também está em um sono pesado. Quando olho nos olhos dessa moça percebo intensidade, paixão, coragem e determinação. E um imenso amor por Urick, mas ninguém vai dizer nada ao outro pois ambos pensam que não é reciproco

– estes jovens –digo entre risos– perdem muito tempo. Se soubessem como a vida é curta e que certas oportunidades jamais voltam, não demorariam tanto para tomar certas atitudes

Fecho sua porta e vou na de Aksel, abrindo vagarosamente o vejo deitado em sua cama de barriga para cima e os braços junto ao corpo como se estivesse morto. Típico de Aksel.

Essas crianças são como meus filhos, até mesmo Félix, que acabei de conhecer, se tornou um filho temporariamente. Ele é um bom rapaz, digno de todo o bem que recebe. Me assento na cadeira na cozinha ainda contemplando o amanhecer através da janela de Félix, não sei se é algo típico de seu povo, mas ele gosta de verde. Percebi que Félix é um curandeiro, alguém da sua família o ensinou como funcionam as ervas e agora ele exerce muito bem sua função.

QUEBRA TE TEMPO

URICK NARRANDO

Assustado abro meus olhos pela manhã. Tive um sonho ruim com corvos e montanhas, mas nada que deixe meu corpo tremulo ou me deixe amedrontado, apenas um sonho ruim que me assustou, pois parecia real.
Antes de por meus pés no chão, olho para o chão para conferir se não há escorpiões e para meu alívio não há nada no chão além de poucos flocos de poeira. Me ponho de pé, ando pela casa intencionado a encontrar uma pessoa. Catherine.

A vejo sair de seu quarto, ela me olha com um sorriso envergonhado enquanto me dirijo a ela

– você se sente melhor? –pergunto parando na sua frente

– sim. Muito obrigada por ter me ajudado ontem. Não sabia que suas mão também brilhavam

– nem eu sabia –olho para minhas mãos– ainda estou descobrindo as coisas que o Poeta pode fazer, ele não para de me surpreender 

Um grito é emitido do quarto de Akira. Olhamos um para o outro assustados, sem saber o que possa ter acontecido. Demos um passo em direção a sua porta mas Aki surge atrás de nós mais rápido do que cavalos selvagens nos ultrapassando. O acompanhamos, ele abre a porta de Akira nos dando uma visão tenebrosa de cobras esverdeadas e amarelas.
Contei no máximo sete, Akira está escorado no canto da parece olhando fixamente para um ponto no chão com uma expressão confusa, aterrorizada e enojada.

Embora haja duas cobras rastejando em sua cama e em seu travesseiro, outras espalhadas pelo quarto longe de onde Akira estava, ele olha apenas para o chão como se algo mais aterrorizante do que ter cobras que misteriosamente apareceram em sua cama.
Olhamos para o chão, vimos uma cobra verde engolindo uma amarela pela cabeça, seu corpo já estava pela metade, sua mandíbula completamente aberta até o limite para caber todo o corpo robusto de sua amiga. Aki arregalou os olhos, abriu sua boca várias vezes mas nenhum som ou palavra saíram da mesma. Catherine, aterrorizada com a cena, se sentiu enjoada e se retirou do quarto tapando sua boca dando sinais de que iria vomitar

Após a cobra terminar de engolir sua amiga ela rasteja para a janela que está entre aberta. Todas as outras cinco espalhadas pelo quarto a seguem e então desaparecem na mata deixando o quarto de Akira vazio como deveria estar essa manhã. Ainda escorado na parede ele desliza suas costas pela mesma até se sentar no chão, é nítido seus olhos marejados e seu nariz automaticamente avermelhado por ele estar contendo o choro. Aki se aproxima dele e se senta no chão, ele põe a mão em seu ombro o dando apoio enquanto eu ainda tento entender o que acabou de acontecer.
Cobras verdes e amarelas, Erebus, não acredito que ele esteja por trás do comportamento estranho de Aki, mas se não for, se for apenas um outro mago usando as cobras que Erebus costuma usar, é um truque muito bom. Mas por que o Akira? Ele é o mais fraco? O mais vulnerável? Também há possibilidades de não ter sido Erebus.

Aquela raposa, toa vez que ela aparece algo ruim acontece. Mas ela apareceu apenas para mim e para Catherine, então por que o atingido foi Akira? Ela quis nos avisar alguma coisa? São muitas perguntas e nenhuma possui resposta, apenas teorias e suposições.
Me aproximo de Akira e Aki ficando a uma distância curta. Akira está trêmulo, mas Aki o está acalmando. Aki o abraça, Akira mal tem reações. Félix, Catherine e Aksel apareceram na porta, Catherine veio direto em Akira parando ao meu lado e Félix com Aksel ainda buscavam entender o que aconteceu.
Aksel está com o rosto marcado por conta dos lençóis e metade dele está vermelho. Félix provavelmente já estava de pé.

Aki pediu para ficar sozinho com Akira por algum tempo, assim fizemos, deixando-os no quarto e fechando a porta

– o que acontece? –perguntou Aksel preocupado– por que Akira está chorando? 

– estava na mata mas não muito longe de casa, escutei um grito mas não imaginei que fosse aqui, acabei de chegar –disse Félix 

– Akira amanheceu essa manhã com sete cobras em seu quarto. Mas uma estava engolindo a outra e então elas saíram pela janela que estava entre aberta -explico a eles

– mas por que só o Akira passou por isso? –perguntou Aksel

– é oque vamos descobrir. Mas por agora vamos apenas deixa-lo se acalmar, Aki vai resolver isso

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