O Engano - A Organização Livro 1

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Gabrielli

Minha irmã foi até o meu quarto vestida apenas com uma camiseta de alças finas e uma bermuda extremamente reveladora, estou usando uma roupa de dormir que também revela bastante do meu corpo. Nosso pai saiu alguns minutos atrás para uma das várias missões que são incumbidas a ele, e como sempre ele fez aquilo com a minha mãe.

– Será que ela sente dor?

Minha irmã se deitou ao meu lado esperando a resposta, ela com certeza ouviu o que faziam mais cedo.

– Não sei, mamãe não gosta de falar sobre o assunto, mas já li nos livros como é. Dói na primeira vez, depois se o homem souber fazer não deve doer.

Entendo tão pouco do assunto, nossa mãe nos blindava desses assuntos dizendo que na hora certa iria nos explicar, mas se é assim ela e meu pai deveriam ser mais discretos.

– Minha cabeça dói com a quantidade de perguntas que tenho, mas é melhor esperar a hora certa, não é?

– Sim, mamãe não vai nos contar mesmo, fadinha. Agora vamos dormir, está tarde e amanhã temos que nos levantar cedo para a aula de línguas.

Gostava de ter minha irmã como melhor amiga, a maioria das moças da Organização já são casadas e muitas da minha idade tem filhos do tamanho de Jorginho. Meu pai quis me instruir da melhor forma para um casamento vantajoso, Teodoro Assis é o pretendente escolhido, inclusive meu genitor me avisou que quando voltar será realizado um jantar para o pedido de noivado.

Não amo Teodoro, mas ele cuida da contabilidade, é calmo e com certeza não terei emoções na minha vida como minha mãe tem por ter sido escolhida para se casar com um soldado de elite como meu pai. Não é como se pudesse opinar contra, vou noivar e casar com Teodoro e pronto. Espero que meu pai siga esse critério ao arranjar um noivo para Marcele.

A casa é protegida por três soldados, um na entrada, outro na porta principal e um aos fundos. Jorginho chorou como todos os dias as 01:30, ele não tem um sono muito bom, e mamãe ainda não tirou o leite materno dele, me levanto para ir até meu irmãozinho quando vejo Hugo Assis, ouço o grito da minha mãe sendo arrastada pelos cabelos, Jorginho ainda chorava quando um soldado saiu do quarto do meu irmão segurando-o pelo braço.

Tentei ir até meu irmão quando ele estendeu os braços em minha direção como costuma fazer quando tem medo de algo, mas Hugo puxou meus cabelos para trás me impedindo de ir até ele. Marcele também saiu do quarto, mas dessa vez Gregório foi até ela segurando pelos seus braços como se quisesse quebrá-los.

Eles nos levaram até a sala, enquanto outros homens nos olhavam de um jeito horrível, foram até o escritório do meu pai, mas voltaram minutos depois totalmente insatisfeitos como se tivessem procurado alguma coisa e não encontraram. Abracei minha mãe e irmã sem entender o que estava acontecendo, sentindo que algo não estava certo.

Jorginho ainda chorava, de repente o soldado perdeu a paciência com meu irmãozinho e deu um tapa no rosto dele. Mamãe não pensou muito quando correu até ele, o homem sorriu dando um chute na minha mãe a fazendo cair enquanto todos riram da cena, vejo Teodoro na porta com uma expressão desolada no rosto, tenho certeza de que não sairemos vivas daqui.

Minha mãe chorava enquanto eles riam dela e do seu esforço em tentar consolar Jorginho, sua roupa de dormir acabou subindo mostrando sua bunda, o soldado colocou seu pé em cima das costas dela a segurando no chão, o maldito usou o outro pé para terminar de levantar a roupa da minha mãe.

– Gusmão está bem servido, olha a bunda dessa vagabunda.

Marcele olhava para mim em desespero, não sabíamos o que fazer ou o que dizer, o medo nos paralisou nos deixando sem entender o que estava realmente acontecendo e porque estávamos sendo humilhadas desse jeito. Gregório se agachou até onde estávamos e tocou no rosto de Marcele, a serpente tatuada em seu punho apareceu enquanto parecia analisar minha irmã, depois seu olhar se voltou para mim, mas Hugo apareceu o impedindo de continuar.

– Seu pai traiu nossa Organização e as cinco famílias, e deve sofrer as consequências da traição cometida. Comecem pela mãe, depois será a mais velha e Gregório termine com a irmã mais jovem.

– MEU MARIDO É INOCENTE. JORGE JAMAIS TRAIRIA SEU PAI, ISSO É UM ENGANO, UMA MENTIRA PARA NOS DESESTABILIZAR. ESPEREM JORGE VOLTAR, ELE VAI PROVAR SUA INOCÊNCIA, NÃO DESONREM MINHAS FILHAS, PELO AMOR DE DEUS.

Eles riram dela e o mesmo soldado que a segurava começou a tirar as calças, olhei em desespero percebendo o que iria acontecer, comecei a gritar, mas a mão pesada de Hugo acertou meu rosto me fazendo ficar tonta, minha mente entrou em um colapso com todos os acontecimentos, via tudo o que houve e tentei inutilmente impedi-los de tocar na minha mãe, mas como faria algo se agora tinha um monstro em cima de mim.

Suas mãos pareciam agulhas afiadas tocando em partes do meu corpo que somente eu tinha direito de tocar, mas isso não importa, sou um objeto na mão desse maldito do Hugo Assis, sinto a dor de seu membro entrando dentro de mim com brutalidade, em um momento de impotência minha mente me distancia daqui, estou tendo um pesadelo, só isso pode explicar o que está acontecendo.

O grito de Marcele me desperta, sangue, choro e a visão da minha mãe sendo violada na nossa frente e na frente de Jorginho que agora olha para mim sem entender, parecia que não ia acabar, mas quando finalmente terminaram mamãe estava banhada em sangue, vejo uma faca em sua mão, ela tirou da cintura do soldado e se apunhalou, minha mãe tirou a própria vida.

Ouço risadas, Marcele está com os olhos abertos e vidrados sem nenhuma reação, não conseguia levantar sentindo uma sensação de abandono terrível e uma sujeira grudada de dentro para fora. Sinto o cheiro de urina e percebo que sou eu que estou com esse cheiro, mas não é de mim que saiu, mas sim deles.

Eles arrastaram os nossos corpos e todos mijaram em cima de nós, minha mãe ainda respirava, mas com dificuldade. Começaram a cuspir em nós, vejo tesouras em suas mãos e sei bem o que vai acontecer, vão cortar nossos cabelos, mas antes algo acontece e todos saem da casa, o mesmo soldado que machucou nossa mãe ficou aqui para nos vigiar, mas depois que todos saíram ouço uma arma sendo disparada.

O homem de confiança do nosso pai matou aquele que tocou em nossa mãe, seu olhar sobre nós era de desespero, ele tentou salvar minha mãe, mas percebeu que não conseguiria. Ele tirou seu paletó e camisa colocando em nós, pegou Jorginho nos braços escondendo seu rosto.

– Jorge não veio nos salvar, chamei por ele, Gabrielli, e ele não veio, seu pai nos traiu.

– Mamãe, poupe energia, não pense nele. Vamos embora, por favor mamãe. Nós precisamos de você. Não nos deixe, por favor!

– Cuida do Jorginho, não deixe seu pai com ele, nunca, Gabrielli. Confio em você e Marcele, vocês são minhas filhas preciosas, o que aconteceu não defini vocês. Pegue minhas joias e as suas, vão embora para o território neutro, não podem machucá-las estando lá. Mamãe ama vocês!

Ela morreu em meus braços levando um pedaço do meu coração com ela, Marcele gritava chamando por ela, mas não adiantava mais, mamãe estava morta.

– Gabrielli, não temos muito tempo, precisamos ir. Foi dado um alerta sobre uma invasão em um dos armazéns, portanto, teremos tempo, vou levá-las para o território neutro. Vá, não pegue nada além do necessário, eles vão voltar para terminar o serviço.

Nunca corri tanto em toda minha vida, entrei no quarto da minha mãe para pegar as joias e a foto de nós junto dela, peguei poucas roupas tentando fazer o mesmo para Marcele que parecia fora do planeta com os olhos banhados em lágrimas, peguei nossos ursinhos preferidos e o carrinho de Jorginho e suas roupas.

Entramos na carroceria da caminhonete de Vagner sem saber se poderíamos confiar nele, tudo que acreditávamos não existia mais, nossa família acabou, a incerteza de lidar com o futuro me apavora, mas não tenho outra opção, tenho que cuidar de Marcele e Jorginho, agora eles só têm a mim.