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Gabrielli

Acordei cedo junto com Marcele como de costume para irmos trabalhar, mas tivemos um pouco de dificuldade para passar no meio de tantos homens que estavam cuidando da nossa segurança, penso que tudo isso é muito exagerado, não vamos fugir é lógico, mas pelo jeito eles acham que vamos pela quantidade de homens que tem aqui na porta.

Pensei que eles não iam nos deixar trabalhar, mas pelo jeito eles não se importaram quando saímos, apenas um deles foi conosco para lavanderia, ele queria entrar dentro no meu local de trabalho, eu que não deixei. Todas as outras mulheres ficaram nos olhando como se estivessem curiosas com a movimentação diferente, tive que explicar o que estava acontecendo, muitas ficaram felizes por nós e outras preocupadas, afinal de contas agora é de conhecimento geral o que aconteceu conosco.

Não me importo que saibam, ainda me machuca lembrar daquela noite, mas agora faz parte de mim e da minha história, Marcele também tem o mesmo pensamento, apesar de ainda ter pesadelos como eu as vezes. Comecei a trabalhar junto com a minha irmã, de repente se iniciou um murmurinho nas primeiras máquinas da lavanderia, uma comitiva entrou dentro do nosso local de trabalho, Marcele percebeu quem era primeiro que eu e ficou atrás de mim como se quisesse se proteger.

– Senhor Gregório, bom dia, como posso ajudá-lo?

– Vim buscá-las para um passeio, mas fui informado que estão trabalhando, não entendo o motivo.

Marcele está segurando meu braço com força como se não quisesse sair de perto de mim.

– Estamos trabalhando, só saímos daqui depois das 16:00. Lamento não podermos ir ao passeio com o senhor, fica para uma próxima oportunidade.

Ele não pareceu muito contente com minha resposta, mas não vou permitir que esse homem ou qualquer outro tente mudar nossas vidas antes do determinado.

– Quem é o dono daqui? Posso pedir para saírem mais cedo, tenho planos para nós e não gostaria de cancelar, cunhada.

Marcele saiu de traz de mim ficando na frente de Gregório, percebi quando respirou fundo para ter coragem de falar.

– Senhor, não podemos e não queremos sair mais cedo, agradeço o convite, mas realmente hoje não vamos conseguir. Temos muitas roupas para lavar, separar e passar, como também algumas entregas, mais tarde é meu dia na cozinha do bordel e não posso faltar.

A expressão dele foi se fechando de um jeito horrível, me fez lembrar daquela noite, foi quando Vagner chegou. Ele percebeu que algo ruim estava prestes a acontecer e se antecipou.

– Gregório, se esqueceu que estamos em território neutro? Aqui não é como na cidade que você manda e desmanda. Venha, Jorge está lá fora e quer ter uma conversa em particular com você.

Gregório saiu, mas tenho certeza de que essa visita não foi a primeira e nem será a última. De repente todas as mulheres e outros funcionários correram até Marcele.

– Meu Deus, querida, você foi muito corajosa.

– Não sei de onde consegui ter força para falar daquele jeito, estou tremendo.

Consegui acalmar minha irmã sentindo um orgulho imenso por ter conseguido enfrentar aquele homem que fez tanto mal a ela. Jacó apareceu alguns minutos depois mandando todos voltarem ao trabalho, depois pediu para ir ao seu escritório, Marcele ficou, pois ele queria falar somente comigo.

– Seu pai me ligou, ele é bem abusado inclusive.

– O que ele queria?

– Ele me intimou a demitir vocês, Gabrielli. Mandei-o tomar no cu, não fui educado eu admito, mas seu pai é muito abusado. Pensa que aqui é território dele, mas é bom avisá-lo que não é, somente não mato ele por causa de vocês. Mas me conte sua história, nunca quis perguntar, mas agora que todos do nosso lixo parecem saber, talvez seja bom que eu saiba.

O Engano - A Organização Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora