O Engano - A Organização Livro 1

4

Gabrielli

– Não podemos manter contato, mas nesse cortiço tenho alguns amigos que se precisar de auxílio podem procurar, Irma vai cuidar de vocês, enquanto isso peço que fiquem dentro de casa, não saiam de forma alguma, seu pai é considerado um traidor, por sorte vocês não estão mortas.

Irma é séria e pelo jeito que nos olhou com certeza não nos quer em sua casa, estamos fedendo e cansados, Jorginho dormiu e agradeço a Deus por isso. Marcele parece estar no modo automático, seguindo até a casa pequena que pertencia a Irma segurando Jorginho.

– Aqui não terão o luxo que estão acostumadas, além disso quero uma garantia do aluguel.

Entreguei um brinco de ouro das joias que peguei, não os da minha mãe, essas vou usar apenas em extrema necessidade, pois sei que muitas são heranças da minha avó, joias de família. Consegui pegar as minhas joias e de Marcele, e enquanto puder vou usá-las, mas sei que minha realidade será bem diferente a partir de hoje.

– Espero que seja ouro de verdade, senão volto aqui acompanhada, aliás por que você e a outra estão sangrando?

Marcele estava com o rosto molhado e sujo, ela não parou de chorar um minuto sequer e eu não tive tempo de processar muito bem o que houve, por isso, não percebi que eles nos machucaram muito. Não ia conseguir falar, então apenas fiquei calada, enquanto tentava amparar Marcele.

– Isso não é da minha conta, amanhã venho aqui explicar como será as coisas. Tenho que voltar para o bordel, o restante do valor do aluguel venho buscar na próxima semana.

Irma se aproximou olhando para nós com atenção, tocou em meu rosto o levantando e fez o mesmo com Marcele.

– São bonitas, vão pagar bem para terem vocês, quando estiverem prontas me procurem, vou cuidar para conseguir bons clientes para vocês.

– Não vamos vender nossos corpos.

– Quando as joias acabarem e o bebê começar a chorar de fome, vocês vão sim. Sei como é, no começo negamos, mas depois o medo de passar fome vai mudar esse seu pensamento.

Não queria pensar nisso, não agora que eu tenho que pensar nos meus irmãos que são indefesos e estão tão sensíveis, mamãe morreu e nosso pai nos traiu, não é uma boa hora para pensar nisso.

– É muito para vocês processarem. Vou ligar o registro de água para tomarem um banho, tem sabonete e shampoo, mas vou querer receber por tudo isso. Nada nessa vida é de graça, quanto mais rápido entenderem isso melhor, preciso voltar.

Ela saiu batendo a porta com tanta força que acordou Jorginho, foi complicado acalmá-lo, mas depois de um banho ele acabou dormindo, não tinha muitos móveis e os que tinham estavam cobertos de poeira. Resolvi ajudar Marcele a tomar banho, ela ainda estava agindo de maneira automática sem entender muito bem o que havia acontecido.

Quando tentei lavar suas coxas ela se retraiu na parede do banheiro como se estivesse recordando de algo. Ela apontou para minhas partes íntimas como se quisesse mostrar o porquê não me deixava tocar nela, está sentindo muita dor com certeza, abracei minha irmã recebendo seu carinho em retribuição.

– Nós vamos superar isso, Fadinha, o que aconteceu não vai definir o resto das nossas vidas, iremos esquecer tudo isso e seguir em frente.

Queria muito acreditar que iria esquecer o que houve, só não sei ao certo se vou conseguir e nem como será nossa vida daqui para frente sem a proteção dos nossos pais e da Organização. Por mais difícil que seja tenho que seguir em frente, meus irmãos precisam de mim.