O Engano - A Organização Livro 1

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Gabrielli

– Irma, você está realmente bem? Maurílio está maltratando você? Estamos aqui para levá-la se for necessário.

Lucas admirava Adélia como se fosse tudo para ele, Irma observava os dois como mamãe fazia conosco. Ela parece ser uma mãe tão cuidadosa e amorosa, sabia que seria assim desde quando cuidava de Jorginho.

– Mamãe, acho que Adelinha dormiu.

– Sim querido, pode ir até a cozinha e pedir para a senhora Ava montar a mesa. Mas sem correr, sabe que seu pai não gosta.

Ele abraçou Irma e beijou seu rosto com carinho, fiquei observando a interação entre eles, em pouco tempo já estão tão ligados.

– Irma, pode me explicar.

– Posso. Lucas é sozinho, carente e sente falta de uma figura feminina, Maurílio não é um bom pai, tem algo errado, só não sei o que é. Parece que odeia o filho, Lucas é vítima de maus tratos, qualquer palavra ou ato é motivo para castigos, ele é um bom menino, doce e companheiro, sabe como o pai pode ser estável e agressivo. Foi ele que me alertou como lidar com Maurílio e sua mudança de humor.

Irma é a pessoa mais doce e amável desse mundo, mesmo depois de tudo está aqui cuidando do filho do homem que a machucou e a fez perder um bebê.

– Ele batia no pequeno? Irma, é perigoso ficar aqui minha amiga, venha comigo por favor.

– Sim, infelizmente, no dia que cheguei aqui Lucas estava preso sem comer e beber por três dias. Consegui fazê-lo deixar que cuidasse de Lucas, mas isso me custou mais um pedaço da minha dignidade, mas isso não importa. Lucas está bem, e é meu filho e sou mãe dele, durante todo esse tempo aqui estive protegendo Lucas. Não posso abandoná-lo, deixar Lucas aqui com um Maurílio totalmente instável e cruel é perigoso, ele com certeza pode matá-lo.

Ela olhou para o bebê conforto em que a pequena Adélia dormia zelando pelo sono da filha, logo Lucas voltou se sentando no colo de Irma e contando sobre o jantar que seria servido, e como estava com fome.

– Senhor Maurílio não gosta que coma antes dele, mamãe.

– Sei disso, meu filho. Logo ele termina de conversar e poderemos jantar, a senhora Ava fez o bolo que ensinei a ela de sobremesa?

– Sim mamãe, o bolo gostoso de morango.

Ele colocou sua cabeça no peito de Irma sorrindo enquanto fechava os olhos, meu coração doeu ao ver como Lucas dependia emocionalmente da minha amiga.

– Irma, o que posso fazer por você?

– Continue sendo minha amiga, Maurílio quer se casar comigo e vou fazer isso por Lucas, ele precisa de mim. Vagner se foi, e meu amor morreu junto com ele, o único homem que amei não me disse como eu era importante ou como tinha amor por mim, mas me deu Adélia, foi a única prova de que apesar de tudo Vagner me amou.

Agora ela chorava emocionada ao lembrar do passado, Vagner se mostrou um carrasco para Irma, mesmo assim ela ainda chora por ele e ainda o ama.

– Mamãe, não chora, o senhor Maurílio não gosta de choro. Ele pode castigar você mamãe, o cinto dói muito e sangra. Tia, quer ver a cicatriz nas minhas costas do cinto?

Ele só tem cinco anos, e sofre muito com toda essa situação com o pai. Mesmo assim, é inocente e puro como se nada de ruim que aconteceu com ele fosse horrível.

– Não, meu lindo, por que não chama Maurílio de pai?

– Porque ele não gosta, é senhor Maurílio, não sou burro e sei que não pode falar pai, é senhor Maurílio sempre.

Irma abraçou Lucas mostrando como entendia seu sofrimento, porque um dia ela também sofreu como ele. Duas pessoas subjugadas e humilhadas por um monstro terrível.

– Serei sua amiga. Me sinto impotente com toda essa situação por que não é justo, mas o que posso fazer? Irma, você é uma mulher maravilhosa, espero que Deus proteja você de todo mal.

– Você também é, Gabi. Mas não quero mais pensar em nada triste, me conte como está? Como estão meus afilhados? E Jorginho? E minha comadre Marcele, está tudo bem?

Contei para ela tudo que havia acontecido conosco nesses últimos meses, sobre Marcele e Gregório, sobre meu pai ter ido atrás dela no lixo, como também queria ficar com Jorginho. Falei sobre a investigação do acidente e que Hugo havia descoberto ter sido um atentado.

– Agradeço por me falar. Maurílio me mantêm presa aqui e não me conta nada, perguntei sobre Vagner, mas pode imaginar como ficou irritado apenas com a menção do nome dele. Preciso contar tudo que descobri, mas não pode ser aqui, Maurílio é louco com vigilância, essa casa é cheia de câmeras, seguranças e ouvidos em todos os lugares.

De repente uma senhora aparece avisando que o jantar já está servido, Lucas havia dormido no colo de Irma, ele se sentia protegido ao lado dela, e consigo entender bem esse sentimento. Ela acolheu duas mulheres perdidas com um menino pequeno e apenas nos deu amor sem receber nada em troca, nunca cobrou pelo aluguel, devolvendo as joias que dei de garantia nos primeiros meses.

Maurílio apareceu na sala junto com Hugo, sua expressão séria observava toda cena, não me lembro de um momento que este homem esteve com um semblante diferente, não sei o que fazer para salvar Lucas e Irma como também a bebê desse monstro.

– O jantar já está servido, Maurílio.

– Ótimo! Hugo e Gabrielli venham conosco.

Ele nos indicou onde ficaríamos sentados como também mandou a senhora nos servir, Irma pediu para Ava trazer Adélia para ficar perto dela, comemos em silêncio e confesso que o clima parecia estranho e pesado. Até que Hugo resolveu começar um assunto sobre plantio de milho, Maurílio cuidava dessa parte de sua família e pareceu gostar do assunto.

Lucas estava de cabeça baixa sem fazer contato visual com ninguém até que Irma tocou no seu rosto o incentivando a comer. Maurílio observava com uma certa irritação no olhar a interação deles, tive medo por Irma, mas principalmente por Lucas. Terminamos a refeição logo sendo servidos com o bolo de morango da minha amiga, Maurílio se levantou tirando do bolso uma caixinha de veludo, ao abrir havia um anel de safira muito bonito.

– Quero aproveitar a oportunidade que estão aqui para serem testemunhas desse momento: com sua benção e permissão primo, quero formalizar oficialmente meu desejo de tornar Irma minha esposa.

Minha amiga não teve uma reação de imediato, apenas estendeu sua mão para Maurílio colocar o anel no seu dedo. Ele beijou sua mão, mas o que não entendo foi o motivo para Hugo ter dado sua benção para Maurílio, será que estou me deixando enganar com Hugo e suas intenções? Com certeza teve um motivo muito forte para que Hugo tenha dado sua benção ao seu primo, pois para mim não faz sentido.