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Gabrielli

– Minha linda, você precisa comer alguma coisa. Fiz uma sopinha bem leve para você, aquela de abóbora e carne que você tanto gosta.

Irma ficou comigo assim que soube o que houve, uma amiga e irmã cuidando de mim. Davi está ao meu lado como sempre, me consolando mais uma vez, ele está me abraçando e fazendo carinho no meu rosto coberto por lágrimas.

– Odeio Hugo, maldito desgraçado que me deixou, Irma. ELE PROMETEU CUIDAR DE MIM, COMO EU ODEIO SENTIR ISSO.

Sinto uma terrível sensação de abandono como foi das outras vezes, odeio essa roupa preta, mas com certeza as lembranças são as piores, não deveria ter deixado se aproximar, ter revelado minhas fraquezas e permitido ver tanto de mim.

– Linda, você não o odeia. Se apaixonou por ele, e está sofrendo pela morte dele.

– Não, você está enganada, não estou apaixonada por ele.

Davi segurou meu rosto como se quisesse atenção, sei que quer mamar, o ajeito no meu colo dando o que queria, estou fraca, mas Davi precisa de mim, sei que Hugo iria querer que cuidasse do meu filho.

– Está sim. Se não estivesse não teria chorado tanto durante esses últimos dias, Hugo cometeu um erro, mas diferente do que se imaginava ele se redimiu com você, Gabi, respeite seu momento de luto e compreenda seus sentimentos. Ele foi um homem imperfeito, mas quando teve oportunidade mostrou seu valor, agora vou alimentar você como uma menina, sei que se sair daqui esse prato vai ficar intocável, precisa de energia para cuidar do seu nenê, Davi agora precisa de você.

Não havia como discutir com Irma, ela tem razão, Hugo era um homem imperfeito, mas foi meu como fui dele. Deixei que Irma cuidasse de mim, de todas as pessoas que vieram nos visitar para prestar seus sentimentos poucas tiveram a mesma sensibilidade da minha amiga.

– O casamento foi adiado. Mesmo que não fosse decidir ficar, não vou fugir depois do que houve, precisa de mim para cuidar de você e Davi. Maurílio permitiu que viesse todos os dias cuidar de você, da casa e de Davi junto com Naná, vamos superar tudo isso juntas.

Marcele entrou no meu quarto com Rute e Jorginho, durante um mês temos que vestir preto por luto pela família. Minha irmã se senta ao meu lado beijando meu rosto, novamente começo a chorar sentindo saudades de Hugo, parece que essa dor nunca terá fim.

– Como está, irmã?

– Estamos indo, Gregório está destruído, mas fingindo estar bem para poder seguir em frente depois de tudo que aconteceu, investigações estão sendo feitas, mas nada foi encontrado. Nosso sogro ainda está internado e a senhora Margarida não para de chorar e lamentar, está conosco em casa, estou cuidando dela, é triste vê-la tão desolada. Conversamos muito, mas sei que não vai resolver, perder um filho é horrível, não passei pelo que nossos sogros estão passando, mas entendo, se tivesse perdido minha Rute com certeza morreria.

Compreendo perfeitamente meus sogros, como é terrível pensar em perder Davi. Irma insisti para tomar a sopa, mas não estou com fome, realmente faço um grande esforço para comer por Davi, preciso ter força para cuidar dele. Davi já está dormindo em meus braços, resolvi trazer seu berço para o meu quarto depois que algumas noites atrás ele começou a chorar e gritar pelo pai.

Os dois eram bem próximos um do outro, Hugo brincava com ele todos os dias antes do jantar, observava ele dormir e dizia que se sentia privilegiado sendo pai de Davi. Quando finalmente terminei a sopa, Irma ficou mais um pouco comigo, mas depois se despediu com Marcele, Jorginho me abraçou percebendo toda situação.

– Jorginho ama a mamãe Gabi.

– Também te amo meu lindo, vou ficar bem, cuide da mãe Mar e da Rutinha.

Novamente estou sozinha com as lembranças, Hugo está em cada canto dessa casa como se não tivesse morrido, vejo seu sorriso debochado e bonito em todo lugar, quando me deito para dormir sonho com ele me possuindo, pegando cada pedaço da minha resistência e destruindo à medida que me tomava na cama todas as noites.

Os dias parecem borrões ao passarem diante de mim, dois meses se foram, mas a minha mente e corpo se negam aceitar a dor da perda do meu marido. Nem sequer um velório e enterro tivemos já que o corpo foi totalmente incinerado, uma homenagem póstuma foi o que Hugo teve, algo tão frio e triste. Sei que estou mais magra como também que estou apenas sobrevivendo por causa de Davi.

Desgraçado, falei para não gozar, quero mais.

Hugo olhava em minha direção debochando do meu desejo e vontade, um fogo poderoso foi aceso dentro de mim por ele agora se recusa em apagá-lo. Ele se deitou ao meu lado puxando meu corpo, colocou seus dedos dentro da minha buceta procurando o ponto que me faria ir da Terra ao céu em minutos.

– Minha vagabunda não se cansa, não é? Vou fazer você gritar a noite inteira só com meus dedos, sei que vai gostar tanto, meu amor.

As lembranças enchem essa casa, será que realmente não se morre de amor? Sinto como se minhas energias tivessem sido drenadas de mim, Hugo morreu levando tudo que trouxe de volta para minha vida, quando Teodoro se foi senti uma sensação de impotência, pois não vivemos o que planejamos.

Mas com Hugo é diferente, tudo foi acontecendo rápido e de uma maneira avassaladora. Ele tinha conseguido quebrar minhas barreiras uma a uma, tornando minha vida em algo que não imaginava, não era só o sexo brutal e animalesco, mas os jantares, a presença, nossos banhos pós sexo, nossas conversas e até dormir ao seu lado em noites frias mostravam que era muito mais que uma atração física.

– Bom dia cunhada, como vai?

– Estou indo como Deus permite, soube algo sobre o atentado?

– Infelizmente não. Mas tenho uma suspeita: antes do que aconteceu meu irmão recebeu Gusmão no seu escritório.

Fazia todo sentido, meu pai havia brigado com Hugo um dia antes, é claro que seria muito bom para ele Hugo morto, pois teria sua maldita honra limpa depois da afronta no jantar de noivado de Irma.

– Gabrielli, não fique pensando em nenhuma besteira, estou investigando. Gusmão teria motivos, mas não seria idiota de fazer uma merda desse tamanho.

– Ele teve coragem de entregar Marcele a você, Gregório. Ou esqueceu como fez minha irmã sangrar por dias? Sei bem como minha irmã ficou depois do que fez a ela. Meu pai só se importa com honra, reputação ou qualquer droga do gênero. Onde está meu pai?

Estou fora de mim andando de um lado para o outro, se meu pai tiver tirado Hugo de mim ele vai se arrepender amargamente.

– Ele está na casa dele, mas não faça nada que possa prejudicar a investigação cunhada, pelo amor de Deus.

– Não vou fazer fique tranquilo, mas vou descobrir o que está acontecendo, se meu pai tiver feito alguma coisa garanto a você que ele vai se arrepender amargamente. Agora pode por favor ir embora, quero ficar sozinha!

Precisava pensar e ter meu cunhado ao meu redor não ajudava muito, quero descobrir se meu pai tem algum envolvimento com a morte de Hugo, se tiver ele também pode ter algo a ver com o que aconteceu com Teodoro, realmente não sei o que pensar.

 

 

O Engano - A Organização Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora