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Hugo

Gabrielli acordou e foi direto para o banho, ficou lá durante um bom tempo, quando resolvi entrar notei que ela estava sentada na banheira quieta mexendo na água, fui à banheira observando cada movimento dela.

– Está doendo, é normal?

Me aproximo dela beijando sua boca, sei que ela com certeza está assustada com a intensidade do que estamos vivendo ontem.

– Sim. Admito que exageramos, mas vai passar, meu amor.

– Posso perguntar algo: quando você está com Tina, ela faz o mesmo que eu?

Gabrielli não olhava para mim, apenas para suas mãos mexendo na água, dessa vez foi ela que encheu a banheira e colocou um sal de banho com um aroma gostoso com canela.

– Não, amor, o que temos é só nosso. O que tenho com a Tina não pode jamais ser comparado com o que eu e você compartilhamos. É algo nosso, Gabrielli!

– Mesmo assim você precisa de Tina, do lado bom, doce e saudável. Sou uma mulher perturbada e doente, você está todo marcado, o que fazemos é terrível.

Tudo que aconteceu com ela a mudou, sinto que Gabrielli gosta do que fazemos e de toda devassidão, mas depois parece arrependida e triste como se tivesse algum sentimento de culpa.

– Amor, não é terrível. É gostoso, depravado e bem diferente, você não é doente. Não precisa se sentir mal com nada que fazemos, mas talvez queira fazer um sexo diferente do que fizemos.

Gabrielli mudou a expressão no mesmo instante se afastando de mim como se tivesse dito algo muito errado.

– Não. Gosto do que temos, não quero parar, nosso combinado é bom. É sujo e imoral mas é isso que sou, foi isso que você me tornou. NÃO TENTE TIRAR O QUE TEMOS DE MIM, HUGO.

Ela se levantou subitamente nervosa com o que disse, no fundo Gabrielli não se sente culpada pelo que fizemos, pelo contrário ela gosta e quer muito mais.

– Nada vai mudar no nosso acordo, Gabi, vamos relaxar um pouco, aproveitar esse momento juntos.

Gabrielli voltou sentando-se no meio das minhas pernas como da última vez, ficamos em silêncio aproveitando nosso momento como um casal sem a loucura que nosso relacionamento é.

– Amo você do jeito que é, meu amor.

Ela fica calada enquanto abraço seu corpo, Gabrielli não me afasta ou agride, fica apenas comigo como sempre sonhei na vida, ainda assim sinto que falta algo e sei muito bem o que é.

Gabrielli

– Não tenho hora para voltar hoje meu amor, não precisa me esperar para o almoço.

Ele vai atrás de Tina, consigo sentir no meu íntimo que não sou o suficiente para Hugo, ele pode dizer que me aceita, mas sei que não, tem aversão do que sou. Vai procurar o normal e aceitável, pode dizer que me ama, mas sei que é para me adestrar e manter uma esposa quieta.

– Tudo bem, tenha um bom dia.

Ele segura meu queixo e beija suavemente meus lábios, sua boca tem um gosto bom de café, já sei seus hábitos e costumes durante nossa convivência. A forma que se arruma e se veste, sei que gosta de fumar quando está com muito trabalho, mas evita fazer isso na frente de Davi como também de beber perto do nosso filho.

Meus dias são ficar em casa lendo, estudando e cuidando de Davi, queria ser mais útil, ficar nesse lugar de esposa perfeita me incomoda, Davi agora está brincando no jardim enquanto leio um livro, logo vejo Marcele passando pela porta do jardim que liga nossas casas.

Minha irmã está com Rute no colo junto com Jorginho que está correndo como sempre, ela se senta ao meu lado deixando Davi brincar com a prima. Conversamos como todos os dias nos reaproximando cada vez mais, porém não consigo contar para ela o que faço com Hugo. De repente vejo um carro parar na frente do portão, e Irma desce junto com sua bebê e Lucas, vou até onde estão para ajudá-la.

– Como estava com saudades, meninas, veja só meus afilhados como estão bonitos.

Ela sorria para Rute e Davi como também para Jorginho, Lucas correu em direção das crianças, ele parece bem alegre e disposto totalmente diferente da última vez que o vi. A pequena Adélia muito doce e meiga observava no colo da mãe toda nossa animação.

– Como você está, Irma?

– Estou vivendo. Maurílio está empenhado a me humilhar, enquanto Vagner queria me manter isolada, Maurílio quer que todos saibam da escolha péssima que fez. Aliás vim entregar o convite da megafesta de noivado que ele decidiu fazer, como sei que só vocês vão, vim trazer o convite.

Ainda não aceitei esse casamento e para mim Maurílio quer se casar com Irma apenas para ser pior que Vagner.

– E o senhor Rossio, como ele recebeu a notícia do casamento?

– Odiou, me xingou e ofendeu. Nada que não seja acostumada, só queria poder tirar Adélia e Lucas dessa situação ruim. Maurílio não é um bom pai e sei que será um péssimo marido, suspeito que a mãe de Lucas morreu por causa dele, não sei, o jeito que fala dela com ódio e raiva. Preciso falar do meu plano: quero fugir com as crianças, mas preciso de ajuda, consegui falar com Jacó, ele já deixou tudo organizado, sei para onde vou e tenho certeza de que ninguém vai me achar.

Percebi como ela está nervosa, deve ser horrível sair de um lar abusivo para entrar em outro. Irma é tão boa e gentil, não merecia viver essa vida abominável com um homem terrível.

– Como pensa em fazer? Saiba que estaremos com você no que precisar.

– Vai ser no dia do casamento, todos estarão distraídos e assim posso fugir, Lucas e Adélia terão uma vida feliz e maravilhosa, tenho esperança para os meus filhos, sabe, meninas, sempre pensei que ter um homem me daria paz e uma família mas veja: Vagner me tratou como se fosse nada e Maurílio quer me humilhar sem um motivo claro, mas nunca precisei de homem para nada, todos os homens que entraram na minha vida, do meu pai até Maurílio só trouxeram desgraça e dor, mas Adélia não terá este destino e Lucas será um bom menino.

Seus olhos brilhavam pelas lágrimas que se acumularam, como é difícil vê-la tão vulnerável, penso que sua vida é uma desventura sem fim. Ficamos conversando por um tempo até que Irma decidi ir embora dizendo que precisava chegar em casa antes de Maurílio, nos despedimos, mas senti um grande aperto no coração.

– O que podemos fazer por ela, irmã? Irma está sofrendo.

– Temos que rezar por ela e ajudar com a fuga no que for necessário, ninguém tem direito de tirar o direito dela como fizeram conosco.

No que Irma precisar, ela terá de mim, como um dia fez por mim farei por ela também.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Engano - A Organização Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora