Irma
Observo o quadro dela admirada de como era bonita e parecia angelical, Lucas tem muito dela em sua fisionomia, imagino que o temperamento calmo do meu filho seja dela. Maurílio é alguém que pode parecer calmo, mas sei bem que não é assim. Sinto a presença da governanta ao meu lado, já percebi que ela é a principal adoradora de Mirela nessa casa, não me faz esquecer um momento dela como se ela estivesse viva.
– Ela não suportaria saber que o senhor Maurílio vai se casar com alguém como você.
– Ainda acredita que quero esse casamento? Sou prisioneira aqui, não é meu desejo permanecer ao lado de Maurílio, a senhora não consegue entender, não é?
Ava é uma senhora que não entende a verdade, está cega como Maurílio, os empregados me avisaram dessa obsessão pelos patrões, ela sempre soube dos maus-tratos contra Lucas e nunca fez nada para defender o menino.
– Ela sempre será a dona dessa casa e do coração do senhor Maurílio, e você sempre será uma qualquer aqui.
– Não adianta falar, parece que não quer ouvir, vou ver como estão as crianças.
Tudo que queria era pegar as crianças e ir embora daqui, as vezes sonhava acordada com uma realidade que não existisse Maurílio, essa Organização e nem mesmo o meu passado para me perseguir a todo momento. Lucas está zelando a irmã como sempre, ele tem um cuidado e amor por ela que só não supera o meu.
– Mamãe, por que Adélia não fala?
– Porque ela é muito pequena, mas logo Adélia conversará sobre tudo. Filho, fez o treinamento? Como foi?
Ele odeia os treinamentos, detesta os gritos e com certeza é bem insubordinado, na verdade Maurílio incentiva que os mestres sejam cruéis e até severos além da conta com meu menino, não sei como é ter um bom pai, mas com certeza dá para perceber que os homens dessa família não sabem o que é uma boa paternidade.
– Mamãe, não quero falar disso, quero tomar banho. Você me dá banho?
Lucas é uma criança, sente falta de atenção, carinho e principalmente de amor, antes ele mesmo que tomava banho sozinho, mas acredito que goste do cuidado que tenho com suas feridas. Tiro sua roupa percebendo as marcas da vara de madeira em suas costas e pernas, queria poder fazer algo para evitar que sofresse tanto, mas não posso.
– Mãe, você ama o senhor Maurílio?
– Porque pergunta, meu menino?
– Porque eu acho que não, está se casando com o senhor Maurílio para cuidar de mim e porque também tem medo dele como eu.
Lucas é esperto demais para sua idade, já percebeu o que está acontecendo. Liguei o chuveiro pronta para colocá-lo no banho, meu filho olhou para mim em expectativa pela resposta.
– Lucas, a mamãe já amou seu pai ou pensou que amava, mas isso já tem muito tempo, mamãe era muito nova e ingênua, é complicado de explicar, apenas quero que saiba que amando ou não o seu pai meu sentimento por você não muda.
– Tudo bem, mamãe. Também amei o senhor Maurílio, mas já não amo mais, sinto algo muito ruim porque ele machuca você, e sei que deixa para me proteger.
Queria muito poder mudar nossa realidade, mas não tenho poder para isso, termino de ajudá-lo no banho levando-o para trocar de roupa, coloco Lucas na cama ajeitando seu corpo nas cobertas. Ensinei Lucas a rezar e agradecer, ele prontamente aceitou fazer isso toda noite, quando termina de rezar beijo seu rosto me despedindo.
– Eu te amo, filho.
– Também te amo, mamãe.
Fui na direção do quarto de Adélia para vê-la, foi quando vi Maurílio segurando a minha filha que parecia admirada com ele, fui praticamente correndo para pegar Adélia de volta, mas Maurílio se negou a entregar.
– Ela está cada dia mais linda, não é Irma?
– Sim Maurílio, mas me deixe pegá-la, ela pode ter feito xixi e está com fome.
O seu olhar foi de mim para ela como se soubesse do meu medo, se Maurílio faz mal para Lucas que é seu filho legítimo, o que não vai fazer com Adélia que não é sua filha.
– Sabe Irma, as vezes tenho a impressão de que não aceitou muito bem o fato de que serei seu marido e consequentemente pai de Adélia. Mas é só impressão, não é?
– Sim Maurílio, é só impressão. Estou aqui vivendo com você e sei que será meu marido e pai da minha filha.
– Então por que parece estar com medo?
Sempre estou com medo, mas tem momentos como agora que não consigo disfarçar como Maurílio causa uma reação terrível em mim.
– Não estou meu amor, só fico preocupada dela estar fedendo perto de você ou faça algo que o irrite. É só isso!
Odeio ter que mentir, detesto ter que me insinuar para ele, não sei até onde vou suportar esse inferno de vida. Me aproximo dele segurando seu rosto com carinho, Maurílio fecha os olhos receptivo aos meus toques.
– Podia me deixar cuidar de Adélia, vá para o quarto e me espere lá sem roupa, podemos brincar um pouco, o que acha?
Ele colocou Adélia no berço novamente, minha filha olhou para ele e sorriu, mas ele não correspondeu. Maurílio pegou minha menininha para me amedrontar, ele sabe que as crianças são meu ponto fraco por isso as usa para me desestruturar. Ele aperta meu braço com força como se quisesse quebrar, fecho meus olhos com medo dele me bater de novo como fez alguns dias atrás.
Maurílio queria saber sobre o motivo do jantar que será promovido por Gabrielli, sabia o motivo, mas disse que não tinha conhecimento de nada. Ele não acreditou, por isso me bateu com uma vara de madeira, a mesma usada para castigar Lucas. Nunca trairia minha amiga, portanto deixei que me espancasse até acreditar que não sabia de nada.
– Espero que não tenha mentido para mim sobre o jantar de Gabrielli.
– Maurílio, por que insiste nesse assunto? Gabrielli só está querendo unir os líderes da família para um jantar, não sei de nada além disso.
Tenho medo do que possa fazer com as crianças, comigo não me importo tanto. Deveria ter morrido a muito tempo, já pensei em acabar com a minha existência medíocre, mas Adélia e Lucas precisam de mim.
– Tudo bem, vou confiar em você, afinal será minha esposa e entende sua função. Agora cuide da menina, estou esperando você ansiosamente, querida.
Seus lábios tocaram os meus, mas não consegui corresponder, as vezes mesmo que em poucos momentos não consigo corresponder aos seus toques. Maurílio tem o dom de me fazer ter a sensação de sujeira, de odiar o que fui e o que sou, queria poder não demonstrar tanto como ele me afeta.
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O Engano - A Organização Livro 1
عاطفيةO ENGANO Viver em uma organização criminosa por toda a vida me ensinou duas preciosas lições: não seja um traidor e saiba que o silêncio é de ouro. Não queira jamais infringir essas regras, pois, todos ao seu redor sofrerão as consequências de suas...