O Engano - A Organização Livro 1

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Hugo

O olhar dela sob mim era de acusação e certeza, eu era a única pessoa que tinha todos os motivos para querer a morte de Teodoro, mas não fiz nada, jamais iria ferir sangue do meu sangue. Ver a minha família mais uma vez passando por uma perda é terrível, me lembro como foi a morte dos meus tios e de como foi horrível o processo de luto.

Tive que assumir minhas funções como o líder da família organizando o velório e cuidando de todos os trâmites da liberação do corpo até o acionamento dos membros da família. A noite o corpo de Teodoro já estava preparado, o velório seria no espaço das cinco, o lugar reservado para este tipo de evento. Gregório avisou Marcele e Gabrielli sobre a morte de Vagner como também que Irma foi embora.

Imagino que Gusmão não iria permitir a presença de Irma, e ela para não criar um clima tenso resolveu voltar para sua casa no território neutro. Vagner não tinha familiares vivos, portanto seu velório foi rápido com um enterro feito em poucos minutos, já do meu primo acredito que irá noite adentro até amanhã.

Gabrielli usava um vestido preto olhando para a direção do caixão como se ainda não estivesse acreditando que Teodoro estava morto, Marcele está cuidando das crianças com a ajuda de Naná, mas percebe como a irmã está, não sei se sabe do envolvimento dela com meu primo. Ela se levanta e começa a andar em direção ao jardim, era o lugar que os dois se encontravam para cafés e momentos de conversa.

Eles eram muito mais do que amantes, eram amigos, falavam sobre assuntos em comum e sempre acabavam rindo de algo que um ou outro falava. Ela se senta no banco de sempre, tira os sapatos e começa a chorar, é um choro silencioso, mas consigo sentir o desespero em sua feição. Teodoro era sua cia, seu amigo e amor, já me conformei que nunca serei isso em sua vida.

– Gabrielli, ele amava você, antes de morrer Teodoro pediu para cuidar de você. Sei que pensa que tenho algo a ver com esse atentado, mas não tenho, Teodoro mexeu com pessoas perigosas para inocentar sua família, já imaginava que havia alguém das cinco famílias envolvido, mas agora tenho certeza.

– Acredito que vai investigar então?

– Claro, por que não? Teodoro era meu primo, fomos criados juntos, confesso que não éramos melhores amigos, mas isso não muda o fato de que ele sofreu um atentado, além dele Vagner morreu, portanto ambos precisam ser vingados.

Sei que nada que diga fará Gabrielli acreditar em mim, mas farei o possível para que os verdadeiros culpados paguem pelo que fizeram.

– Vingança. Tudo se resume a honra, a reputação e todas essas merdas que matam pessoas ou deixam pessoas como eu e Marcele vivas, mas fodidas da cabeça. Sabe Hugo, quero acreditar de verdade que você não tem nada a ver com o que houve, até porque não colocaria em risco sua família novamente, não é? Imagine se soubesse que eu e Teodoro estávamos tendo um caso, como isso iria manchar a reputação da família Assis e a minha também, não é? Deveria contar como ele me possuiu aqui nesse banco como um louco apaixonado, sabe, o sexo com amor é bem diferente do que o sexo para vingar uma traição, mas com certeza você deve saber a diferença já que está a tanto tempo com sua amada Tina.

Aqui não é hora e nem momento para começar uma discussão que não vai adiantar de nada, Gabrielli já tem uma opinião formada sobre mim e nada vai mudar isso, além dela mesma querer modificar essa ideia. O sol no horizonte chamava a atenção de Gabrielli que começou a chorar novamente, como queria poder consolar ela, mas sei que não tenho esse direito.

– Pense o que quiser. Já tenho culpa demais para carregar, não vou carregar mais uma que não é minha. O enterro será daqui 30 minutos, vou dar um jeito de tirar todos da sala para que possa se despedir de Teodoro com privacidade.

Não tinha nenhuma obrigação de fazer isso, mas não posso menosprezar o sentimento que ela sente por Teodoro, ler as mensagens deles a cada dia me consumia por dentro, saber que nunca teria aquela mesma devoção e amor me machucava mais do que a traição em si, mas reconheço que eu era o intruso na relação, alguém que atrapalhava a felicidade deles. Voltei para a sala onde meu primo estava sendo velado, fui até seu caixão olhando para ele pela última vez.

– Prometo que vou vingar você Teodoro, sua morte não será em vão. Pode ir em paz meu primo, vou cuidar da nossa Gabrielli, só peço que onde você estiver possa me ajudar com essa missão difícil.

Gabrielli

Não havia ninguém na sala ou nos arredores, apenas Teodoro e eu, a promessa de uma vida feliz e calma foram embora junto com o homem que trouxe cor para minha vida escura, agora tenho certeza de que meu caminho é solitário, preciso aprender a viver só por mais difícil que seja.

Toco no rosto de Teodoro pela última vez, me arrependendo por não ter me deitado com ele nas muitas vezes que tivemos oportunidade, não terei nenhuma lembrança dele me tornando sua. Minha idiotice de esperar para quando estivesse totalmente livre de Hugo e uma moral boba não me fizeram tê-lo como homem.

Ele não insistia, nem mesmo um beijo me pediu, talvez por pensar que depois de tudo ter começado errado, se tratando do sexo em minha vida, quis respeitar minhas vontades. Viver sem ele será terrível, conviver novamente com a escuridão que vivi dentro de mim se alimentando dos meus traumas mais profundos e a sensação terrível de culpa por tudo que houve, mesmo que não tenha sido minha culpa.

Teodoro parecia um anjo dormindo, Margarida o vestiu muito bem, meu amor acreditava que a vida não tinha fim, que quando morremos não é o término eterno e sim o começo eterno, espero que ele onde quer que esteja possa me ver e cuidar de mim. Queria poder beijá-lo como tanto desejei, andar com ele pelas areias da praia ou ouvi-lo contar sobre o mundo, mas Teodoro não está mais aqui.

– Quero que fique em paz meu amor, vou descobrir quem tirou você de mim e vou fazê-lo pagar. Hugo disse que não é ele, mas não acredito muito, pode ficar tranquilo que sua morte não será esquecida.

Beijo levemente sua boca me despedindo do único homem que foi capaz de me trazer paz e alegria, sei que a vida sem meu Teodoro será difícil, mas não tenho outra opção a não ser viver, a minha principal motivação é descobrir quem matou meu amor, por mais que Hugo tente me convencer que não foi ele vou descobrir e até sei como.

O enterro foi rápido e melancólico, além de ter pedido minha mãe, minha dignidade e tudo que aprendi como certo agora perdi meu Teodoro, minha fonte de alegria e paz, o amor que a vida me deu. Vejo seu caixão sendo abaixado para debaixo da terra, saio de perto das pessoas sentindo uma sensação de impotência como foi com minha mãe.

Sem choro e com a sensação terrível de que nada poderia trazer minha vida de volta, todos os sonhos que mamãe destinava para mim e todos que sonhei com Teodoro se foram, agora apenas me resta aguardar minha morte unida a essa família amaldiçoada.