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Hugo

Algumas semanas depois.

Não há praticamente ninguém no noivado, mas parece que Irma sabia disso, ela foi educada e sorriu o tempo todo, sei que está encenando como se já não tivesse motivos para lutar, ela cumprimentou meus pais como se não conhecesse nosso pai, foi atenciosa com tio Rossio mesmo depois dele ter a ofendido tanto.

– Isso é uma verdadeira palhaçada. A quem essa meretriz quer enganar?

– Ninguém, sogra. Irma apenas está sendo educada e gentil, atributos que as cinco famílias não tiveram com ela, palhaçada é o que Maurílio está submetendo-a e as crianças.

Gabrielli não tem vergonha de defender a amiga, admiro tanto a força dela e não sou capaz de repreendê-la por ser assim. Depois da última vez não paramos mais com o nosso acordo, a noite somos selvagens usufruindo da devassidão sexual um do outro, mas depois tudo se torna vazio como se apenas fôssemos amantes apaixonados na cama, mas fora dela não passamos de um casal frio.

– Vou ver se ela precisa de ajuda na cozinha, com licença.

Gabrielli saiu com Marcele ao lado junto com as crianças, Gusmão aparece na entrada cumprimentando Rossio e Maurílio, depois vai até nós cumprimentando a todos como manda o figurino. Ele observa que não há muitos convidados e parece gostar disso, é outro que odeia Irma de maneira gratuita.

Vou até meu primo notando como está feliz, Maurílio acredita que Irma vai trazer uma felicidade que foi negada a ele quando se casou com Mirela, mas não é bem assim.

– Maurílio, pode voltar atrás nesse noivado, ninguém vai julgar você se desistir. Irma vai ficar bem, vou cuidar para minha irmã ficar longe com a menina.

– Desistir? Nunca. Irma me ama primo, seremos felizes como deveria ser, ela está animada com o casamento e está preparando tudo sozinha. Não se preocupe, vou cuidar da sua irmã, não se esqueça do que fiz por sua família e Gusmão.

Estamos nos articulando silenciosamente para não chamar a atenção depois do que Maurílio me contou. Mentimos que a causa das mortes foi uma sabotagem, fizemos uma encenação ridícula com os responsáveis por terem mexido nos carros, mas apenas para deixar o verdadeiro responsável tranquilo.

– Tudo bem, é escolha sua. Pare de bater na minha irmã, vi a marca no braço dela, por que disse que a ama e agride Irma constantemente? Isso não é amor.

– Cuide da sua vida e do seu casamento, primo, Irma está sendo disciplinada e entende que é para ser uma mulher melhor, e está tendo efeito, está mais submissa e entendendo melhor seu lugar ao meu lado.

Não é isso que vejo. Maurílio está cego em meio ao passado e a sinais errados que está recebendo, consigo ler bem as pessoas, Irma sorri, mas o seu olhar é carregado de angústia e medo, percebo como afasta as crianças de Maurílio como se tivesse medo de que ele faça o mesmo com os pequenos como faz com ela.

Mas meu primo não consegue enxergar isso, o que houve com ele o enlouqueceu, infelizmente Maurílio é um risco não só para sua família, mas para ele mesmo, é lamentável vê-lo se tornar um alucinado.

– Pare de bater nela, é o último aviso.

– Vai fazer o que se não parar? Não se esqueça de tudo que contei a você, e de como entreguei o verdadeiro traidor em uma bandeja de prata, agora se me der licença vou chamar todos para o jantar.

Respiro fundo para não matar Maurílio, mas tudo que menos preciso agora é um embate dentro da casa do meu primo, todos se reunirem na mesa esperando o jantar ser servido, Irma se senta ao lado de Maurílio sorrindo, mas sei que não queria estar aqui. Ela segura a bebê com carinho beijando seu rosto, Lucas está ao lado dela, mas está sério, é o medo de ser punido por Maurílio.

O Engano - A Organização Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora