Gabrielli
Fiquei a viagem inteira de volta para casa calada, o que eu estava pensando? Hugo não é meu amigo, e sim o homem que me estuprou e agrediu. É lógico que iria ficar do lado do primo, deve até ter incentivado Maurílio a continuar agredindo Irma como com certeza deve saber dos abusos que o pobre menino Lucas passa. Depois de hoje tenho certeza de que não está investigando nada sobre Teodoro, pois tem envolvimento direto com o que aconteceu.
O certo é fingir que não estou desconfiada dele, Teodoro merece ser vingado e se Hugo tem algo a haver com o que houve vou fazê-lo pagar, mas para isso tenho que ganhar sua confiança. Hugo também não falou nada até chegarmos na casa Assis, quando ia descer do carro ele segurou meu braço como se quisesse falar algo.
– Quero dormir com você hoje.
– Por quê? Pensei que havia deixado bem claro minha posição sobre esse assunto, não se preocupe comigo, não ligo que vá visitar Tina.
Ele soltou meu braço para colocar suas mãos no meu rosto, se aproximou como a muito tempo não fazia.
– Não preciso de Tina, mas de você, por favor, só essa noite. Tenho que tê-la comigo Gabrielli, estou implorando para que aceite ser minha.
Não entendi o motivo de tudo isso, Hugo jamais implorou durante todos esses meses, parecia entender a repulsa que sentia dele e aceitar, mas agora o jeito que está olhando para mim e tocando no meu rosto mesmo percebendo como essa proximidade me deixava me causa estranheza.
– Hugo não, por favor. Não consigo...não insista.
Seu semblante mudou de repente, segurou meu rosto com mais intensidade como se nada que disse fizesse algum efeito.
– Gabrielli, hoje você vai dormir comigo, preciso sentir seu cheiro, saber que é minha e que sempre será.
Ele tinha tanta certeza de que iria dormir comigo que nada que dissesse mudaria seu pensamento, seu olhar se escureceu como se realmente precisasse de mim.
– Tudo bem Hugo, mas o que aconteceu? Diga para mim, sou sua esposa, posso tentar ajudá-lo.
Seu silêncio foi a única resposta que tive, seguida por um beijo inesperado que me surpreendeu, sua boca reivindicou a minha como se estivesse a muito tempo desejando fazer isso, acabei correspondendo seu beijo como se entendesse que Hugo precisava realmente de mim.
Suas mãos desceram as alças do meu vestido tocando meus ombros, seus polegares acariciavam meu pescoço ainda me beijando com ferocidade sem parar. Queria impedi-lo, empurrá-lo e dizer do nojo que sentia, mas não consigo, como se uma força irresistível não me deixasse fugir.
– Vamos Gabrielli, quero dormir com você, preciso tê-la em minha cama.
Hugo me beijou novamente agora colocando as alças do vestido no lugar, colocou seus lábios no meu pescoço beijando ao mesmo tempo que parecia sentir meu cheiro, não queria que tocasse em mim desse jeito, mas não conseguia evitar o magnetismo que vinha dele. Não sei se vou conseguir evitá-lo estando em seu quarto a sua mercê.
Hugo
Essa noite não foi como esperava, as revelações de Maurílio me deixaram a mercê dele, mas o pior é não poder revelar nada para ninguém, ser líder não é um fardo leve, muito pelo contrário, estou totalmente a mercê das minhas decisões, não só eu mais também todos ao meu redor.
Apenas precisava de Gabrielli, sei que prometi não a tocar e já me contentava com isso, mas infelizmente não consegui cumprir minha promessa. Desejo tê-la comigo, sei que ela vai aliviar meus conflitos internos, ninguém consegue fazer isso melhor que Gabrielli, esses últimos dias foram maravilhosos, cada jantar ou recepção que íamos mais apaixonado ficava.
Minhas visitas a Tina foram reduzidas drasticamente já que minhas responsabilidades não me permitiam visitá-la como antes, para ser sincero, estar com Gabrielli para mim era suficiente, não precisava de Tina quando tenho minha esposa comigo. Gabrielli entrou no meu quarto bem receosa, sabia bem que não seria fácil fazê-la ficar.
– Preciso fica com Davi, mudei de ideia, meu filho precisa de mim.
O desespero na sua voz mostrava bem o medo dela em estar aqui comigo sozinha, em muitas ocasiões estávamos acompanhados, mas agora estamos sozinhos.
– Gabrielli, está na hora de conversarmos, tem quase um ano que tudo aconteceu, tenho que entender o que sente, já pedi perdão e até perdi o controle com você em alguns momentos, mas agora quero ouvi-la. Diga para mim o que sente, amo você como nunca amei outra mas tenho que entender você.
– Entender o quê? Eu mudei de ideia, quero ir embora, por favor, me deixe ir.
– Não! Chega de fugir, somos marido e mulher, você fugiu durante todo esse tempo, agora está na hora de falar, não fuja mais.
Saber que ela não conseguia se expressar me feria muito, Gabrielli se expressa tão bem e de maneira que convence qualquer um, mas quando se trata dos seus próprios sentimentos ela se fecha e fingi que está tudo bem.
– Hugo, estar perto de você traz uma sensação de imundície e sujeira que parece que nunca vai passar. Seu perfume fica impregnado em mim como uma lembrança constante de que você foi o único homem que me tocou, mas que jamais deveria ter tocado. Esse casamento, o nosso filho e tudo que estamos vivendo não deveria ter acontecido, hoje deveria estar no quarto de Teodoro sendo sua esposa, Davi deveria ser seu filho e mamãe ainda estaria viva. Consigo sentir o cheiro da sua urina grudada na minha pele, a sensação terrível de ardência do seu pau sendo enfiado feito ferro quente na minha buceta é uma lembrança bem viva. Eu tenho pesadelos e em todos você é o demônio que tirou tudo de mim, pensa que queria essa vida? Não, nunca quis essa vida como também jamais quis ser sua.
Mais uma vez ela me despreza como se não significasse nada para ela, a impressão que tenho é que jamais terei nada diferente do que está disposta a dar.
– Me diga mais Gabrielli, mereço ouvir tudo que tem a dizer.
– NÃO, JÁ CHEGA, QUERO IR EMBORA, NÃO CONFIO EM VOCÊ, É MENTIROSO, FALSO, DISSIMULADO E UM ESTUPRADOR NOJENTO. ODEIO VOCÊ HUGO ASSIS, ODEIO.
Não pensei racionalmente quando bati no rosto dela, nem mesmo quando rasguei seu vestido em pedaços a deixando apenas com suas roupas íntimas a jogando na cama com brutalidade, sou um monstro e o jeito que ela fala comigo me deixa fora de controle.
– VOU GRITAR, PEDIR SOCORRO, VOCÊ NÃO VAI FAZER DE NOVO, NÃO VAI.
Gabrielli se debatia embaixo de mim como uma fera louca, batia, arranhava, xingava e gritava. Deixei que fizesse, não tentei me defender, merecia cada tapa, arranhão e ofensa, sou o monstro que destruiu uma mulher que tinha um futuro brilhante. Tudo que falou era verdade, o único responsável pela desgraça dela sou eu e depois do que soube hoje, tudo poderia ser diferente se não fosse minha família, temos uma maldição que afeta todos que tocamos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Engano - A Organização Livro 1
RomanceO ENGANO Viver em uma organização criminosa por toda a vida me ensinou duas preciosas lições: não seja um traidor e saiba que o silêncio é de ouro. Não queira jamais infringir essas regras, pois, todos ao seu redor sofrerão as consequências de suas...