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Dois meses depois.

Gabrielli

Acordo sentindo novamente as pontadas no ventre que me acompanham desde que entrei nas semanas que antecedem meu parto, Marcele por uma precaução médica está em repouso, o sangramento foi pequeno, mas fez a casa Assis inteira entrar em alerta com a possibilidade de algo ruim acontecer. Sabia que poderia acontecer, mamãe teve sangramento na gravidez de Jorginho, mas pensei que eu seria a escolhida pela genética, porém foi Marcele.

Pedi para colocar minha cama no quarto dela, ficar apenas ao lado do seu quarto estando no meu não era suficiente, queria cuidar dela. Jorginho ainda demanda muito de nós, mas com a ajuda de Naná e da senhora Assis está mais fácil cuidar dele, me levanto indo até Marcele, minha irmã dormi como um anjo segurando sua barriga, Jorginho também está dormindo calmamente.

Esses últimos meses foram tranquilos, Hugo e Gregório não nos procuraram mais, como se realmente entendessem o que nosso casamento significa, depois do sangramento de Marcele, Gregório ficou mais preocupado, mas não veio visitá-la, apenas ouvi uma conversa dele com os pais sobre o estado de saúde da minha irmã.

– Mãe, o que posso fazer para cuidar da minha esposa? Podemos colocar um médico de plantão ou até trazer uma equipe inteira de profissionais da saúde para cuidar de Marcele, quero que ela e minha filha fiquem bem, não quero ter que escolher entre uma e outra.

Lembro como parecia desesperado com a possibilidade de algo de ruim acontecer com ela. As palavras da minha sogra foram como uma sentença não só para ele, mas também para Hugo.

Filho, tudo que está em nosso alcance foi feito, ela está em repouso total e não pode ter estresse ou passar por grandes emoções. Portanto, deve continuar afastado, nossa família cumpriu com a obrigação com os Gusmão agora nos resta apenas viver com as consequências do nosso erro. Hugo também deve se manter longe, Gabrielli precisa de paz para ter um final de gestação calmo.

Desde então nenhum deles veio nos procurar, não temos nenhum tipo de convivência, nossas refeições são feitas no quarto e eles passam o dia inteiro trabalhando bem diferente de antigamente. Mudamos a rotina da casa mesmo sem querer, saio para buscar o café dos meus irmãos como todos os dias, mas hoje foi diferente já que encontrei Hugo vestido com sua roupa de exercício.

Não olhei muito em sua direção seguindo meu caminho sem contato visual, mas o cheiro de álcool que exalava dele me trouxe um enjoo de imediato, mas disfarcei continuando meu destino até a cozinha, foi quando encontrei Gregório bebendo diretamente de uma garrafa de uísque, seu olhar veio na minha direção como se quisesse perguntar algo, mas sem coragem.

– Ela está bem, comendo e dormindo com mais tranquilidade. No começo ela ficou com muito medo, mas agora com os cuidados que estamos tendo Marcele está calma e serena apenas esperando nossa Rute nascer.

Os olhos de Gregório estão cheios de lágrimas, eles tiraram tudo de nós mas durante esses últimos meses senti que tiramos algo deles também. Escuto as conversas entre as empregadas de como estão tentando provar que são realmente de confiança, de que não vão mais errar e de que como isso está minando a família Assis de dentro para fora.

– A primeira vez que ouvi Marcele cantar fiquei hipnotizado, pensei em como seria maravilhoso tê-la cantando para mim por toda vida. Eu ia pedi-la em casamento, naquela noite que comemorou 15 anos, mas tinha que cumprir minha responsabilidade como filho mais novo de um Assis, tudo poderia ter sido diferente. Agora era para estarmos juntos como sonhei, estaria cuidando dela e da nossa filha, estou bêbado demais nem sei mais o que estou falando, estuprei a mulher que amo e nada vai mudar isso, não há como voltar e modificar o que foi feito.

O Engano - A Organização Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora