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Gabrielli

– Ainda bem que essa bolsa manteve a comida quentinha, sinta o cheiro dessa carne, ainda tem bolo de limão de sobremesa. Venha comer Jorginho, meu amor.

Nossa vida agora tem que ser bem planejada, como não fomos comer no jantar imbecil da velha fútil pensamos com antecedência e fizemos nosso próprio jantar, vamos manter nossa rotina, assim ninguém vai nos incomodar.

– Está tão gostoso essa carne, como será amanhã, irmã? Podíamos fazer nossa própria comida mais cedo, como nós fazíamos na nossa casa.

– Sabemos os horários, portanto podemos comer assim que as refeições estiverem feitas, assim não precisamos nos sentar com eles.

Coloco Jorginho sentado no meu colo ajudando meu irmãozinho a comer, depois que terminamos nos servirmos do bolo de limão, guardei todas as vasilhas na bolsa para lavar amanhã.

– Os homens vão trabalhar, podemos conhecer melhor a casa para adaptar nossa rotina, Vagner já marcou nossas consultas com um médico de confiança dele, como será que Irma está na nova casa?

– Espero que bem. Tenho medo de Vagner seguir os conselhos tortos do nosso pai, Irma é uma pessoa tão boa, uma verdadeira amiga, não quero que sofra.

Torço pela felicidade dela, se Vagner não a tratar bem e como merece ela vai deixá-lo sem pensar duas vezes. Ela nos ensinou sobre amor-próprio, algo que muitas mulheres da Organização não têm, minha mãe descobriu da pior forma que não era importante para o meu pai.

– Se precisar de mim fadinha, me chame! Não vou dormir mesmo, tranque a porta e coloque o armário na frente como expliquei. Amo vocês!

Beijei Marcele e Jorginho, logo depois saí do quarto indo na direção do meu, foi quando encontrei Hugo, ele vestia uma camisa social com os primeiros botões abertos e uma calça social, com certeza roupas mais confortáveis para estar em um jantar íntimo.

– Boa noite Gabrielli, vim buscar vocês para o jantar, estão todos esperando.

Olhei para ele como se fosse um idiota, qual a dificuldade de entender que não queremos fazer parte da maldita família deles? Ele olhou a bolsa térmica na minha mão percebendo muito rápido o que havia acontecido.

– Já jantou?

– Sim, Marcele e Jorginho também. Boa noite, senhor Assis, desejo um bom jantar para todos.

– Não precisa me chamar de senhor Gabrielli, agora somos marido e mulher, pode me chamar pelo primeiro nome sem toda essa formalidade. Queríamos a presença de vocês, mas entendo que estejam cansadas, estão bem instaladas? Precisam de alguma coisa? Posso providenciar o que quiserem.

Queria que fosse para o inferno, mas tenho que saber lidar com toda essa situação sem despertar suspeitas em cima de mim e causar problemas para mim e meus irmãos.

– Está tudo perfeito, muito obrigada pela atenção, senhor. Agora realmente preciso descansar, meus pés estão me matando.

Ele se aproximou tentando tocar na minha barriga, me afastei rapidamente estranhando seu comportamento.

– Queria sentir meu filho, ele mexe muito? Quando estou perto ele tem alguma reação, como agora?

– Não. Meu filho ainda é muito pequeno para entender qualquer coisa, não se mexe, apenas dormi, a minha sobrinha também é bem quietinha, mas estão bem e crescendo com saúde.

Jamais permitiria que tocasse em mim, e farei um grande esforço para nunca tocar no meu menino, também não saberá nada sobre ele, quanto mais distante estiver melhor será.

– Entendo. Não vou mais incomodá-la, boa noite Gabrielli.

– Boa noite, senhor.

Entrei no quarto trancando a porta e colocando o armário na frente, tenho que ficar acordada para prever qualquer situação ruim que possa acontecer, estou na casa do inimigo e sei bem que todo cuidado é pouco estando nesse ninho de cobras.

Hugo

Agora minhas suspeitas estão confirmadas, queria não ter razão, mas a forma como Gabrielli me despreza é visível, no entanto esse desprezo não é direcionado só a mim, mas a todos da minha família. Minha mãe conversa com as esposas dos líderes das outras famílias quando percebe que Gabrielli e Marcele não estão comigo e tenta disfarçar a raiva.

Minha mãe encontrou mulheres que não se curvam aos seus desmandos e ordens, percebo quando pede licença para as outras mulheres e vem em minha direção. Gabrielli pensou em tudo, fez comida e trouxe de casa, quer evitar qualquer tipo de convivência conosco.

– Onde aquelas garotas estão? Hugo, me diga que elas estão se arrumando e vão descer daqui a pouco.

– Elas devem estar dormindo, elas não vêm. Invente qualquer desculpa, é ótima nisso, pedi para não inventar nada, mas não escuta ninguém. Meu pai está odiando esse jantar, e sabe muito bem o motivo, foi inconsequente e vai sofrer as consequências disso.

Meu pai não é tão paciente como eu e Gregório com as gracinhas da minha mãe, meu irmão está olhando em nossa direção e percebendo o que estava acontecendo vem em nossa direção discretamente.

– Mãe, comece essa merda logo, elas não vêm e com razão. Que mania desgraçada de fazer o contrário do que pedimos, não estamos bem perante os outros líderes e a senhora inventa de expor as nossas esposas para ficar bem com essas mulheres que nem gostam da senhora. Vá logo, pelo amor de Deus!

Minha mãe chamou todos para se sentarem e começamos o jantar, odiava essas conversas absurdas e sem uma real motivação, por isso preferi ficar calado. A grande senhora Assis conseguiu segurar a situação, quando todos se despediram meu pai não perdeu tempo e deu um tapa no rosto da minha mãe.

– Tem algum problema de entendimento Margarida ou se faz de imbecil mesmo? Sei que não, mas a culpa é minha que não atualizei nossa situação para você. Estamos na merda, na merda mais fedida que possa imaginar sua imbecil, as outras famílias estão loucas para encontrar algum motivo para tirar nossa família do comando, estão atentos a qualquer movimento nosso, sabe o que os homens perguntaram? Se estamos tratando bem os filhos de Gusmão, pois sabem como você é, agora veja como sua fama é péssima! Tive que me fazer de bobo para aqueles abutres que querem meu poder porque gosta de aparecer para os outros, é uma fútil que só pensa em você, esquece que agora precisamos ser discretos e mostrar que somos capazes. Vai para o meu quarto a conversa ainda não acabou.

Ela foi calada e de cabeça baixa em direção ao quarto, meu pai não é e nunca foi um marido carinhoso, casamentos por contrato em sua maioria são assim mesmo, não há sentimento ou consideração.

– Gregório tem razão sobre elas, como vamos fazer daqui para frente?

– Não sei, Hugo. Marcele nem sequer olhou para mim no cartório, elas nos querem longe. Para mim elas pensam que apenas estamos assumindo um compromisso e não porque realmente queremos ser seus maridos.

Concordo com meu irmão, talvez esteja na hora de mostrarmos que não é isso que queremos, que esse casamento é real e não algo de fachada como elas imaginam.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Engano - A Organização Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora