32

360 90 12
                                    

Hugo

Gabrielli se cansou de tanto se debater e gritar, o rosto está manchado pelas lágrimas misturadas com sua maquiagem, seu cabelo está espalhado nos travesseiros, a respiração agora estava mais lenta como se o cansaço de todo esforço a fizesse respirar mais calmamente. Meus braços estão cobertos de marcas dos tapas e arranhões como também meu peito, em alguns momentos a segurei deixando marcas no seu pulso, pois estava se machucando no processo de tentar me ferir.

Seus olhos focavam no teto como se não estivesse aqui, queria que me amasse, que me perdoasse e que fosse minha mulher no pleno sentido da palavra, mas nós dois não deveríamos ter ficado juntos, o engano que cometi mudou o destino dela. Alguns fios de cabelo estão em seu rosto, tiro com calma cada fio para vê-la melhor.

– Eu vi você nascer, era um menino na época. Na minha inocência infantil achava que Gusmão não era seu pai, aquele foi meu primeiro ano de treinamento e eu odiava seu pai por me fazer acordar às 05:00 para brigar com Gregório. Me lembro que você parecia uma princesa toda meiga e delicada, não chorava ou era manhosa, era calma e serena como se soubesse da responsabilidade que teria no futuro como a filha mais velha, depois via você crescer de longe admirando cada nuance sua, apreciando o fato de ser tão séria, mas doce e alegre se tratando dos seus irmãos.

Passo a minha mão em seu rosto com delicadeza, ela está tão cansada para me afastar que apenas permite meu toque.

– Quando você fez 16 anos pensei que estava na hora de fazer o pedido, para mim não importava a idade ou qualquer situação que poderia me afastar de você. Como eu, sabe que o fardo de ser o mais velho pesa sobre nós mais do que em qualquer um, tinha juntado uma boa quantidade em dinheiro, mas precisava da benção do meu pai. Aquele dia foi o pior da minha vida, descobri que iria me casar com aquela vagabunda traidora para evitar um confronto e ter um território a mais. Como queria dizer não, falar que já tinha minha escolhida, mas infelizmente não podia, cumpri com o meu papel sendo o que esperavam de mim.

Gabrielli parecia ouvir com atenção sem desviar seu olhar de mim, agora não olhava mais para o teto.

– Sou um monstro, aquele que fará de tudo pela sua família, sou a porra do líder das cinco famílias, tudo e todos reportam a mim e devem fidelidade a família Assis. Mas agora sei o peso que meu pai carregou durante anos, o fardo de que tudo que decidir pode e vai mudar o destino de todos. Gabrielli, minha família mudou o destino da sua família, cometemos um grave erro sim, e naquela noite você, sua irmã e irmão morreriam junto com sua mãe, e sei que sabe disso, mas não por vontade minha, jamais iria matar você, meu amor.

– Você me matou aquela noite, Hugo, apenas sobrevivo por Marcele, por Jorginho e por Davi, meu filho não tem culpa por mais que esteja a cada dia mais parecido com você. Deveria ter terminado o serviço, não tenho vida, queria viver, mas aquela noite fui assassinada como também tudo que acreditava morreu.

Queria poder mudar esse pensamento, fazê-la entender que sua vida não acabou, mas ouvir isso de mim não iria mudar sua percepção.

– Iria me casar, mas ia atrás de você, cuidaria dos seus irmãos e de você como minha mulher.

– Sua mulher? Sua amante você quer dizer, me faria sofrer ainda mais Hugo, não percebe como você não podia e não pode consertar nada. Estou exausta, se quiser usar o meu corpo faça logo, ouvi-lo dizer que me ama causa muito mais dor para mim do que ser usada como uma imunda que sou.

Saio de cima dela me deitando ao seu lado, agora era minha vez de encarar o teto, a noite não foi fácil, tinha planos de ajudar Irma, mas acabei sendo refém de segredos pesados demais para ter que carregar sozinho, mas não havia outra opção, teria que lidar com tudo que foi revelado como um líder que nasceu para comandar.

O Engano - A Organização Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora