26 - Volte para mim

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Alec havia repassado com Luke toda a rotina da semana. Tudo o que deveria ser feito e o que precisava ser comprado. Entregou o cartão de crédito do Haras para o seu capataz, como sempre fazia, e deu as instruções necessárias. Depois foi a cavalo até a caverna que chamava de 'nosso lugar', se referindo a ele e Magnus, levando alguns mantimentos. Trocou os edredons e instalou a bateria, que ficou escondida sob as plantas. Ligou as pequenas luzes que agora formavam desenhos nas paredes sem luz, ao redor da cobertura leve que havia colocado ali, como uma cabaninha, e gostou do resultado. Havia uma atmosfera de sonhos, algo romântico e apaixonado. Sorriu com a surpresa que faria a Magnus naquela tarde, e apagou tudo. 

Conversaria com Isabelle e tinha certeza que ela não ficaria chateada em dormir sozinha na casa, nem em ter tão pouca atenção. Sugeriria, inclusive, que ela chamasse o namorado para passar os próximos dias ali. Seria a oportunidade de conhecer o rapaz, que havia mudado as intenções da irmã, sempre tão descrente no amor.

Havia sido o único romântico ali, desde sempre. Izzy gostava mesmo era de ficar com vários garotos, para experimentar todos os beijos, como costumava dizer; e Jace, seu irmão de coração, era outro desnaturado, até agora, quando conheceu a ruiva que tomou seu coração. Sentia falta do melhor amigo, de quem se afastou totalmente, a exemplo da própria família. 

Sabia que precisava resgatar a todos. Era sua obrigação ir atrás de cada um deles e pedir desculpas, suplicar que o aceitassem de volta, porque foi ele quem brigou com cada um, por causa de Philippe.

Suspirou pesado pensando no ex-marido. Desde que conheceu Magnus muita coisa havia mudado em sua cabeça e uma delas havia sido a maneira como olhava e pensava em Philippe. Não era como se agora o odiasse, mas tinha de admitir, ainda que somente para si e com muita dificuldade, que o outro não o amou e ele se acomodou dentro de um relacionamento que não o satisfazia. 

Philippe não o amava, o tinha como propriedade, essa era a verdade. Nos últimos tempos vinha lendo muito sobre relacionamentos abusivos. A literatura era basicamente feminina, sem relatos de casos homossexuais. Mas eles existiam e hoje poderia dizer que era um deles. Enquanto lia alguns testemunhos, se reconhecia em atitudes e concessões. Chorou copiosamente, certa madrugada insone, ao ler um relato que era muito parecido com o da sua vida. A garota havia abdicado de tudo o que acreditava e amava, para viver um relacionamento que a destruiu. Segundo o depoimento, atualmente ela vivia sob proteção, após ter conseguido fugir, certa noite. O homem nunca aceitou essa insubordinação.

Philippe também não admitia ser afrontado e tinha rompantes de violência gratuita, que só ele mesmo para aguentar. Já havia levado muitos tapas na cara, empurrões e dormido no chão, ao lado da cama, apenas para satisfazer seu ex-marido louco.

Tinha uns medos bobos gerados por isso. Precisava de ajuda e Izzy prometeu encontrar um psicólogo para atendê-lo. E o fez. Alec já havia conversado com Tessa duas vezes ao telefone, nos últimos dias. Queria ser uma pessoa normal e ter uma vida normal… com Magnus.

Amava Magnus e queria dizer isso a ele, mas tinha medo de não ser o momento, ainda. Não queria que o mais velho achasse que tinha de corresponder ou dizer as mesmas palavras, por obrigação. 

Era sentimentalmente inseguro e nem havia percebido isso, até se descobrir amando Magnus. Era fácil demais amar Magnus. Às vezes queria gritar para ele o quanto o amava, quando estavam ensandecidos na cama, ou qualquer outro lugar que resolvessem se amar. Tinha ímpetos de falar, mas mordia a língua. E se o outro só se sentisse bem em transar com ele, e apenas isso? E se eles não compartilhassem dos mesmos sentimentos? Magnus vinha dando provas de que realmente o queria, mas... e se ele não fosse o suficiente para o empresário? 

Deixou o lugar dos dois pronto e foi a fazenda de Valentim, onde era capataz. Vinha amadurecendo a ideia de pedir demissão dali. Não havia razão plausível para ainda trabalhar para aquele homem, que podia ser rude e cortante como o filho, em vários momentos. Havia se acostumado tanto com aquilo que precisou ficar e ser moralmente agredido por Valentim todos esses anos? Sim! Mas havia finalmente enxergado isso e estava exausto. 

Fim de semana na fazenda Onde histórias criam vida. Descubra agora