3. UNS DIAS?

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Finalmente o intervalo chegou e eu fui o primeiro a sair da sala.

No corredor vi meu melhor amigo encostado à parede, com o celular na mão e sorri.

—Como estás? Amor.— perguntou assim que notou minha presença.

—Com fome!— respondi ao ruivo que continuava com os olhos no celular, enquanto andava.

—Me come.— disse simplesmente e eu ri.

—Será minha sobremesa, cabelo de fogo.— falei e o vi lubrificar seus lábios com a língua.

—Merda!— ficou sério quando uma mensagem fez seu celular vibrar.— A Annecy descobriu sobre a festa!— se explicou, antes mesmo que eu perguntasse.

—O que aconteceu na festa?— franzi meu cenho.

A Annecy nunca foi do tipo que se importava se ele ia à festas ou não, a não ser quando meu melhor amigo fazia alguma merda.

—Uma quenga gostosa pro caralho me pagou uma granda broche!— disse orgulhoso e eu o encarei.— Sexo oral não é traição!— se defendeu e eu franzi meu cenho.

—Vai te fuder Hemmet. Como se sentiria se um cabrão metesse a lingua na crica da Annecy?

O ruivo ficou calado por um tempo.

—Merda!— passou as mãos nos cabelos e eu arqueei minhas sobrancelhas.— Eu preciso falar com ela.— disse apressado.— Tchau amor, valeu por ser mina consciência.— bateu minha bunda e correu pelo corredor.

Neguei com a cabeça e entrei na cantina. Respirei fundo e cumprimentei rapidamente meus colegas de time, que estavam sentados na mesa de custume. Não pretendia me sentar com eles, não sem Hemmet.

Peguei uma bandeja e passei para o começo da bicha. Eu odiava esperar. Ninguém reclamou.

Pegu quase tudo que havia para comer e andei até a mesa onde duas morenas conversavam entre si.

Uma delas me olhou com cara feia e a outra sorriu sem mostrar os dentes.

—O que foi?— franzi meu cenho para as duas, enquanto me preparava para comer meu hambúrguer.

Nenhuma delas falou. Uma desviou seus olhos escuros para sua bandeja quase vazia e a outra me rebaixou com seus olhos verde-água.

Ignorei as duas e comecei a comer.

—Preciso de mais!— reclamei quando já era a última garfada do bolo de chocolate.

—Tem um poço na tua barriga?— Kate Connor fez carreta e eu a olhei.

Daniella tentou segurar sua risada, mas não conseguiu. Torci meu nariz para elas e limpei minha boca com as costas da mão.

—Comeu um hambúrguer, três tostas, cinco morangos, dois pedaços de pizza e um pedaço de bolo de chocolate, vai passar mal!

—Não, ele não vai!— Daniella sorriu. Ela sabia que eu não ia.

—Bebe água pelo menos para organizar a bagunça que deve estar aí dentro.

Revirei meus olhos e olhei para os lados, eu tinha esquecido de pegar água.

A morena de olhos escuros cologou uma garrafinha a minha frente.

A olhei, com vontade de recusar mas respirei fundo, engoli meu orgulho e peguei a garrafa.

—Obrigado!— murmurei e bebi toda a água da garrafinha de uma só vez.

Quando voltei a olhá-las, uma sorria e outra me olhava estranho. A de olhos escuros riu um pouco.

—Perdeu algo na minha cara Connor!?— a olhei e ela revirou seus olhos verde-água.

—Seven, tem treino hoje?— Daniella tentou evitar uma possível briga.

—Vem cá, porquê as pessoas te chamam de Seven? Espero mesmo que não seja por seres número sete no basquete!— disse em tom de deboche. Ergui uma das sobrancelhas em sua direção. Filha da puta.

Mas, pensando bem, eles bem que poderiam ter sido mais criativos. Eu nem ao menos lembrava de como nem quando aquela alcunha tinha se espalhado, eu só acordei um dia e era o Seven.

—Sim, eu tenho treino hoje.— ignorei Kate e respondi a pergunta da Daniella.

— Não terá treino hoje.— garantiu.— Eu vou usar a quadra para o meu treno de ginástica.— explicou antes de eu perguntar.

—A minha quadra?— perguntei desacreditado e ela riu um pouco.

—Sua? Que eu saiba a quadra é da escola!— ergueu suas sobrancelhas em uma cara desafiadora.

—Isso não vai acontecer!— me levantei, dramaticamente.

—Quero te ver tentar impedir.— se levantou também, mas como uma pessoa normal.

A encarei por alguns segundos e quando cansei de imaginá-la de 4 na minha cama, saí da cantina e fui seguido pelas duas baixinhas.

Andei apressado até à sala do treinador e esqueci de bater na porta.

—Seven.— suspirou meu nome, como se já soubesse o porquê de eu estar ali.

—Que história é essa treinador?— só nessa altura as duas meninas de pernas curtas chegaram à sala.

—O diretor autorizou a Kat...

—Eu tou-me no foda-se para o que o diretor autorizou, onde nós vamos treinar?

—Acalma-te poças!— ralhou, mas não tão irritado quanto eu estava.— O que te custa deixar a rapariga treinar uns dia...

—UNS DIAS?— gritei indignado.

Uma carta para o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora