6. Não se faz de idiota.

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—Vai pra casa Wayne!— o treinador reclamou, mas não lhe dei ouvidos e continuei a driblar a bola na quadra vazia.

Daniella tinha que me esperar para voltar para casa, mas não me importei, ela que esperasse.

Estar no campo de basquete era de longe a melhor coisa do mundo. Ou, a melhor coisa do meu mundo.

—Até amanhã treinador.— falei sem olhar para o homem que com certeza já estava pronto para encerrar o dia de trabalho, mas eu não estava pronto para largar a bola.

—Eu preciso trancar o ginásio!— suspirou. Eu tinha que ir.

Suspirei também, driblei mais um pouco e lancei a bola que caiu direto no cesto. Sorri orgulhoso de mim mesmo e bati na mão do treinador para me despedir.

Corri até ao balneário e tomei um banho frio e rápido só para tirar o suor da pele.

Quando saí, me sentia mais leve, troquei a roupa de treino pela que tinha vindo com ela no corpo.

Peguei minha bolsa e saí.

Era sempre assim. Eu era sempre o último a sair da quadra, claro que nunca pour vontade própria, se fosse por mim eu passaria a vida toda naquele lugar.

Respirei fundo, as consequências da noite mal dormida bateram, junto com a fome.

—Vamos, estou com fome.— falei secamente para a rapariga que conversava com sua melhor amiga.

—Qual é o teu problema? Não pode esperar um pouco, te esperamos por mais de uma hora, o mínimo que poderia fazer era esperar terminarmos de conversar!— Kate disse zangada e eu a olhei.

A olhei, tão zangado quanto ela mostrava estar.

—Eu estou com fome!— repeti, rabugento e a filha da Stacey se levantou,  ela sabia como a fome me deixava depois de um treino.

—Até amanhã Katie!— se despediu da amiga e me seguiu até meu carro.

Eu ainda não entendia como aquelas duas podiam ser tão amigas.

Daniella era toda rasa e sem graça, fazia de tudo para agradar todo mundo e era sempre gentil, era uma planta. Aquilo me irritava.

Já sua best friend, era rude e tinha uma personalidade forte,  nunca fingia gostar de nada só para agradar, era briguenta e mal humorada e por algum motivo não me suportava, era interessante. Eu gostava de a irritar.

Quando chegamos a casa, eu joguei minha bolsa de treinos no chão da sala, sabia que a Daniella pegaria e deixaria no meu quanto, mesmo sem que eu pedisse.

Fui direto para cozinha.

Assim que arrastei a porta de correr, a velha coxa me olhou e sorriu.

—Demorou um pouco hoje.— disse divertida e eu sorri um pouco.

Me sentei em um dos bancos altos da ilha e a olhei, a velha grisalha entendeu e coxeou e pegou algo de lá.

Era um prato, ela deu-mo.

—Obrigada Anabela!— agradeci minha babá que sorriu de forma simpática.

Nós costumavamos ser bem próximos, antes da merda toda toda que eu fiz acontecer que lhe tinha deixado sem uma das pernas.

Ela disse que me perdoava, que não tinha problema, mas eu nunca mais consegui olhá-la sem que meu peito apertasse pela culpa.

Faziam 7 anos porém as consequências nunca sumiriam.

Terminei de comer a lasanha que seria o jantar daquela noite e lavei meu prato. Anabela não estava mais na cozinha, senão nem teria me deixado lavar o prato.

Saí e como eu já sabia, não encontrei minha bolsa de treinos no chão.

Ia subir as escadas, quando vi meu pai carrancudo descer das mesmas.

—Ela não é tua empregada!— me apontou e eu o olhou confuso, mas já fazendo ideia do assunto.

—Boa noite pai. O dia foi bom, obrigado por perguntar!— falei sarcástico.

—Não se faz de idiota.— quis me bater, mas esquivei de sua mão e o encarei.— Pegue suas coisas da próxima vez!— me apontou.

—Eu não pedi para ela pegar para mim!— me defendi com a raiva a subir por minha espinha.

—Não tem problema pai, não briga com ele, eu que quis ajudar!— a morena apareceu nas escadas e eu fiz carreta.

—Ele não é teu pai.— cuspi as palavras irritada e passei pelos dois sem dizer mais nada.

Subi as escadas e entrei em meu quarto que tinha quatro divisões.

A casa de banho e o closet era o básico e a sala de treinos e a de sapatilhas da Nike, tinham sido ideias da minha mãe.

Ela mesma tinha desenhado a planta daquela mansão, a mesma que eu quase destrui por completo.

A mesma na qual ela é minha irmãzinha tinham morrido. Na qual eu as tinha matado.

Respirei fundo, tirei o moletom e andei até a sala de treinos, depois de alguns alongamentos enfaixei os punhos e os tornozelos e comecei a socar e a pontapear o saco de pancada pendurado ao teto.

Uma carta para o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora