4. Espero que te quebres o pescoço

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—Só até ao fim de semana, eu tenho um campeonato no sábado!— disse calma.

—E eu com isso? Eu tenho que ficar, uns dias, sem jogar basquete por tua causa? Porquê não usa outros horários?

—Estão todos preenchidos Wayne, eu treinava de manhã, mas precisei ceder para o time de luta livre?

—Não podem divir o espaço?

—Tem uma quadra em casa, Seven, porquê não treinam lá?— a morena de olhos escuros disse, como se eu não soubesse que tem uma quadra na minha casa, mas não era a mesma coisa.

—Além disso, a decisão já foi tomada e tuas birras não vão mudar isso.— Kate cruzou os braços.

—Espero que te quebres o pescoço!— cuspi as palavras perto da morena baixinha que me encarava com seus olhos verde-água.— Foda-se.— propositadamente derrubei uma das cadeiras e saí do cubículo que pertencia ao meu treinador.

—Puta merda!— resmunguei com o corpo sobreaquecido pela raiva.

Tentei respirar fundo e olhar para o alto, mas não funcionou, as veias ainda latejavam na minha cabeça, ao ritmo acelerado dos meus batimentos cardíacos.

Cocei meus olhos com as costas das mãos quando senti lágrimas se formarem. Eu não ia chorar. Nem era para tanto.

Mas a ideia de ficar uma semana sem jogar basquete fazia meu peito apertar. A sensação de estar numa quadra era única coisa que eu tinha.

Eu podia jogar na que estava em casa, mas não conseguia, eram muitas memórias vagas, muita pressão e pouco ar.

Engoli seco e levei minha mão esquerda para o peito. Era quase como se meu coração batesse literalmente na palma da minha mão.

—Wayne?— quando ela chegou eu quase não respirava mais.— Puta merda!— a morena baixinha me ajudou a estar sentado contra a parede e me olhou, como quem não sabe o que fazer.— Merda eu não tenho água.— olhou para todos os lados, agitada e eu acharia graça a aquilo, se estivessemos em uma situação diferente.

Apertei meus punhos e contei até dez e de dez até um.

Quando terminei, lágrimas caíram dos meus olhos, sem que eu conseguisse impedir.

Ela queria que eu fosse jogador de basquete.

Encostei a cabeça a parede e fechei meus olhos. Quando os abri, não estava mais no corredor da escola.

Eu estava no meu quarto e ela abria as cortinas, mas nem com isso o lugar ficou mais iluminado. Estava escuro lá fora ainda.

"Toca a acordar meu pequeno príncipe, hora de treinar." iamos fazer nossa corrida matinal. Eu amava correr ao lado dela.

—Isso é por causa dos treinos?— a rapariga baixinha fez solar sua voz e eu senti vontade de chorar de novo quando a imagem do sorriso da minha mãe desapareceu.

Não respondi. Não abri meus olhos. Não me mexi, por mais que minhas mãos ainda tremessem e minha cabeça latejasse. Eu tentava voltar para lá. Para perto dela.

—Falei com o treinador e combinamos de dividir o tempo, eu uso os primeiros trinta e cinco minutos e vocês ficam com o resto!— foi a primeira vez que Kate foi mansa comigo.

—Tudo bem!— foi tudo que eu consegui dizer. Não tinha conseguido voltar.

Forcei meu corpo a se levantar e saí da presença da morena sem me despedir.

Uma carta para o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora