28. Para de falar besteiras.

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Fiz careta ao ajeitar a porra da gravata cinzenta, parado de frente para o espelho. Respirei fundo irritado e com a garganta embargada, por motivo nenhum.

Eu não queria ir para a maldita festa.

Eu não pedi por ela.

Não pedi por nada.

Eu só queria ficar no meu quarto, escondido no meu closet, como fazia todos os anos.

Dezoito anos nem era grande coisa.

Principalmente quando isso significava que meu pai já podia me obrigar a frequentar um curso que eu nem queria.

Suspirei irritado e ia me jogar contra a cama quando a porta do meu quarto foi aberta, sem nenhum aviso.

Uma loira vestida com vestido de gala veio até mim e sorriu com os lábios vermelhos.

-Feliz aniversário Wayne!-disse.

Antes de eu pudesse impedir, Stacey segurou minha gravata e colou nossos lábios em um selinho rápido.

Não falei, apenas olhei seus olhos esmeralda, enquanto ela arrumava minha gravata.

-Se anima um pouco!- falou como se eu fosse uma criança de 6 anos e eu continuei apenas a encarando.- Escuta Wayne,- se sentou na minha cama e me chamou para sentar também. Respirei fundo e fiz o que ela pediu com gesto.- Eu sei que é difícil,- encostou a mão no meu ombro e eu senti vontade de rir de sua cara séria, mas não o fiz.

-Valeu a tentativa Stacey, mas eu estou bem!- lhe garanti.- Por favor sai do meu quarto.- perdi calmo e a loira suspirou.

-Acha que vai se tornar verdade se ficar repetindo para si mesmo?- cuspiu as palavras, com alguma doçura, tocou meu ombro e saiu do meu quarto.

-Filha da puta.

Ela tinha razão.

Estava tudo uma merda e isso não ia mudar, não importa as vezes que eu repetisse para mim mesmo que estava tido bem.

Claramente não estava.

Fechei meus olhos e me joguei contra a cama, como planeava fazer antes da loira entrar.

Eu estava tão cansado e por instantes, eu podia jurar que senti suas mãos em meus cabelos e seu cheiro em minhas narinas quando seus lábios tocaram minha testa.

"Porquê está triste, pequeno príncipe, vai desistir da guerra só porque perdeu uma batalha?" eu tinha perdido meu primeiro jogo e não queria mais jogar basquete. Perder era horrível.

-O pai mandou te chamar!- a voz da Daniella soou e eu tentei que ela não me visse a limpar as lágrimas do rosto.

Me levantei, sob olhar atento da rapariga de cabelos pretos e suspirei profundamente.

-Vai na frente!- pedi para aquela que me encarava e agradeci mentalmente por a mesma obedecer sem questionar.

Esperei que ela desaparecesse pelo corredor e respirei fundo antes de ir na direção contrária.

Engoli seco. Fazia um tempo que eu não chegava perto daquele lado da casa. Daquela porta.

Levantei minha mão, e senti minha respiração pesar, o calor que emanava do metal era insuportável. Estava muito quente, eu conseguia escutar as duas tossirem dentro do quarto. Eu também tossia muito. Havia fumo por toda parte. E fogo. Muito muito. Eu queria abrir a porta, devia abrir, mas alguém pegou em mim, colocou um pano na minha boca e me puxou para longe.

-Mandei descer!- era meu pai. O homem estava de um terno parecido com o meu, parado atrás de mim. Ele me salvou. Ele escolheu me salvar, ao invés delas.

Não me virei. Minha garganta doía que tantas lágrimas que eu me forçava a segurar. Eu estava cansado.

Meu pai segurou meu ombro para me forçar a olhar em sua direção. Esperava tudo, menos o abraço que recebi.

-Se pudesse voltar no tempo, não faria diferente!- disse baixo quando finalmente retribui seu gesto, mesmo que ainda em choque.

-Devia ter salvado a elas invés de mim pai!- chorei, não conseguindo mais me conter.

-Para de falar besteiras, vamos!- me soltou e bateu meu ombro para que eu o seguisse.

Uma carta para o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora