Sixty-three

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Tw: Pensamentos em
suicídio.
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     Tombo a cabeça para baixo, tentando enxergar algo, pela terceira vez desde que cheguei aqui. Eu sei exatamente o que tem lá — porque já estive aqui antes —, mas não consigo ver agora por causa da falta de iluminação no lugar. O som das águas batendo violentamente nas rochas invadem meus ouvidos, o vento forte aqui de cima acerta em meu corpo e deixa arrepios.

É tão bom estar sozinha, ao mesmo tempo que é triste.

Talvez eu queira alguém para conversar agora, contar tudo o que vem acontecendo, mas não tem esse "alguém" agora. Eu sai na madrugada, sem que alguém perceba.

Depois do meu surto, Kei conseguiu me convencer a dormir na casa dele. Eu não queria deixar Soso sozinha, mas, felizmente, ela tomou a frente e pediu para ir também. É realmente um milagre, já que a garota não queria nem olhar na cara do Baji dias atrás. Porém, fiquei aliviada por essa mudança acontecer. Eu não queria passar a noite em casa.

Achei que, sei lá, me sentiria menos triste se desabafasse com alguém pela noite toda. Sim, tem Shopia, mas não é a mesma coisa. Além de minha irmã não costumar dormir tão tarde, ela não iria ajudar com o que eu queria.

Queria conversar com alguém. Queria concelhos e palavras de consolo, Shopia não saberia fazer isso. Não como Keisuke faz.

Kei não poderia dormir em minha casa hoje, pois sua mãe foi passar um dia com o namorado e ficaria a noite lá. Ele tá com filhote de gato em casa, ou seja, não pode deixá-los sozinhos.

É por esse motivo que eu agradeci muito, mentalmente, por Soso querer ir com a gente.

No entanto, uma hora Kei cansou e eu mandei ele dormir. Ele insistiu em dizer que estava bem e que aguentava passar a noite em claro comigo, mas eu conseguia ver em seu rosto o quanto estava cansado. Não poderia fazê-lo perder noite de sono só porque eu queria tagarelar sobre meus problemas.

Por mais que eu quisesse muito.

Eu juro que tentei lidar com meus demônios sozinha, mas eles estavam me sufocando. Aquele quarto, que geralmente é grande e vazio, parecia tão apertado e cheio de paranóias. Enquanto Kei estava comigo, dizendo que tudo iria passar, eu conseguia afastar a sensação de desconforto. Depois que ele passou pela porta e a fechou, ficou tudo tão insuportável.

Eu estava insuportável, aquele cômodo estava insuportável, tudo, todo detalhe parecia insuportável para mim. Não vi outra alternativa senão fugir.

Pensava que se conseguisse sair daquele ambiente e tomasse um pouco de ar tudo melhoraria. E, de fato, eu consigo respirar normalmente agora.

Entretanto, ainda sou atormentada por memórias passadas, a maioria envolvendo Bruce.

Como eu pude ser tão otária? Tão cega?

Acho que, quando estamos apaixonados, costumamos ficar cegos por algumas coisas. Como, por exemplo, os defeitos da pessoa.

Eu não conseguia — e até agora tudo ainda parece confuso — enxergar os defeitos de Bruce. Ou, talvez eu os via, mas estava tão imersa na paixão que acabei fingindo que não.

Nesse momento, depois que tudo acabou e eu parei para refletir um pouco, percebo que algumas atitudes dele eram suspeitas demais. Muitas eram óbvias até demais e estavam na minha cara — como ele querer gravar um vídeo nosso em um momento íntimo — mas eu simplesmente tampei meus olhos e ouvidos para isso. Coloquei em minha cabeça iludida que era normal, acreditei em seu amor fingido e, no fim, quebrei a cara.

𝙊𝘽𝙎𝙀𝙎𝙎𝙀𝘿 𝘽𝙊𝙔; Izana Kurokawa  Onde histórias criam vida. Descubra agora