Sixty-six

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     Finalmente chegamos, depois de uma viagem demorada e assustadora (pelo menos para mim). O avião parecia que ia cair a qualquer momento, não gostei nem um pouco. Estou me sentindo enjoada, a cabeça dói e estou caindo de sono.

Agora chegou a hora em que preciso entrar no personagem. Vou para o banheiro feminino — o qual, para minha sorte, está vazio — e entro em uma cabine. Coloco a mochila em cima da tampa do vaso e pego meu celular no bolsinho da mesma. No aplicativo de mensagens, vejo que Helena me mandou o vídeo.

Ela maquiando Ran no carro.

Coloquei a mochila de pé, a empurrei um pouco para trás e tirei a maleta com maquiagens de dentro. A abri e coloquei na frente da mochila, me agachei e pude ver meu reflexo através do espelho pequeno.

— Pronto. – Coloco o celular na frente da maleta, em pé, e aperto o play para o vídeo começar.

Fui pegando tudo o que ela mandou e aplicando no meu rosto, assim como estava sendo feito em Ran. Às vezes eu parava para rir sozinha, do jeito como o homem não estava gostando nem um pouco.

A parte da maquiagem acabou e me senti orgulhosa por conseguir fazer tudo certinho, mesmo demorando muito. Agora é a parte das lentes, admito que estou com medo. Horas atrás eu tive a ajuda de Helena para colocar, agora terei que me virar sozinha. E se eu acabar ficando cega?

Levantei os olhos e consegui colocar em um olho, senti como se fosse morrer porque, por mais estranho que fosse, doeu mais do que na primeira vez — ou foi só coisa da minha cabeça, por causa do medo. Coloquei no olho esquerdo, não foi tão ruim como no direito.

Por fim, arrumei o cabelo — tudo como Helena ensina no vídeo — e coloquei a peruca.

Me levantei, fechei a maleta e voltei a abrir a mochila, para tirar a roupa de dentro. Peguei a calça larga e cropped de manga comprida, coloquei no corpo e guardei a roupa que eu estava usando. Arrumada, guardei a maleta de maquiagem e sai da cabine, onde encontrei duas garotas arrumando os cabelos em frente ao espelho.

Dei uma olhada rápida para conferir se estava tudo perfeito, vendo que eu estou irreconhecível, saí do banheiro.

Izana disse para eu ligar quando acabasse, assim eu fiz.

— Onde você está? – Pergunto, quando ele atende a ligação.

Tô saindo do banheiro agora.

Parei no corredor e virei para trás, o banheiro masculino fica em frente ao feminino. Encerrei a ligação e esperei pela saída do homem.

Saíram três de vez, mas todos são brancos então nenhum é Izana. Logo em seguida saiu um outro; ele usa camisa preta de gola alta, calça preta e sobretudo bege. Seu cabelo está preto e, quando ele se aproximou, vi a cor de seus olhos castanhos. Não está com os brincos e ele usa óculos de grau, suas mãos cobertas por luvas pretas. Quando parou em minha frente, notei que até seus cílios e sobrancelhas estão de outra cor. "Como ele fez isso?" Não faço a mínima ideia.

Como eu o reconheci? Também não sei.

O homem parecia ter travado no lugar, seus olhos em meu rosto e sua feição séria, ele nada diz. Desviei o olhar quando o desconforto tomou conta de mim, peguei em sua mão e andei. Izana vem logo atrás de mim, eu estou puxando ele para andar.

Ele tá todo estranho.

— Anda, caralho. – Olho para trás, irritada. Encontro seus olhos presos em nossas mãos juntas, o homem parece assustado. – Que foi?

𝙊𝘽𝙎𝙀𝙎𝙎𝙀𝘿 𝘽𝙊𝙔; Izana Kurokawa  Onde histórias criam vida. Descubra agora