Depois da pergunta de Miley, eu inventei que precisava ir ao banheiro, e fui embora, deixando uma mensagem para Harry avisando que o jogo já tinha me cansado e agora eu estava exausta. E no domingo, usei a desculpa da ressaca para não sair do quarto quando eles me chamaram para ficar no campus. Não troquei uma palavra com Lauren, nem mesmo para perguntar se eu tinha agido de forma suspeita, e só nos trombamos quando voltei do jantar à noite e ela estava no corredor, mas também não olhei para seu lado.
Minha cabeça criou um bloqueio para aquele dia, e toda vez que alguém cita o assunto, seja comigo ou não, eu revivo cada segundo daquele dia, e me afasto o mais rápido que posso. Nas primeiras semanas, quando o assunto ainda tava no topo, eu passei por uma tortura, e pensei que todos sabiam que eu e Lauren estávamos envolvida no incêndio da igreja que levou uma pessoa à óbito. Nós nos calamos, porque dizer que estávamos lá arruinaria toda vida que criamos, e desde então, nos afastamos. Não conversamos mais sobre o assunto, porque estar perto de Lauren me faz lembrar do que aconteceu. Me faz lembrar que ela me puxou enquanto eu tentava tirar o garoto que morreu segundos depois asfixiado pela fumaça. Me faz lembrar do que causamos.
Ela parece lidar com isso melhor do que eu, mas ainda é nítido seu desconforto quando alguém cita o assunto, mesmo que ela não encontre uma forma de sair de perto como eu. Ela permanece ali, fingindo, apertando a própria palma da mão, como já a vi fazer diversas vezes, e eu não consigo ser forte assim. Tenho a necessidade de fugir e tentar controlar meus demônios sozinha dentro do dormitório, fingindo estar doente para que minha colega de quarto não me questione, como ela está prestes a fazer agora.
— Ei, Mila – ela me chama, enquanto descemos a enorme escadaria que levava até o prédio das salas de aulas –, você está bem mesmo? Ficou o domingo inteiro dentro do quarto.
Hoje já era segunda de manhã, e eu me obriguei a ficar bem sobre isso, me prometendo que descontarei tudo o que senti no final de semana com algum dos garotos do time, que me darão mole no treino de hoje, e finalmente terão seus desejos realizados. Ou para alguma das garotas da Gales.
— Estou bem, Dinah, sério – eu cumprimento com um sorriso o trio de garotas que acenam pra mim, próximas aos armários –, só estava morrendo de ressaca, bebi demais no sábado.
— Uma pena eu não ter conseguido ir, estava precisando disso também, mas Normani não me perdoaria se eu furasse nosso encontro – ela se lamenta, e eu concordo. – Mas me conta, como foi? Nem conversamos ontem.
Conheci Dinah esse ano, quando ela se mudou para meu quarto, após minha antiga colega de quarto ser expulsa por tentar agredir uma menina com uma faca durante o baile formatura. Se eu for ser honesta, nunca tinha reparado nela antes, porque não levamos a mesma vida social, uma vez que Dinah fazia parte do grupo de teatro e eu nunca, em hipótese alguma, pisaria dentro daquele lugar –na minha opinião, todos são meio loucos, uns por plantas, outros por militância e outros por encenação. Com exceção de Dinah, claro, que virou uma das minhas amigas sinceras da Gales. Ela não ficava comigo durante as aulas, porque eu sempre estava com meu pessoal e nós não compartilhávamos os mesmos assuntos, mas conversarmos bastante quando chegamos no quarto. E ela fazia aulas de natação, também, o que eu considero legal o suficiente para bater de frente com as aulas de teatro, embora eu não faria nenhum dos dois.
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Bad Things
FanfictionLatina de curvas e beleza invejáveis, com uma personalidade duvidosa e uma fama igualmente questionável por todo o campus, Camila Cabello é capitã das líderes de torcida da Gales University. Poderia se dizer que sua vida era perfeita, afinal, tinha...