Capítulo 05 - Versões daquela noite.

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— Nós chegamos na festa do Machine por volta das nove, e ficamos até umas meia-noite

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— Nós chegamos na festa do Machine por volta das nove, e ficamos até umas meia-noite. Estávamos muito bêbadas, e mesmo assim arriscamos pegar o carro, e você me perguntou se eu queria "intensificar a noite". Eu aceitei, então paramos próximas à igreja e ficamos do outro lado da rua, dentro do carro, enquanto você tentava me explicar que aquela era uma droga nova, que estava saindo muito. Me lembro vagamente que você explicou o que continha dentro dela, para que eu estivesse ciente do que estava tomando, mas eu não entendi nada, e disse que confiava em você.

Há uma pausa nas minhas palavras, porque sinto uma pontada no peito. Nosso grupo de amigos era composto por pequenos outros grupos. Tinha todo o pessoal, que chegam a ser oito, mas Harry, Miley, Ashley, Lauren e eu éramos os mais próximos. E, dentro desse quinteto, Lauren e eu éramos uma dupla. Nos tornamos próximas desde o início, e eu me lembro muito bem de como eu colocaria minha vida nas mãos dela naquela época, de tanto que minha confiança era imensa. Me lembro também de como minha vida realmente esteve em suas mãos nesse dia.

— Nós tomamos, e acho que se passou uns cinco minutos até que aquele grupo chegasse. Até então não estávamos sentindo nenhum efeito da droga, e eles pareciam estar se divertindo tanto ali do outro lado da rua, com uma caixa de som e bebidas na mão, então, não satisfeitas com a desenvoltura da nossa noite, a gente resolveu sair do carro e perguntar se podíamos beber com eles – eu solto uma risada sem humor, porque fomos tão estúpidas. Já tínhamos bebido muito, e tínhamos acabado de ingerir uma droga que ainda não tinha feito efeito. – Depois disso algumas coisas começaram a se distorcer, mas eu ainda me lembro da maioria. A primeira coisa que senti foi meio que uma queda de pressão, parecia que alguém tinha me acertado algo na cabeça, e eu esqueci completamente como já estávamos rindo e conversando com aquele grupo como se fossemos amigos de época. Eram quatro meninos e duas garotas, com exceção de nós – vejo Lauren franzir o cenho assim que digo isso, mas tento continuar focada na história –, todos pareciam ter a nossa idade, e mesmo que eu não saiba como e por quanto tempo ficamos ali com eles, bebendo, eu sei que eu estava muito feliz, e meu corpo pedia por adrenalina. Era como se tudo meio que acontecesse em câmera lenta, e eu estava bem mais sensitiva, tanto com cores, cheiros e toques. Mas bem, seguindo com a história, uma das garotas, a de cabelo vermelho propôs que continuassemos o que estávamos fazendo dentro da igreja, que seria divertido ter aquele lugar só pra gente, e até poderíamos dormir ali, já que ela não estava sendo utilizada. Nós combinamos de ir, mas que não ficaríamos por muito tempo, e iríamos para sua casa depois, e então nós entramos junto com eles. Nós entramos pelos fundos, por uma porta caindo pelos pedaços, e encontramos umas velas lá dentro que usamos para iluminar o segundo andar, onde ficamos. Brincamos de verdade ou desafio, e eu me esquecia de todos os acontecimentos com muita frequência, e só sabia que estávamos jogando aquilo por causa das perguntas. Eu estava gostando do jogo, estava rindo como nunca tinha feito na minha vida, e me lembro que você tava feliz também. Os desafios, mesmo que envolvessem só a gente, estavam muito pesados, com cenas eróticas e tudo mais envolvido, e até então não estávamos ligando porque ainda não tínhamos feito nenhum, só escolhiamos verdade, e eles não nos envolveram nos desafios, até que um deles fez. Lembro que a consequência era da garota de cabelo vermelho, e ele a desafiou a chupar o seio de alguém da roda, e ela te escolheu. Foi quando decidimos que era melhor ir embora, porque mesmo que estivéssemos muito entorpecidas, ia ser desconfortável. Os meninos contestaram, pediram para ficarmos mais, para virarmos a noite, e dissemos que já tínhamos planos. A garota do cabelo vermelho pediu para você deixar as drogas então, já que eles nos deram as bebidas, podíamos dar isso em troca, e você negou. Eu falei para você entregar, que depois eu mesma te devolvia, porque a bad-trip começou a bater por causa do pressentimento ruim e eu só queria queria que fossemos embora, mas você não deu o braço a torcer, pegou na minha mão e começou a me levar pra fora, foi quando um deles arremessou a vela próximo à parede em que estávamos passando. A igreja era toda feita de madeira, e tínhamos derrubado muita bebida sem querer, e o fogo se alastrou rapidamente. Depois disso eu só lembro da cor forte das chamas me cegando, da fumaça entrando no meu nariz, e do vulto daquelas pessoas saindo, atropelando a gente. Conseguimos chegar até o primeiro andar antes da escada começar a romper, mas o garoto que morreu não teve tanta sorte assim. Ele caiu junto com os escombros, e eu já conseguia ouvir bem distante o barulho das sirenes. Eu o ouvi pedir por socorro, e enquanto eu tentava correr até ele, para ajudar, você me puxava para fora. A fumaça já estava me asfixiando ali dentro, mas eu ainda queria salvar ele, e você não deixou. Conseguiu me tirar de lá, me enfiar no carro, e saímos antes que os bombeiros chegassem. Nós brigamos depois, porque você não me deixou salvar a vida daquele garoto. Foi isso.

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