Capítulo 10 - Rompimento.

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Eu ignoro a culpa que Camila jogou em mim novamente, e ignoro também o fato de que ela estava dentro do carro me esperando para ir embora

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Eu ignoro a culpa que Camila jogou em mim novamente, e ignoro também o fato de que ela estava dentro do carro me esperando para ir embora. Junto forças para ignorar aquela homenagem, e obrigo minha mente a focar apenas na igreja, e toda informação que eu tinha daquela noite, incluindo a versão de Camila dos fatos.
Todas as janelas estão arrancadas, e foram substituídas por tábuas de madeira, assim como a porta da frente, o que bateria com a minha versão, já que eu me lembro que o casal que estava conosco pulou a janela, e Mason também tentou, exatamente na abertura onde seu memorial está embaixo, mas acho que isso é coincidência, porque não tinha como saber com certeza que ele fez a tentativa, já que, desde onde me lembro, Mason não chegou a quebrar o vidro.

Camila não gritou ou me convocou novamente para sua bolha de ódio quando comecei a me afastar, rumo aos fundos da igreja. Embora estar aqui, encarar essa estrutura queimada, o memorial de Mason e saber que participei de tudo seja difícil, eu não quero voltar a pisar neste lugar, então preciso garantir que minha cabeça recolha o máximo de informações possíveis.
Quando paro em frente às portas dos fundos, ela também está coberta pelas tábuas e as faixas policiais, mas isso não me ajuda como pensei. Camila disse que entramos por aqui, e em ambas as nossas versões, saímos por este mesmo lugar. Isso é uma missão impossível.

E então, uma luz surge repentinamente na minha cabeça.

Tudo que precisamos fazer é conferir se os bancos ainda estão inteiros lá dentro, porque, na minha versão, nós quebramos a maioria, então caso...

O fogo.

Eu solto um suspiro frustrada quando me lembro das chamas. Não haveria nenhum banco ali, porque tudo deve ter virado cinzas.

— Que droga! – Eu chuto alguns gravetos quebrados que estavam no chão, e me ponho de joelhos para apertar os fios do meu cabelo com força, querendo arranca-los e levar esse maldito dia embora junto.

Isso é uma missão impossível.

Camila e eu não conversamos durante todo o caminho de volta, e, se eu for ser bem honesta, também não queria que o fizéssemos. Camila está relutante, e eu estou frustrada e angustiada, querendo soltar o que meu peito grita.

As imagens de Mason queimando na minha frente ficam reprisando na minha cabeça, como um filme, e sei que ele vai me aterrorizar hoje quando fechar os olhos. Tudo em mim grita em busca de consolo, amparo, cuidado, cura, e eu não consigo dar atenção a nenhuma delas, e o dorso da minha mão paga o preço por isso. Eu mordisco minha própria pele até pararmos no estacionamento da Gales, deixando que doa, que me faça sentir mais do que só esse sufoco.

Não vou mentir, eu estava conseguindo superar isso de uma forma consideravelmente boa. Ainda tenho os pesadelos com aquela noite, ainda me assunto toda vez que vejo uma chama que não seja produzida pelo meu próprio isqueiro, tenho pavor de qualquer faísca que se acenda próximo à madeira, e não me sinto confortável em lugares fechados, sem nenhuma fonte de ventilação, porque sinto que vou queimar por dentro. Nada disso eu tinha antes daquela noite, mas a questão é que eu não parei no tempo como Camila, eu ainda consigo manter a calma quando alguém fala sobre esse incêndio perto de mim ou comigo, e não sair correndo desesperada, como ela faz.

Bad ThingsOnde histórias criam vida. Descubra agora